A homilia, etimologicamente, significa "conversa familiar". Hoje, esse conceito pode parecer idealizado, já que o contexto em que a homilia acontece não favorece uma conversa verdadeiramente familiar. Durante a celebração, a comunicação é unidirecional: o padre fala e a assembleia escuta. No entanto, o sentido de "conversa familiar" pode ser mantido na forma de se expressar, com uma mensagem acessível e facilmente acolhedora, como acontece em verdadeira “conversa familiar”.
O que a homilia, não é?
- Não é um sermão: A homilia não segue o estilo do sermão, caracterizado pelo tempo longo, carregado de retórica e com um forte acento moralista e moralizante.
- Não é uma pregação extensa: A homilia não tem duração longa, que é característica do estilo das pregações, que podem durar 1 ou mais horas.
- Não é uma aula de exegese: A homilia não consiste em realizar uma explicação detalhada das leituras, do ponto de vista de pesquisas e teses exegéticas, embora, às vezes, seja útil contextualizar um texto bíblico em vista da compreensão.
- Não é uma palestra motivacional: A homilia não tem nada e nem se parece com
discursos ou palestras motivacionais, em estilo coach, oferecendo "pílulas"
de motivação e incentivos de otimismo.
A homilia tem como principal característica a atualização
da Palavra de Deus para o contexto histórico atual. A Teologia Litúrgica traduz
o movimento e a dinâmica da “atualização” com o termo “memorial”. Neste caso, a
homilia é conduzida pela ação do Espírito Santo, atuando por meio do homiliasta
para que a Palavra seja vivenciada por cada celebrante e em toda a comunidade.
A homilia, em uma primeira compreensão, é um momento de partilha em que o
homiliasta transmite (partilha) a sua experiência pessoal e existencial da
Palavra de Deus, aplicando-a à realidade dos celebrantes. O homiliasta, portanto,
não fala de um tema da Bíblia, mas da sua experiência iluminada pela Bíblia,
pela Palavra. É isso que o caracteriza como profeta.
Como a homilia se diferencia de uma aula?
O que foi proposto faz compreender que a homilia
não é uma aula. Enquanto a aula tem um caráter explicativo e intelectual, a
homilia se caracteriza como partilha existencial. O homiliasta não está apenas
explicando o Evangelho e as leituras, mas sim transmitindo a vivência
espiritual e convidando os celebrantes a iluminar suas vidas a partir da Palavra.
Cada homilia, portanto, não explica as leituras, mas acende luzes de como viver
a Palavra.
A responsabilidade do homiliasta
O homiliasta, ao proferir a homilia, assume uma
grande responsabilidade diante de Deus e da assembleia. Ele se responsabiliza
não apenas em conhecer a Palavra de Deus — estudando, preparando a homilia,
rezando a Palavra —, mas vivenciado a Palavra que irá refletir com a assembleia.
Como Jesus ensina: “a boca fala daquilo de que o coração está cheio” (Mt 12,34). Assim, o homiliasta precisa ter
a Palavra no coração, ter o coração cheio da Palavra de Deus, para que a sua
fala vá além da retórica e seja autêntica e inspiradora.
Objetivos da homilia
Dentre vários objetivos da homilia, como consequência
desta minha reflexão, destaco apenas dois objetivos da homilia, especialmente da
homilia dominical: crescimento espiritual e crescimento na caridade. O processo
é de crescimento, não de informações sobre a Bíblia, sobre o Evangelho.
- Crescimento espiritual: A homilia tem como um de seus objetivos principais fomentar o crescimento espiritual dos celebrantes. É um modo de a Igreja fomentar a espiritualidade e alimentar espiritualmente os celebrantes através de celebrações evangelizadas e evangelizadoras.
- Crescimento na caridade: A partir da vida espiritual, a homilia também deve inspirar os celebrantes a viverem a caridade no seu dia a dia. Tendo proposta vivencial, o resultado da homilia é prático e, no caso, a prática de relacionamentos fraternos e fraternizados na sociedade.
Sobre a incisão no modo de se relacionar
socialmente como cristão, o Documento da CNBB de 2012, nº 88, reforça isso ao
dizer que a Palavra de Deus "nos impele para os irmãos", sendo
ela a luz que purifica, converte e propõe aos celebrantes estarem a serviço da
fraternidade. A homilia é, portanto, um instrumento fortalecedor da vida cristã
e das relações fraternas em toda a sociedade.
O bom homiliasta conhece a Palavra de Deus tanto
pela ciência (estudo) quanto pela experiência de vida. Por isso, deveria
assumir o compromisso de nunca deixar de estudar a Palavra (fazer exegese) e,
mais ainda, viver a Palavra, de modo que, ao falar, sua homilia seja um reflexo
do que vive. Como foi dito, o homiliasta testemunha, com seu estilo de vida o
que diz em sua homilia. A verdadeira força da homilia, pensando bem, não está
na eloquência, mas na autoridade espiritual do que é partilhado e vivenciado pelo
homiliasta.
Serginho Valle
Setembro 2024
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