16 de dez. de 2016

Procissão ofertorial

Concluída a Liturgia da Palavra, tem início a Liturgia Eucarística com os celebrantes participando da procissão ofertorial Eucarística. Vamos considerar três dimensões teológicas da procissão ofertorial. Num outro momento, consideraremos a dimensão ritual com seu processo comunicativo. As três dimensões teológicas que vamos considerar são a Eucarística e a fraterna e a simbólica.

Dimensão Eucarística da procissão ofertorial
Sim, Trata-se de uma procissão ofertorial Eucarística porque os celebrantes se dispõem a oferecer, eucaristicamente, isto é, como ação de graças, os frutos da terra e do trabalho humano, como reza a oração da apresentação das oferendas feita pelo sacerdote. É, portanto, um rito de quem se aproxima do altar com suas oferendas para agradecer a Deus o alimento que ele concede vida à humanidade. É uma procissão que testemunha o reconhecimento de que Deus abençoa a terra e o trabalho humano para alimentar a vida. 
Algumas canções do repertorio litúrgico ofertorial cantam esta dimensão de ação de graças, como por exemplo a canção "Bendito seja Deus Pai".  Diz a primeira estrofe: Bendito seja Deus Pai, do universo criador. Pelo pão que nós recebemos, foi de graça e com amor.”
Este contexto da dimensão ofertorial Eucarística, de ação de graças, ajuda-nos a entender a inadequação de alguns símbolos e sinais que se veem em algumas procissões ofertoriais. Exemplo típico desse fato é o costume de levar cartazes com frases ou pensamentos. Um dos critérios na escolha de sinais e símbolos ofertoriais tem a ver com agradecimento pelo dom da vida.
Isto tem também um alcance espiritual, que pode ser mencionado na monição que motiva a procissão ofertorial de cada Missa. O Evangelho de cada celebração como que determina quem é convidado a participar da procissão ofertorial de modo digno e quem precisa deixar sua oferta diante do altar para primeiro se reconciliar com irmão (Mt 5,24). Assim, se o Evangelho relatar a multiplicação dos pães, quem não partilha o pão com o faminto não é um convidado digno para estar na procissão ofertorial. A motivação de que todos precisam entrar na procissão ofertorial, mesmo se não irão colocar dinheiro no cesto, é um analgésico piedoso, especialmente para quem, espiritualmente falando, não é digno de ofertar algo no altar por estar em débito com o que pede o Evangelho.


Dimensão fraterna da procissão ofertorial
Outra dimensão da procissão ofertorial tem a ver com a fraternidade. Aqui estou falando da partilha fraterna. Esta está presente na coleta de bens realizada antes de levar os dons ao altar. A procissão ofertorial não oferece apenas os dons Eucarísticos — pão, vinho e água — mas oferece também dons para a partilha fraterna.
Em tempos que já vão longe, a coleta ofertorial fraterna acontecia colocando aos pés do altar mantimentos alimentares e vestuários. Respondia-se assim ao que Jesus dizia: "estive com fome e me destes de comer... Estive nu e me vestistes" (Mt 25,35-45). Aqueles mantimentos colocados ao pé do altar não eram para o padre, mas para os pobres, os prisioneiros, os  migrantes. Hoje em dia, temos um pálido resquício disso em algumas comunidades com as chamadas “campanhas do quilo”, cujos mantimentos deveriam ser levados ao altar no momento da procissão ofertorial e não depositando as espécies em cestas, no fundo da igreja. Quando assim é feito perde-se a chance de celebrar diante do Altar, no contexto celebrativo Eucarístico, a partilha fraterna. Mas, sempre é tempo de recuperar esse gesto e o seu profundo senso evangélico e evangelizador.
Com o passar da história, a partilha dos bens em espécie começou a ser substituída por dinheiro. A substituição aconteceu, a oferta é feita em dinheiro, mas a finalidade continua a mesma: aquele dinheiro levado na procissão ofertorial é uma coleta fraterna e não é para o padre e nem do padre; é para os pobres.  O padre já recebe sua espórtula pela celebração da Missa. Aquele dinheiro deveria ser destinado a comprar comida, roupas, remédios... para os pobres. O fundamento Bíblico é muito claro: se não partilhas a oferta Eucarística com os pobres, tua oferenda não tem valor (At 2,45; Pv 22,9). Com isso se entende que a oferta feita no altar também não tem nada a ver com a contribuição dizimista. Para isso existem outros momentos.  
Estranho é o sentido dado em algumas comunidades a se aproximar da cesta das ofertas e ali depositar “espiritualmente” uma oferenda da própria vida. É muito estranho porque a oferta, naquele momento, não é abstrata, mas é algo concreto para ajudar o pobre a ter o comer ou vestir.
                Entende-se assim que toda Eucaristia sempre mantêm um olhar fraterno para o pobre, os necessitados. Também esta dimensão fraterna da procissão ofertorial é cantada em algumas canções do nosso repertório litúrgico ofertorial. Lembro a canção "Daqui do meu lugar" que no refrão canta: Somos a Igreja do pão, do pão repartido e do abraço e da paz”. O mesmo tema encontramos na canção "Sabes, Senhor", que diz: Sabes, Senhor, o que temos é tão pouco pra dar. Mas este pouco, queremos com os irmãos compartilhar.”

Dimensão simbólica
                Por fim, a dimensão simbólica. Esta se faz presente nos dons Eucarísticos do pão, vinho e água. Dons que, como é fácil entender, mantêm uma relação estreita com a vida. Este é, com já mencionado acima, o critério para ser levar outros elementos simbólicos na procissão ofertorial: manter uma relação estreita com a vida e, além disso, serem dons que conduzem os celebrantes a dar graças a Deus pela vida.
                Assim, escolher como símbolo uma cesta de alimentos para ser conduzido juntamente com os dons Eucarísticos é uma boa escolha. Mas, não é uma boa escolha, neste sentido, levar cartazes com nomes de pastorais ou com frases de efeito. Levar na procissão das ofertas ferramentas que representam os trabalhos de uma comunidade é uma escolha que remete a vida e mantêm vínculo com o pão e o vinho.
                Juntamente com os dons eucarísticos, pode-se levar também símbolos que remetem ao compromisso cristão. Assim, na proclamação do Evangelho do “sal da terra e luz do mundo” (5DTC-A), realizar uma procissão com pessoas levando uma vela batismal acesa para acompanhar os dons, remete ao compromisso de ofertar os dons da terra e do trabalho humano testemunhando o empenho de ser sal e luz na comunidade.
Serginho Valle

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