Ele
sentia-se mal celebrando as missas durante a semana, com uma espécie de vácuo,
no meio da assembleia. Na frente ficavam as senhoras do Apostolado da Oração,
outro grupo da RCC e mais alguns devotos... logo em seguida, bancos vazios e,
lá no fundo, um grupo de pessoas que chegavam cedo para ocupar os últimos
bancos. Alguns gostavam tanto de ficar nos últimos bancos que ficavam na parede
do fundo, caso não encontrassem lugar no banco derradeiro. Mas, com a luz
apagada, o padre tinha os devotos iluminados na frente e os “devotos da porta”,
apagados no fundo da igreja.
Quando
acabou a missa, ele ficou impressionado com a teimosia dos banqueiros da última
fila. Mesmo às escuras preferiam ficar lá no fundo. Isso já tinha virado causa
de honra e eu, como outros, ficávamos na expectativa para ver quem iria ganhar:
o padre ou os banqueiros da última fila. Um dia, ele quase levou um altar para
o fundo da igreja. Celebrar naquelas condições lhe fazia mal. Foi numa reunião
para preparar a celebração dessa Domingo que alguém comentou que o publicano
parecia os banqueiros da última fila. Caiu a ficha! Quer dizer, entrou o
respeito pelo jeito de rezar de quem ficava no fundo da igreja. Na reunião,
fizemos uma prece pelo nosso pessoal do fundo da igreja, o padre voltou a iluminá-los
e um dia relembrando o caso, comentou comigo: “um dia um senhor chegou para mim
e disse que ficava no fundo da igreja porque tinha vergonha da roupa; vinha do
trabalho e antes de voltar para casa, participava da missa. Vinha suado e, por
isso, preferia ficar lá no fundo da igreja. Era um alcoólatra em recuperação.”
Tinha trocado o bar pela igreja, mas no banco do fundo.
Brincando,
lembro que comentei que reparei que ele abria mais os braços na bênção final.
Ele respondeu sério: “é verdade, é para tocar os banqueiros da última fila,
eles precisam de um carinho abençoado.”
Serginho Valle
Julho 2023
0 comentários:
Postar um comentário
Participe. Deixe seu comentário aqui.