12 de set. de 2020

Celebração Litúrgica: experiência de encontro com Jesus

O episódio de Jesus Cristo com a samaritana, narrado por João (Jo 4,5-42), tem as características de uma celebração do encontro de Deus com a humanidade. Jesus acolheu a samaritana com seus pecados e seu modo de entender sua relação com Deus. Um acolhimento que fez da samaritana a porta para Jesus entrar na comunidade onde ela morava. Foi depois de uma celebração acolhedora e vivencial que a comunidade de Sicar conheceu e acolheu Jesus e o Evangelho. No final eles diziam: “já não cremos porque você nos falou, mas porque nós mesmos vimos suas obras” (Jo 4,42).

A experiência de encontro com o Senhor é o ponto alto de nossas celebrações. Uma celebração é bonita, animada, cheia de unção quando favorece a experiência com o Senhor, quando leva os celebrantes a envolverem-se com o Senhor a ponto de assumir o projeto de Jesus Cristo e os valores do Reino de Deus.

 

Levar Jesus para dentro da comunidade

          Mas, eis um ponto que merece atenção. Em que consiste, do ponto de vista litúrgico, fazer experiência de Jesus Cristo? Um descuido nesse sentido poderá provocar celebrações sentimentais, valorizando o alívio sentimental provocado por músicas, abraços, fechar os olhos, dançar, luzes de penumbra, mensagens... Tudo isso tem seu valor e pode servir como porta para o encontro com Cristo; o problema está quando isso não evolui para a vida concreta, quando a experiência não é partilhada na comunidade, como fez a samaritana.

Que a celebração emociona, não resta dúvida. A samaritana ficou tão emocionada com o encontro de Jesus que saiu correndo contando e convidando todos para conhecer Jesus. Aquele momento de contentamento ou de consolo emocional transformou-se em testemunho de anúncio e em convite para conhecer Jesus e o Evangelho.

Em Sicar, o encontro dos samaritanos foi com o Jesus histórico, que podia ser visto e tocado. Na Liturgia, o encontro com Jesus acontece com símbolos, sinais, gestos e pessoas. Professamos que o Senhor está no meio de nós repetindo várias vezes: “Ele está no meio de nós.” Pois bem, o desafio maior não está em crer na presença de Cristo na Liturgia, mas em tornar nossas celebrações encontros e experiências vivas com o Senhor, a ponto de tornarem a porta para o Senhor entrar e se tornar presente na comunidade.

 

Experiência pela vida dos celebrantes    

Na celebração do encontro de Jesus com a samaritana, o contexto celebrativo daquele encontro envolvia a sede, a necessidade de tirar água do poço e o contato com a vida da samaritana. Jesus atingiu a vida da samaritana. Depois, Jesus entrou na cidade e ali “ficou com eles dois dias” (Jo 4,40). Existe o contexto celebrativo da comunhão entre Jesus com o povo da cidade. O povo comungou a presença viva de Jesus na comunidade. Uma comunhão que não ficou parada no poço, não ficou parada na Missa celebrada na Igreja; foi para o meio do povo. A experiência só pôde acontecer na vida dos samaritanos porque Jesus entra na comunidade. Não o ouvir falar, mas o acolher e o conviver com Jesus. Eis o grande desafio de nossas celebrações.

Jesus está presente em nossas celebrações; este é um aspecto. É importante considerar outro aspecto: aquele que produz, do encontro com Jesus Eucarístico, encontro com o Jesus na fraternidade: “tudo que fizeres ao menor dos meus irmãos é a mim que fazeis” (Mt 25,40). Do mesmo modo como Jesus e a comunidade de Sicar se acolheram mutuamente, do mesmo modo como Jesus entrou na comunidade de Sicar, assim nossas celebrações litúrgicas contém a dinâmica de favorecer o encontro com Jesus Cristo e, igualmente, enviar e favorecer o encontro com o mesmo Jesus Cristo presente no próximo.

É importante reconhecer que nossas celebrações contém a dinâmica, quer dizer, a força para favorecer a experiência com Cristo e enviar os celebrantes a assumir o compromisso pelo Reino de Deus na vida da comunidade. Caso isso não aconteça com as celebrações é importante avaliar porque a dinâmica não está produzindo o mesmo efeito que produziu na vida da samaritana, de voltar à comunidade para testemunhar fraternalmente a presença de Jesus. O desafio é justo, pois seja no poço de Sicar como na celebração litúrgica “ele está no meio de nós!”

Serginho Valle

Agosto de 2020

 

 

 

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