Celebrar
os mistérios de Cristo, do ponto de vista teológico litúrgico, não é apenas
“lembrar” o que Jesus fez por nós e, menos ainda, acompanhar a biografia de
Jesus, iniciando no Natal, quando nasceu, terminando na sua volta ao Pai, na
Ascensão. Ano Litúrgico não é isso. Não se trata, tampouco, de repetir em ritos
o que Jesus realizou uma vez para sempre. O Ano Litúrgico, através das
celebrações, torna atual e insere os celebrantes na mesma eficácia salvífica do
gesto histórico realizado por Jesus Cristo. Assim, por exemplo, aquele momento
histórico da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, que favoreceu a
reconciliação com Deus tem, no momento celebrativo, a mesma eficácia, a mesma
ação e dinâmica salvífica através da celebração litúrgica.
Um
belo fundamento encontra-se na Constituição Sacrosanctum Concilium (SC 7) descrevendo
a visão da Igreja sobre a Liturgia: “Disto se segue que toda a celebração
litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu corpo, que é a Igreja, é uma
ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada
por nenhuma outra ação da Igreja.” A compreensão do acontecimento memorial
no Ano Litúrgico, está ainda mais aprimorada na SC 102: “Relembrando
destarte os Mistérios da Redenção, franqueia aos fiéis as riquezas do poder
santificador e dos méritos de seu Senhor, de tal sorte que, de alguma forma, os
torna presentes em todo o tempo, para que os fiéis entrem em contato com eles e
sejam repletos da salvação.”
Compreende-se
assim que a espiritualidade litúrgica se alimenta diretamente do Mistério
Pascal de Cristo, isto é, do projeto divino realizado por Jesus Cristo no mundo
e atualizado na celebração litúrgica, em qualquer momento da História.
Diferentemente de espiritualidades baseadas em devoções, por exemplo, a
espiritualidade litúrgica alimenta-se diretamente na e da Salvação divina
realizada por Jesus Cristo e faz com que os celebrantes participem e comunguem
desta realidade salvífica com sua eficácia.
Serginho
Valle
Novembro
de 2020
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