O episódio de Jesus Cristo com a samaritana, narrado por João (Jo 4,5-42), tem as características de uma celebração do encontro de Deus com a humanidade. Jesus acolheu a samaritana com seus pecados e seu modo de entender sua relação com Deus. Um acolhimento que fez da samaritana a porta para Jesus entrar na comunidade onde ela morava. Foi depois de uma celebração acolhedora e vivencial que a comunidade de Sicar conheceu e acolheu Jesus e o Evangelho. No final eles diziam: “já não cremos porque você nos falou, mas porque nós mesmos vimos suas obras” (Jo 4,42).
A experiência de
encontro com o Senhor é o ponto alto de nossas celebrações. Uma celebração é
bonita, animada, cheia de unção quando favorece a experiência com o Senhor,
quando leva os celebrantes a envolverem-se com o Senhor a ponto de assumir o
projeto de Jesus Cristo e os valores do Reino de Deus.
Levar
Jesus para dentro da comunidade
Mas, eis um ponto que merece atenção. Em que consiste, do ponto de vista litúrgico,
fazer experiência de Jesus Cristo? Um descuido nesse sentido poderá provocar
celebrações sentimentais, valorizando o alívio sentimental provocado por
músicas, abraços, fechar os olhos, dançar, luzes de penumbra, mensagens... Tudo
isso tem seu valor e pode servir como porta para o encontro com Cristo; o
problema está quando isso não evolui para a vida concreta, quando a experiência
não é partilhada na comunidade, como fez a samaritana.
Que a celebração
emociona, não resta dúvida. A samaritana ficou tão emocionada com o encontro de
Jesus que saiu correndo contando e convidando todos para conhecer Jesus. Aquele
momento de contentamento ou de consolo emocional transformou-se em testemunho
de anúncio e em convite para conhecer Jesus e o Evangelho.
Em Sicar, o
encontro dos samaritanos foi com o Jesus histórico, que podia ser visto e
tocado. Na Liturgia, o encontro com Jesus acontece com símbolos, sinais, gestos
e pessoas. Professamos que o Senhor está no meio de nós repetindo várias vezes:
“Ele está no meio de nós.” Pois bem, o desafio maior não está em crer na
presença de Cristo na Liturgia, mas em tornar nossas celebrações encontros e experiências
vivas com o Senhor, a ponto de tornarem a porta para o Senhor entrar e se tornar
presente na comunidade.
Experiência
pela vida dos celebrantes
Na celebração do
encontro de Jesus com a samaritana, o contexto celebrativo daquele encontro
envolvia a sede, a necessidade de tirar água do poço e o contato com a vida da
samaritana. Jesus atingiu a vida da samaritana. Depois, Jesus entrou na cidade
e ali “ficou com eles dois dias” (Jo 4,40). Existe o contexto
celebrativo da comunhão entre Jesus com o povo da cidade. O povo comungou a
presença viva de Jesus na comunidade. Uma comunhão que não ficou parada no
poço, não ficou parada na Missa celebrada na Igreja; foi para o meio do povo. A
experiência só pôde acontecer na vida dos samaritanos porque Jesus entra na
comunidade. Não o ouvir falar, mas o acolher e o conviver com Jesus. Eis o
grande desafio de nossas celebrações.
Jesus está
presente em nossas celebrações; este é um aspecto. É importante considerar
outro aspecto: aquele que produz, do encontro com Jesus Eucarístico, encontro
com o Jesus na fraternidade: “tudo que fizeres ao menor dos meus irmãos é a
mim que fazeis” (Mt 25,40). Do mesmo modo como Jesus e a comunidade de
Sicar se acolheram mutuamente, do mesmo modo como Jesus entrou na comunidade de
Sicar, assim nossas celebrações litúrgicas contém a dinâmica de favorecer o
encontro com Jesus Cristo e, igualmente, enviar e favorecer o encontro com o
mesmo Jesus Cristo presente no próximo.
É importante
reconhecer que nossas celebrações contém a dinâmica, quer dizer, a força para
favorecer a experiência com Cristo e enviar os celebrantes a assumir o compromisso
pelo Reino de Deus na vida da comunidade. Caso isso não aconteça com as
celebrações é importante avaliar porque a dinâmica não está produzindo o mesmo
efeito que produziu na vida da samaritana, de voltar à comunidade para
testemunhar fraternalmente a presença de Jesus. O desafio é justo, pois seja no
poço de Sicar como na celebração litúrgica “ele está no meio de nós!”
Serginho Valle
Agosto de 2020
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