31 de ago. de 2017

Liturgia e projeto divino

O Reino de Deus, que tanto ouvimos falar no Evangelho, é o projeto divino para a terra e para toda humanidade. Na expressão “Reino de Deus” encontra-se a realização do Mistério Pascal de Jesus Cristo, é lógico, mas algumas particularidades que se fazem presentes nas celebrações do mês de setembro de 2017, do 22º Domingo do Tempo Comum – A ao 25º Domingo do Tempo Comum – A. Quatro celebrações com quatro elementos importantes interagentes, para que o Reino de Deus, para que o projeto divino seja cultivado na terra.

Discípulos para realizar o projeto divino
Inicialmente, não se pode esquecer que o projeto é divino, é de Deus, mas acontece na terra. E, pelo fato de acontecer na terra, de acontecer no meio do mundo, este conta com a nossa colaboração. Para que esta colaboração seja eficaz e promotora de resultados, a primeira coisa a se considerar é a qualidade de quem atua neste projeto. Tal qualidade é formatada no caminho do discipulado, proposto no 22DTC-A.
A Liturgia tem uma função importantíssima: todos os Domingos, cada celebração propõe o caminho do discipulado e indica como cultivar o projeto do Reino de Deus. Nossa ajuda, nossa colaboração no cultivo do Reino depende da condição de ser discípulos e discípulas do Evangelho. É por meio do discipulado do Evangelho que, a exemplo de Jesus, fazemos a vontade do Pai em tudo e, assim, o projeto divino cresce entre nós.
A primazia e a prioridade do projeto divino para a terra e, especialmente, para a humanidade tem seu enfoque central na Liturgia do 22DTC-A. Nada está acima do projeto divino e tudo que realizamos como discípulos e discípulas tem em vista o crescimento do Reino de Deus, realizando a vontade de Deus. O seguimento de Jesus comporta também a aceitação da vontade divina, mesmo que esta apresente dificuldade de compreender o sucesso existencial. Quem se coloca contra o projeto divino é considerado Satanás, diz Jesus. Satanás é quem faz oposição ao projeto divino. Disto, a necessidade de ser tão somente discípulo e discípula, seguidores de Jesus, realizadores do projeto de Deus onde se vive.

Não dever nada a ninguém, a não ser o amor fraterno!
O discipulado promove uma atitude fundamental no cultivo e na construção do projeto divino do Reino de Deus: a fraternidade. O 23DTC-A trata a fraternidade pelo viés da “correção fraterna”.

À primeira vista, a correção fraterna é um tema difícil, mas compreensível se iluminado pela luz da fraternidade evangélica, considerando que o pecado destrói a vida de quem o pratica. A destruição de uma vida, no contexto do projeto divino, pode ser avaliada como uma falência do próprio projeto, uma vez que o Reino de Deus tem em vista a vida plena a ser vivida em cada homem e mulher. Por isso, se alguém se desvia do caminho que conduz ao discipulado e toma o caminho do pecado, este precisa ser reconduzido ao caminho do Evangelho para que o projeto divino não conheça uma falência. Eis o motivo da correção fraterna.

Entende-se que Jesus não pede que sejamos juízes de nossos irmãos e irmãs, acusadores de seus pecados e erros. Pede que sejamos fraternos. A correção fraterna, proposta no 23DTC-A, não tem a finalidade de punir, mas de reconciliar quem pecou para que volte à comunidade para poder atuar na construção do Reino de Deus vivendo a vida de modo pleno, no caminho da graça.

Junto a este tema da “correctio fraterna”, de modo íntimo e profundo, encontra-se o tema do perdão, celebrado na Palavra do 24DTC-A. “Quantas vezes perdoar quem nos ofendeu?”, interroga Pedro. Sem o perdão não existe correção fraterna, sem o perdão não existe fraternidade e sem fraternidade, o projeto divino não tem resultado e nem incidência na vida pessoal e social. À pergunta quantificada feita por Pedro, colocando o perdão numa escala de zero a sete, a resposta de Jesus é dada de modo qualificado a partir da bondade e do amor divinos. Jesus ensina que o modo de tratar quem nos ofendeu não se encontra no tamanho da ofensa, mas no tamanho da misericórdia divina. E, em se tratando de misericórdia divina, sabemos que esta é ilimitada. Assim deve ser o procedimento com quem nos ofendeu: oferecendo o perdão sem limites. Assim procede o discípulo e discípula do Evangelho.


O Reino de Deus e a vinha do mundo
Se a condição para trabalhar de modo profícuo e qualificado no projeto divino encontra-se no discipulado, a gratuidade é o coração (e está no coração) de quem se disponibiliza a contribuir com o crescimento do projeto divino.

Quando se trabalha de modo gratuito e sem esperar algum tipo de recompensa financeira, por exemplo, ou algum tipo de reconhecimento elogioso, então pouco importa se somos da primeira hora, enfrentando todo o calor do dia, ou se alguém da última hora recebe o mesmo salário que recebemos (25DTC-A). A Liturgia do 25DTC-A ensina aos celebrantes — tratados neste Domingo como trabalhadores da vinha — que o mal-estar causado pelos trabalhadores da primeira hora, dos primeiros momentos da formação da comunidade, não tem sentido diante dos critérios divinos. O convite para se trabalhar na vinha do Senhor não se pauta na meritocracia, mas na disponibilidade gratuita de quem se dispõe trabalhar para cultivar o Reino de Deus.

Serginho Valle

Agosto de 2017
← Postagem mais recente Postagem mais antiga → Página inicial

0 comentários:

Postar um comentário

Participe. Deixe seu comentário aqui.