Num
texto anterior, trabalhamos as dificuldades que podem surgir dentro da própria
comunidade quanto a organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP). Mas,
como nenhuma comunidade pode estacionar no tempo, dando ouvidos a quem se
contenta com a mesmice de sempre, é interessante considerar os motivos para se
ter uma PLP organizada.
Estruturação e organização da Pastoral
Litúrgica na Igreja
A organização da Pastoral Litúrgica
nas comunidades, a PLP, em sentido amplo, é parte de uma organização maior. O
que temos nas comunidades é uma organização de base, e na base, por assim
dizer.
O primeiro estágio dessa organização
encontra-se em Roma, na Santa Sé, com a Sagrada Congregação para o Culto
Divino. Depois, em nível de América Latina, o CELAM tem um departamento que se
ocupa de Liturgia. No Brasil, existe a Dimensão Litúrgica da CNBB.
Aproximando-nos um pouco mais das comunidades, cada Diocese deverá ter sua
Equipe Litúrgica Diocesana e, em nível de Paróquia, cada comunidade paroquial
terá uma Equipe Litúrgica Paroquial.
Naquilo que atinge mais de perto as
comunidades, a Constituição Litúrgica Sacrosanctum Concilium sugere que a
Equipe Litúrgica Diocesana seja dividida em três setores: a Liturgia enquanto
comporta a formação e as orientações celebrativas; a Equipe Litúrgica Diocesana
de Música, encarregada de tudo aquilo que se refere à arte musical da Diocese e
a Equipe Litúrgica Diocesana da Arte Sacra que, mesmo podendo ser independente
daquela, zela sobre as obras artísticas da Diocese, além de atuar como
consultores, no momento da construção de igrejas e locais destinados ao culto
divino. (Cf. SC 43-46). Dito isto, vamos considerar alguns motivos para a organização
da PLP.
1
– A Liturgia é o cume das ações da Igreja
O primeiro motivo diz respeito à
importância da Liturgia para a Igreja. A este propósito, diz a Sacrosanctum
Concilium: “Toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu
corpo que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no
mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7).
Sendo assim, supõe-se que não se pode tratar a Liturgia
como uma atividade dentre outras, na comunidade, mas como aquilo que é: “a mais
importante dentre todas as ações da Igreja”. Não se trata de transformar tudo
em liturgia, alertado pela SC 9, mas dar, sim, o devido valor como atividade primordial
e fontal na vida da Igreja. Não se pode tratar a Liturgia de qualquer modo, uma
vez que celebrar a Liturgia é sempre ato memorial, isto é, atualização da Salvação
divina em nosso hoje.
2
– Presença de Cristo
Outro motivo é a presença e a ação
de Jesus Cristo nas ações litúrgicas. Jesus Cristo está presente nas atividades
missionárias, catequéticas, caridosas que são realizadas em nossas comunidades,
contudo, na Liturgia, Jesus Cristo age “in persona”; é ele quem anuncia o Evangelho,
quem batiza, crisma, reparte a Eucaristia, reza e oferece o culto espiritual ao
Pai (Cf. SC 7). Sendo assim, não se pode admitir que a Liturgia seja celebrada
de qualquer jeito. Um motivo importantíssimo para que façamos bem e preparemos
bem todas as ações litúrgicas da comunidade.
3
–Afluência do povo
As celebrações litúrgicas, do ponto
de vista pastoral, é um momento no qual o padre ou o responsável da comunidade
(onde não há padre) tem o maior contato com o seu povo. Muitos dos celebrantes
têm contato com o padre de vez em quando. Contudo, no momento da celebração, o
padre tem um contato privilegiado com a maior parte do povo que lhe foi
confiado. É importante e, diria mais, necessário, que o padre exerça com
dignidade, com respeito e com competência as presidências litúrgicas a fim de
ter um contato qualificado com seu povo.
Junto a isso, considero aqueles
“cristãos de ocasião”, que aparecem para algum ato especial na igreja e na
comunidade: casamento, batizado, Missa de 7o dia... É a oportunidade
do padre para conversar com essa gente e propor-lhes o caminho do discipulado
nas estradas do Evangelho.
Você concorda comigo que em tais circunstâncias
não se pode fazer qualquer coisa e de qualquer modo. É preciso que seja feito
bem feito, sem a sensação da improvisação de quem faz para descumprir-se de
alguma tarefa da qual foi incubido. Para tal fim, a organização da PLP é
imprescindível.
4
– Linguagem da celebração litúrgica
Trago a linguagem litúrgica como
quinto motivo para se organizar bem a Pastoral Litúrgica na comunidade. A razão
é que nossa Liturgia é sóbria e breve, e para realizá-la assim, breve e
sobriamente, é preciso preparação e, mais que simples distribuição de tarefas,
necessita uma boa e acurada preparação. Em assim não se fazendo, entende-se que
celebrações mal preparadas, ou não preparadas, tornam-se prolixas, transformadas
em falação e cantorias.
Como se vê, quanto mais simples for
um processo comunicativo e, quanto mais conhecido é este processo de
comunicação, como é o caso da Missa, mais necessária se faz uma boa preparação.
Não se trata de arranjar uma novidade para cada Missa, ou para celebrações
sacramentais, mas ter uma linha condutora que ajude os celebrantes a celebrar
bem, de modo breve e sóbrio com a linguagem litúrgica.
5
– Improvisação é sinal de desleixo
Como já escrevi no meu livro sobre a
Pastoral Litúrgica, quando se percebe em uma celebração que ninguém sabe ao
certo o que fazer, como fazer... a celebração já começa com rumores e, fácil
deduzir, começa mal.
Alguns padres têm a estranha ideia
que tudo deve ser feito no improviso e que o Espírito Santo é que vai
“soprando” as inspirações para cada momento. Eles esquecem que Deus é
organizado e preparou por milhares de anos a vinda de Jesus ao mundo. Jesus
mesmo preparou todo o processo do discipulado, até que veio o Espírito Santo
para fazer a Igreja caminhar, no dia de Pentecostes. Ora, se isso é observável
na História da Salvação, que celebramos na Liturgia, a improvisação é um
contratestemunho que precisa ser evitado a todo custo. Celebração não se
improvisa.
Cinco
motivos para se favorecer e incentivar a criação de uma Pastoral Litúrgica
Paroquial atuante e eficaz.
Serginho Valle
Novembro de 2017
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