Por isso, a Igreja não cessa de solicitar a nobre
contribuição das artes e admite as expressões artísticas de todos os povos e
regiões. Ainda mais, assim como se esforça por conservar as obras e tesouros
artísticos legados pelos séculos precedentes e, na medida do necessário,
adaptá-las às novas necessidades, também procura promover formas novas que se
adaptem à índole de cada época.
Portanto, nos programas propostos aos artistas,
bem como na seleção de obras a serem admitidas na igreja, procure-se uma
verdadeira qualidade artística, para que alimentem a fé e a piedade e
correspondam ao seu verdadeiro significado e ao fim a que se destinam.
Sobre
o espaço celebrativo, a IGMR 289 inicia convidando os artistas e todas as artes
para participarem da organização e do embelezamento do espaço celebrativo. Convite
feito especialmente a arquitetos, engenheiros, construtores, escultores,
pintores. Todos, em forma de interdisciplinaridade, trabalhando para uma mesma
finalidade: criar um espaço agradável, acolhedor e, principalmente celebrativo.
Engenheiros
que não compreedem a dinâmica celebrativa tendem a construir um salão com um
local elevado, em forma de palco, para dispor o altar e o ambão. O mesmo
acontece com arquitetos que, por não conhecer as exigências celebrativas se
descuidam dos vários espaços que as diferentes celebrações litúrgicas exigem,
considerando que um espaço celebrativo não comporta somente a celebração
Eucarística. Nestes casos, não poucas vezes, depois de construídas, se fazem
necessárias adaptações, as vezes grotescas, boicotando a arte e a beleza do
espaço celebrativo, como pede a IGMR 289.
Preservar e promover a arte
A
reforma litúrgica orienta a preservar a arte litúrgica de outros tempos. Isto
vale para as igrejas antigas, especificamente aquelas que são verdadeiros
monumentos arquitetônicos. A orientação vale igualmente para altares, ambões e
batistérios que primam pela beleza e pelo bom gosto da arte. Inclui-se nesta
lista atenção especial para imagens e para pinturas, bem como as decorações com
simbologias litúrgicas ou bíblicas.
Além
disso, a Igreja pede que a arte que representa a cultura e a índole de cada
povo seja expressa na arquitetura e no modo de representar o Mistério Pascal de
Cristo que é celebrado na Eucaristia e nos demais sacramentos. Esta é uma
recomendação, diga-se de passagem, que tem produzido um grande enriquecimento
na arte litúrgica em termos de qualidade para os nossos tempos. Verifica-se
isso em muitas de nossas igrejas brasileiras, mas salta aos olhos a arte
litúrgica (diferente) em países africanos e asiáticos, com representações
próprias daquelas regiões da terra.
Três critérios
A Igreja, como sabemos, quando trata
de assuntos relacionados à Liturgia é muito criteriosa e cuidadosa. Não serve
qualquer coisa e não admite que o espaço celebrativo seja feito de qualquer
jeito. Além do critério da beleza, expresso pela arte, propõe ainda três
critérios: alimentar a fé, promover a piedade e corresponder ao verdadeiro
significado e ao fim a que se destinam.
O primeiro critério considera a
beleza da arte litúrgica como promotora da fé. Imagens ou figuras ou
representações que não alimentam a fé não servem para a igreja enquanto local
de culto e celebração do Mistério Pascal. Todo espaço celebrativo é convite
para crescer na fé, por isso deve comunicar a fé e, como toda verdadeira obra
de arte, deve ser uma “obra aberta”, no sentido de sempre se poder contemplar
algo novo naquela obra. É um desafio digno de ser encarado por verdadeiros
artistas e não por amadores.
O segundo critério é a promoção da
piedade. O ambiente formado pelo espaço litúrgico deve, principalmente e
especialmente, ser um convite a silenciar, a rezar e a se calar diante do
mistério. As antigas catedrais europeias, dependendo de cada época histórica,
construíam grandes espaços para que, ao se adentrar ali, se fizesse a
experiência da pequenez diante de Deus. O termo piedade, usado nesta IGMR 289,
tem a ver com o sentimento religioso diante de Deus, ao se entrar no espaço
celebrativo. Um espaço que não se aquieta somente nas celebrações, mas que
convida a quem ali entrar a calar-se para contemplar, rezar e silenciar. O
espaço celebrativo, quando bem feito, é um convite natural a silenciar.
Conversas e falações dentro do local onde celebramos nossa fé são sintomas de
que o espaço não está cumprindo bem sua função de cultivo à piedade.
Por fim, o terceiro critério é
corresponder o significado ao que se destina. Uma igreja é construída, em
primeiríssimo lugar, para ser uma referência da fé onde se celebra o Mistério
Pascal de Cristo. Não é um salão que se transforma em local celebrativo nos
fins de semana e em centro comunitário nos demais dias da semana. Não discuto
aqui a necessidade de muitas comunidades pobres, pois sei e conheço que também
elas sonham por um local que seja somente igreja. Não se pode, a título de
arrecadar fundos, transformar a igreja em sala de concertos ou coisas do
gênero. As comunidades constroem suas igrejas com a finalidade de terem um
local para rezar, para silenciar diante de Deus em qualquer hora do dia e onde,
principalmente, celebram sua fé.
Serginho Valle
2016
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