O titulo afirmativo está
correto: o Natal é Epifania. Embora nem sempre isto seja muito claro na
Liturgia Ocidental, é mais evidente na Liturgia Oriental, onde o Natal,
inclusive, é celebrado no dia 6 de janeiro, data na qual, nós na Liturgia
Romana, celebramos a solenidade da Epifania.
A
nossa Liturgia Romana optou por diferentes celebrações epifânicas, no decorrer
do Tempo do Natal, iniciando na véspera do dia 25 de dezembro até a festa do
Batismo de Jesus, que conclui o Tempo Natalino. A rigor, a última celebração
natalina, ou pelo menos ligada ao Natal, acontece no dia 2 de fevereiro, na
Festa da Apresentação do Senhor ao Templo, quando Simeão canta o “Nunc
dimitis”.
A
opção da Liturgia Romana por celebrações epifânicas, além da celebração do
Mistério Pascal nas celebrações natalinas, contém um elemento catequético a ser
considerado. Seria melhor dizer pedagógico catequético. Em cada celebração
existe uma catequese e uma pedagogia quanto ao modo como Deus se manifesta
(epifania) e se faz presente como Emanuel, o Deus conosco, o Deus entre nós. Desta
forma, entende-se que o Natal é uma Epifania, uma manifestação divina na
história da humanidade. Como são “Epifanias” todas as celebrações que
acontecem depois da celebração do Natal.
O
modo como isso acontece, no contexto celebrativo do Natal, envolve vários
acontecimentos que vão desde a Anunciação até o nascimento de Jesus, num
presépio, em Belém. Deus se manifesta na gravidez da mulher, Maria. Deus que se
manifesta como recém, nascido de uma mulher, da Virgem Maria. Deus que se
manifesta como recém-nascido com um pai adotivo, José, se manifesta aos
pastores que são conduzidos ao local do nascimento, atraídos por cantares e
luzes angélicas (Lc 2,1-14).
Além
disso, Deus se manifesta morando numa família humana (Sagrada Família),
nascendo de uma mulher (Mãe de Deus, Maria), aos povos do mundo inteiro, representados
nos Reis Magos (Epifania), no momento em que é batizado por João Batista
(Batismo de Jesus).
O
que mais chama atenção, do ponto de vista epifânico, é a escolha divina de
se manifestar através da pobreza humana. Um modo que não corresponde às
epifanias dos antigos reis e dos atuais líderes das nações: exibindo força e
poder, revelando o medo oculto de serem atacados. Deus se manifesta, no Natal,
de modo simples, pobre, vulnerável, desarmado, mostrando a coragem de se deixar
tocar para se fazer mais próximo possível.
Do
ponto de vista catequético e pedagógico, o Natal manifesta, faz epifania,
daquilo que a Teologia denomina como "kenosis": o despojamento da sua
riqueza para assumir a pobreza humana. O Criador que se rebaixa para se fazer
criatura e, deste modo, enriquecer-nos com a possibilidade de nos
divinizar. Como diz Paulo, neste contexto da epifania divina no Natal: “de rico que era tornou-se pobre por causa
de vós, para que vos torneis ricos por sua pobreza” (2Cor 8,9. Cf. Fl 2,6).
Serginho Valle
2016.
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