7 de nov. de 2020

Dois modos de compreender o Ano Litúrgico

 

Um modo muito simples, mas bem revelador para compreender o Ano Litúrgico da Igreja é a frase título de um livro do liturgista italiano Aldo Bergamini: “Cristo, festa da Igreja”. O autor escreve que celebrar o Mistério Pascal de Jesus Cristo, no tempo, é “trazer” Jesus Cristo, com sua salvação, aos nossos dias. A atualização da atividade salvífica de Jesus Cristo, no hoje da história, fundamenta-se na Teologia do memorial.

Em sua Teologia do Ano Litúrgico, Bergamini diz que o Ano Litúrgico é Sacramento e, por isso, é memorial de Jesus Cristo agindo no nosso hoje. Considera-se assim que o Ano Litúrgico não é um calendário de celebrações, é a grande e única celebração de Jesus Cristo nas diferentes celebrações que a Igreja realiza no tempo. Jesus Cristo está presente nas ações litúrgicas da Igreja e continua agindo com a mesma eficácia salutar daquele tempo histórico, quando estava neste mundo, pela ação do Espírito Santo que ele mesmo enviou, como tinha prometido (Jo 14,16-17).

Outro liturgista italiano, Salvatore Marsili, teólogo beneditino, um dos principais protagonistas da reforma litúrgica do Vaticano II, nos anos 60, define o Ano Litúrgico como a ação salvífica de Jesus Cristo na história atual. Na prática, não difere em nada da definição de Aldo Bergamini, que foi aluno de Marsili. Num de seus artigos, na “Rivista Liturgica”, Marsili diz que o Ano Litúrgico é Jesus Cristo agindo no tempo e formando os cristãos para o momento histórico que se está vivendo. O enfoque de Marsili ilumina a ação salvífica de Jesus Cristo no tempo e destaca a atividade de Jesus Mestre. Destaca a dimensão pedagógica do Ano Litúrgico.

Se você ler os livros dos dois autores, não perceberá diferença na Teologia de Marsili e Bergamini. Mesmo assim, é interessante perceber a nuance que caracteriza o Ano Litúrgico como celebração do Mistério Pascal de Jesus Cristo e como pedagogia que introduz os celebrantes no Mistério Pascal de Jesus Cristo.

São enfoques confluentes quanto a ação de Cristo no Ano Litúrgico: a presença salvífica do Mistério Pascal em nosso hoje e sua dinâmica transformadora da história, em cada época e cultura. Na primeira definição, Bergamini ressalta o valor litúrgico-celebrativo do Ano Litúrgico acentuando a teologia do memorial. Marsili, por sua vez, destaca o Ano Litúrgico na dimensão salvífica e pedagógica, como tempo de formação do discipulado de Cristo. Ambas são visões importantes para compreender a formação espiritual na vida cristã a partir do Ano Litúrgico.

Serginho Valle

Novembro de 2020

 

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