7 de out. de 2016

IGMR 289 – A arte no espaço celebrativo

Por isso, a Igreja não cessa de solicitar a nobre contribuição das artes e admite as expressões artísticas de todos os povos e regiões. Ainda mais, assim como se esforça por conservar as obras e tesouros artísticos legados pelos séculos precedentes e, na medida do necessário, adaptá-las às novas necessidades, também procura promover formas novas que se adaptem à índole de cada época.
Portanto, nos programas propostos aos artistas, bem como na seleção de obras a serem admitidas na igreja, procure-se uma verdadeira qualidade artística, para que alimentem a fé e a piedade e correspondam ao seu verdadeiro significado e ao fim a que se destinam.

Sobre o espaço celebrativo, a IGMR 289 inicia convidando os artistas e todas as artes para participarem da organização e do embelezamento do espaço celebrativo. Convite feito especialmente a arquitetos, engenheiros, construtores, escultores, pintores. Todos, em forma de interdisciplinaridade, trabalhando para uma mesma finalidade: criar um espaço agradável, acolhedor e, principalmente celebrativo.
Engenheiros que não compreedem a dinâmica celebrativa tendem a construir um salão com um local elevado, em forma de palco, para dispor o altar e o ambão. O mesmo acontece com arquitetos que, por não conhecer as exigências celebrativas se descuidam dos vários espaços que as diferentes celebrações litúrgicas exigem, considerando que um espaço celebrativo não comporta somente a celebração Eucarística. Nestes casos, não poucas vezes, depois de construídas, se fazem necessárias adaptações, as vezes grotescas, boicotando a arte e a beleza do espaço celebrativo, como pede a IGMR 289.

Preservar e promover a arte
A reforma litúrgica orienta a preservar a arte litúrgica de outros tempos. Isto vale para as igrejas antigas, especificamente aquelas que são verdadeiros monumentos arquitetônicos. A orientação vale igualmente para altares, ambões e batistérios que primam pela beleza e pelo bom gosto da arte. Inclui-se nesta lista atenção especial para imagens e para pinturas, bem como as decorações com simbologias litúrgicas ou bíblicas.
Além disso, a Igreja pede que a arte que representa a cultura e a índole de cada povo seja expressa na arquitetura e no modo de representar o Mistério Pascal de Cristo que é celebrado na Eucaristia e nos demais sacramentos. Esta é uma recomendação, diga-se de passagem, que tem produzido um grande enriquecimento na arte litúrgica em termos de qualidade para os nossos tempos. Verifica-se isso em muitas de nossas igrejas brasileiras, mas salta aos olhos a arte litúrgica (diferente) em países africanos e asiáticos, com representações próprias daquelas regiões da terra.  

Três critérios
            A Igreja, como sabemos, quando trata de assuntos relacionados à Liturgia é muito criteriosa e cuidadosa. Não serve qualquer coisa e não admite que o espaço celebrativo seja feito de qualquer jeito. Além do critério da beleza, expresso pela arte, propõe ainda três critérios: alimentar a fé, promover a piedade e corresponder ao verdadeiro significado e ao fim a que se destinam.
            O primeiro critério considera a beleza da arte litúrgica como promotora da fé. Imagens ou figuras ou representações que não alimentam a fé não servem para a igreja enquanto local de culto e celebração do Mistério Pascal. Todo espaço celebrativo é convite para crescer na fé, por isso deve comunicar a fé e, como toda verdadeira obra de arte, deve ser uma “obra aberta”, no sentido de sempre se poder contemplar algo novo naquela obra. É um desafio digno de ser encarado por verdadeiros artistas e não por amadores.
            O segundo critério é a promoção da piedade. O ambiente formado pelo espaço litúrgico deve, principalmente e especialmente, ser um convite a silenciar, a rezar e a se calar diante do mistério. As antigas catedrais europeias, dependendo de cada época histórica, construíam grandes espaços para que, ao se adentrar ali, se fizesse a experiência da pequenez diante de Deus. O termo piedade, usado nesta IGMR 289, tem a ver com o sentimento religioso diante de Deus, ao se entrar no espaço celebrativo. Um espaço que não se aquieta somente nas celebrações, mas que convida a quem ali entrar a calar-se para contemplar, rezar e silenciar. O espaço celebrativo, quando bem feito, é um convite natural a silenciar. Conversas e falações dentro do local onde celebramos nossa fé são sintomas de que o espaço não está cumprindo bem sua função de cultivo à piedade.
            Por fim, o terceiro critério é corresponder o significado ao que se destina. Uma igreja é construída, em primeiríssimo lugar, para ser uma referência da fé onde se celebra o Mistério Pascal de Cristo. Não é um salão que se transforma em local celebrativo nos fins de semana e em centro comunitário nos demais dias da semana. Não discuto aqui a necessidade de muitas comunidades pobres, pois sei e conheço que também elas sonham por um local que seja somente igreja. Não se pode, a título de arrecadar fundos, transformar a igreja em sala de concertos ou coisas do gênero. As comunidades constroem suas igrejas com a finalidade de terem um local para rezar, para silenciar diante de Deus em qualquer hora do dia e onde, principalmente, celebram sua fé.
Serginho Valle
2016





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