Recentemente,
como Igreja, participamos do acolhimento da 3ª edição do Missal Romano. Não é
um novo Missal, mas uma nova edição, do “novo Missal”, publicado pelo Papa São
Paulo VI depois da reforma litúrgica. A chegada da 3ª edição do Missal Romano
foi momento oportuno para propor formação litúrgica nas comunidades paroquiais.
Eu mesmo procurei dar minha contribuição com um curso online, postado na
plataforma de cursos da Kiwify, com cinco palestras sobre o Missal Romano. Não
é sobre a 3ª edição em si, mas sobre o Missal Romano. Mais informações, clique
no link: (https://lp.liturgia.pro.br/missal-romano
).
Falando
de formação litúrgica, conferindo meu arquivo pessoal, deparei-me com o discurso
que Papa Francisco proferiu no ano de 2019, na plenária da Congregação para o
Culto Divino e Sacramentos. O tema do encontro versava sobre a formação
litúrgica. O título que estou propondo neste artigo é uma expressão usada pelo Papa
Francisco no seu discurso sobre o modo e o método de realizar a formação
litúrgica: “para que a formação litúrgica aconteça, não basta mudar os
livros litúrgicos”. O texto do discurso papal encontra-se no link: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/speeches/2019/february/documents/papa-francesco_20190214_cong-culto-divino.html
O
ano era 2019, 4 anos antes da publicação da 3ª edição do Missal Romano aqui no
Brasil, em 2023. Antes disso, em 2022, Papa Francisco publicou a Carta
Apostólica Desiderio Desideravi sobre a formação litúrgica. Existem outras
intervenções do Papa sobre a importância e a necessidade da formação litúrgica.
Quem
conhece um pouco de História da Liturgia sabe muito bem que o interesse e a
preocupação com a formação litúrgica não são do nosso tempo. É uma necessidade
que sempre chamou atenção da Igreja, uma vez que a falta de formação litúrgica
e a carência formativa é um perigo, não por “pecados” que possam ser cometidos
contra rubricas, mas pela facilidade de se poder manipular e instrumentalizar a
Liturgia. Por isso, o tema da formação litúrgica não é uma necessidade dos
nossos tempos. A bem da verdade, o tema da formação litúrgica começa antes da
reforma litúrgica, especialmente presente na pauta do Movimento Litúrgico, que
encontrou seu auge na metade do século XIX e se estendeu até os albores do
Concílio Vaticano II, no século XX. Este é somente um exemplo.
O
que gostaria de chamar atenção na reflexão do Papa com os membros da
Congregação para o Culto Divino (2019) é o foco e a centralidade que o Papa
dedica ao tema da formação litúrgica, expressa no pensamento: não basta
trocar os livros litúrgicos para melhorar a qualidade da Liturgia. A partir
desse pensamento, o Papa traça, em breves linhas a direção e a finalidade da
formação litúrgica para nossas comunidades paroquiais. A indicação do Papa é
por uma formação litúrgica que se qualifica com celebrações que conduzem ao
encontro com o Deus vivo, que conduzem ao encontro com Jesus Cristo. O Papa
explica o significado de sua recomendação dizendo que a formação litúrgico não
se realiza com um roteiro teórico, mas com celebrações capazes de produzir a
experiência de encontro com Deus. Neste sentido, a Liturgia educa à Liturgia, servindo-me
da expressão do meu antigo professor, o salesiano, Pe. Achille Triacca.
Desse
modo, Francisco leva-nos perceber que a luz da formação litúrgica tem como
finalidade não a transmissão de conceitos e teorias sobre a Liturgia, mas a
realidade da vida cristã: “não podemos esquecer que a Liturgia é vida a ser
formada, não uma ideia (um conceito) para se conhecer”. Papa Francisco está
dizendo que a Formação litúrgica tem a ver com o fomento da vida cristã, que se
encontra na primeira finalidade da reforma litúrgica: fomentar a vida cristã
(SC 1).
Já
tive oportunidade de comentar, em outro texto, que minha inspiração para o
curso da Pastoral DA Liturgia encontra-se na Desiderio Desideravi, 37: “uma
celebração não evangeliza não é autêntica” (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia
). Agora, acrescento este desafio do Papa, proposto no seu discurso de 2019, de
não tratar a formação litúrgica como transmissão de conteúdo, mas de propor uma
formação na qual se faça experiência espiritual e fraterna do encontro com
Jesus Cristo.
Em
terras brasileiras, sem o risco de generalizar, podemos perceber a distância
que existe entre temas da formação litúrgica em nossas paróquias, as vezes
preocupando-se com a cor da toalha usada no altar, quantas velas usar... e
aquilo que deveria fundamentar a formação em vista da proposta pastoral do
Vaticano II: “fomentar a vida cristã” (SC 1).
Na
prática, o discurso de Papa Francisco está dizendo que não se faz formação
litúrgica ensinando rubricas e nem inspirando-se num dicionário de semiologia
explicando significados de símbolos e sinais. Isto tem o seu valor enquanto
formação inicial, formação introdutória e iniciática na Liturgia, mas a
formação necessitada, hoje, é aquela que favorece nos celebrantes celebrar para
ter contado pessoal com Jesus Cristo. Neste caso, uma formação na qual se
aprenda a celebrar celebrando.
Papa
Francisco diz textualmente que “a formação litúrgica não pode limitar-se a
oferecer simplesmente conhecimentos (sobre a Liturgia) — isto é errado.” Chama
atenção a observação do Santo Padre, apontando como equivocado (errado) reduzir
a formação litúrgica a transmissão de conhecimentos sobre a Liturgia. Para o
Papa, a formação litúrgica comporta uma qualidade existencial, uma experiência
espiritual existencial, para sermos precisos. Para isso, em forma de refrão que
se repete no texto, o Papa explica que o existencial, na Liturgia, acontece
pelo encontro com Jesus Cristo.
No
pensamento do Papa, a formação litúrgica é um espaço de transformação
existencial a partir da celebração. Esta é a proposta que proponho no curso “Pastoral
DA Liturgia” (https://lp.liturgia.pro.br/pastoral-da-liturgia
), no qual, a Liturgia é considerada como a fonte da vida cristã. Mais que
explicar conceitos litúrgicos, é preciso que a formação litúrgica ajude os
ministérios a tornar a celebração um espaço espiritual, uma fonte da
espiritualidade que, na prática, nada mais é do que é a natureza Liturgia:
deixar-se conduzir pelo Espírito Santo para ser envolvido na santidade divina.
Serginho Valle
Maio de 2024
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