Concluída a Liturgia da
Palavra, tem início a Liturgia Eucarística com os celebrantes participando da
procissão ofertorial Eucarística. Vamos considerar três dimensões
teológicas da procissão ofertorial. Num outro momento, consideraremos a
dimensão ritual com seu processo comunicativo. As três dimensões teológicas que
vamos considerar são a Eucarística e a fraterna e a simbólica.
Dimensão
Eucarística da procissão ofertorial
Sim,
Trata-se de uma procissão ofertorial Eucarística porque os celebrantes
se dispõem a oferecer, eucaristicamente, isto é, como ação de graças, os frutos
da terra e do trabalho humano, como reza a oração da apresentação das
oferendas feita pelo sacerdote. É, portanto, um rito de quem se aproxima do
altar com suas oferendas para agradecer a Deus o alimento que ele concede vida
à humanidade. É uma procissão que testemunha o reconhecimento de que Deus
abençoa a terra e o trabalho humano para alimentar a vida.
Algumas
canções do repertorio litúrgico ofertorial cantam esta
dimensão de ação de graças, como por exemplo a canção "Bendito seja Deus
Pai". Diz a primeira
estrofe: “Bendito seja Deus Pai, do universo
criador. Pelo pão que nós recebemos, foi de graça e com amor.”
Este
contexto da dimensão ofertorial Eucarística, de ação de graças, ajuda-nos a
entender a inadequação de alguns símbolos e sinais que se veem em algumas procissões
ofertoriais. Exemplo típico desse fato é o costume de levar cartazes com frases
ou pensamentos. Um dos critérios na escolha de sinais e símbolos ofertoriais
tem a ver com agradecimento pelo dom da vida.
Isto
tem também um alcance espiritual, que pode ser mencionado na monição que motiva
a procissão ofertorial de cada Missa. O Evangelho de cada celebração como que
determina quem é convidado a participar da procissão ofertorial de modo digno e
quem precisa deixar sua oferta diante do altar para primeiro se reconciliar com
irmão (Mt 5,24). Assim, se o Evangelho relatar a multiplicação dos pães, quem
não partilha o pão com o faminto não é um convidado digno para estar na
procissão ofertorial. A motivação de que todos precisam entrar na procissão
ofertorial, mesmo se não irão colocar dinheiro no cesto, é um analgésico
piedoso, especialmente para quem, espiritualmente falando, não é digno de
ofertar algo no altar por estar em débito com o que pede o Evangelho.
Dimensão
fraterna da procissão ofertorial
Outra dimensão da procissão ofertorial tem a ver com a fraternidade. Aqui estou falando da partilha
fraterna. Esta está presente na coleta de bens realizada antes de levar os dons
ao altar. A procissão ofertorial não oferece apenas os dons Eucarísticos —
pão, vinho e água — mas oferece também dons para a partilha fraterna.
Em tempos que já vão longe, a coleta ofertorial fraterna acontecia colocando aos pés do altar
mantimentos alimentares e vestuários. Respondia-se assim ao que Jesus dizia: "estive com fome e me destes de
comer... Estive nu e me vestistes" (Mt 25,35-45). Aqueles mantimentos
colocados ao pé do altar não eram para o padre, mas para os pobres, os
prisioneiros, os migrantes. Hoje em dia, temos um pálido resquício disso
em algumas comunidades com as chamadas “campanhas do quilo”, cujos mantimentos
deveriam ser levados ao altar no momento da procissão ofertorial e não depositando
as espécies em cestas, no fundo da igreja. Quando assim é feito perde-se a
chance de celebrar diante do Altar, no contexto celebrativo Eucarístico, a
partilha fraterna. Mas, sempre é tempo de recuperar esse gesto e o seu profundo
senso evangélico e evangelizador.
Com o passar da história, a partilha dos bens em espécie
começou a ser substituída por dinheiro. A substituição aconteceu, a oferta é
feita em dinheiro, mas a finalidade continua a mesma: aquele dinheiro levado na
procissão ofertorial é uma coleta fraterna e não é para o padre e nem do padre;
é para os pobres. O padre já
recebe sua espórtula pela celebração da Missa. Aquele dinheiro deveria ser
destinado a comprar comida, roupas, remédios... para os pobres. O fundamento
Bíblico é muito claro: se não partilhas a oferta Eucarística com os pobres, tua
oferenda não tem valor (At 2,45; Pv 22,9). Com isso se entende que a oferta
feita no altar também não tem nada a ver com a contribuição dizimista. Para
isso existem outros momentos.
Estranho
é o sentido dado em algumas comunidades a se aproximar da cesta das ofertas e
ali depositar “espiritualmente” uma oferenda da própria vida. É muito estranho
porque a oferta, naquele momento, não é abstrata, mas é algo concreto para
ajudar o pobre a ter o comer ou vestir.
Entende-se assim que toda
Eucaristia sempre mantêm um olhar fraterno para o pobre, os necessitados.
Também esta dimensão fraterna da procissão ofertorial é cantada em
algumas canções do nosso repertório litúrgico ofertorial. Lembro
a canção "Daqui do meu lugar" que no refrão canta: “Somos a Igreja do pão, do pão repartido e do abraço
e da paz”. O mesmo tema encontramos
na canção "Sabes, Senhor", que diz: “Sabes, Senhor, o que temos é tão pouco pra dar. Mas
este pouco, queremos com os irmãos compartilhar.”
Dimensão
simbólica
Por
fim, a dimensão simbólica. Esta se faz presente nos dons Eucarísticos do pão,
vinho e água. Dons que, como é fácil entender, mantêm uma relação estreita com
a vida. Este é, com já mencionado acima, o critério para ser levar outros
elementos simbólicos na procissão ofertorial: manter uma relação estreita com a
vida e, além disso, serem dons que conduzem os celebrantes a dar graças a Deus
pela vida.
Assim,
escolher como símbolo uma cesta de alimentos para ser conduzido juntamente com
os dons Eucarísticos é uma boa escolha. Mas, não é uma boa escolha, neste
sentido, levar cartazes com nomes de pastorais ou com frases de efeito. Levar
na procissão das ofertas ferramentas que representam os trabalhos de uma
comunidade é uma escolha que remete a vida e mantêm vínculo com o pão e o
vinho.
Juntamente
com os dons eucarísticos, pode-se levar também símbolos que remetem ao
compromisso cristão. Assim, na proclamação do Evangelho do “sal da terra e luz
do mundo” (5DTC-A), realizar uma procissão com pessoas levando uma vela
batismal acesa para acompanhar os dons, remete ao compromisso de ofertar os
dons da terra e do trabalho humano testemunhando o empenho de ser sal e luz na
comunidade.
Serginho Valle
2016
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