5 de set. de 2020

Matrimônio: sacramento da aliança com Deus

A Bíblia, em várias passagens, compara a aliança entre Deus e a humanidade a um casamento. Vários profetas se serviram do casamento para mostrar o amor de Deus para com povo. Oséias, um dos primeiros a usar a imagem do casamento como símbolo da aliança entre Deus e o povo, casa-se com uma prostituta para evidenciar a traição da aliança da parte do povo (Os 1,1-12)0. Mesmo conhecendo a traição de Gomer, Oséias continua amando-a; sinal do amor fiel, da parte de Deus, pelo povo que havia se prostituído com ídolos e falsos deuses (Is 1,21; Jr 2,2; Ez 16; Ez 23).          

O símbolo da aliança de Deus com seu povo também tem seu lado positivo. Ao ver seu povo errante, Deus promete “desposá-lo” com a mesma alegria de um noivo apaixonado para que nunca mais seja considerado desamparado e não amado. “Assim como um jovem desposa uma jovem, assim eu te desposarei, diz o Senhor” (Is 62,4-5).

Jesus, na conversa com a samaritana, também compara o casamento à aliança com Deus (Jo 4,1-26. Aquela mulher, a exemplo de Gomer, tornou-se símbolo de um povo que abandonou a aliança com Deus para buscar a vida em outros deuses, na idolatria. Por isso, não tinha marido; não tinha um compromisso de vida, não tinha uma aliança de amor com quem lhe podia amar verdadeiramente e trazer felicidade para sua vida.

A comparação do casamento como sacramento da aliança do povo com Deus inicia o anúncio do Reino comparando a presença do Messias no meio do povo a uma festa de casamento (Mt 22,1-14) e define-se, ele próprio, como o esposo (Jo 3,29) para demonstrar que a aliança com Deus se realiza plenamente na sua pessoa. Não é sem motivo que João tenha localizado o início dos sinais de Jesus numa festa de casamento, em Caná (Jo 2,1-22). Mais tarde, São Paulo tratará do mesmo tema em vários textos, como por exemplo: 2Cor 11,2; Ef 5,25-33. Por fim, João como que fecha a relação matrimônio-aliança anunciando a consumação da aliança nas bodas eternas, em Ap 21,2.  

 

Celebrar o Matrimônio como profecia na sociedade

Até mesmo com uma exposição simples e rápida, como estou propondo, é possível compreender que a Liturgia do Matrimônio continua sendo celebração profética da renovação da aliança da humanidade com Deus. A Pastoral Litúrgica e a Liturgia Pastoral tem o dever de ficar atentos para que esta fundamentação Bíblico-teológica fica escondida em ritos sociais quase sempre teatralizados, sem respaldo Bíblico e espiritual.

A aliança com Deus pode ser descrita nestes termos: Deus se declara o único Deus do povo e o povo o aceita, rejeitando tudo o que for idolatria e falsos deuses. A celebração matrimonial, em tal contexto, é celebração profética, é celebração de fidelidade de Deus para com o povo representada e juramentada em aliança na vida de um homem e de uma mulher. Em cada Matrimônio celebrado na Liturgia, o casal é abençoado com o dom do amor, com a graça da transmissão da vida. Dom do amor e transmissão da vida são as consequências de quem vive na fidelidade à aliança com Deus.

Em cada celebração matrimonial, a Igreja e toda a sociedade encontram-se diante da mesma profecia, iniciada no início, a favor da fidelidade que só pode acontecer no amor e pelo amor em vista da geração da vida. Cada celebração matrimonial é a renovação da proposta divina de continuar desposando o seu povo e, ao mesmo tempo, compromisso humano de continuar fecundando a terra com a vida. Tudo isso com a bênção protetora e amorosa de Deus.

Esta dimensão do Matrimônio como sacramento de fidelidade da aliança entre Deus e a humanidade encontra-se no rico Lecionário do Rito Matrimonial. Disso a importância de ajudar os noivos a tomar conhecimento da realidade sacramental de suas vidas vivenciada na fidelidade. A preparação próxima da celebração do casamento, além de prever os detalhes rituais, poderá contar com uma reflexão Bíblica de um texto do Lecionário do Ritual do Matrimônio. Reflexão a ser feita com os noivos e com quem presidirá a celebração Matrimonial.

Serginho Valle

Agosto de 2020

 

 
 

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