
O Ano Litúrgico pode ser considerado
de muitas formas. Uma delas diz respeito à sua dinâmica pedagógica. Trata-se de
um aspecto prático do Ano Litúrgico, que diz respeito especialmente às
celebrações Dominicais e às grandes solenidades da Igreja. Por ser uma dinâmica
pedagógica, tem a ver com a atividade concreta da Pastoral Litúrgica e a
contextos celebrativos particulares, expressos particularmente nas homilias,
mas também presente nos ritos, nas canções e nas preces.
Ao se considerar a dimensão dinâmica
e pedagógica entende-se implícita a necessidade de uma programação, de um
conteúdo programático capaz de conduzir pedagogicamente os celebrantes à
constante conversão em vista do discipulado. Não se trata — é preciso dizer com
todas as letras — de transformar as celebrações em aulas de doutrina ou de
catequese ou de Teologia. A proposta da Igreja proclama a Palavra,
especialmente o Evangelho, para ser celebrada e, do ponto de vista dinâmico e
pedagógico, propor modos de viver e caminhar no discipulado. É aqui que entra o
processo pedagógico e evangelizador do Ano Litúrgico. Entende-se, pois, que as
celebrações, como dizia Papa Bento XVI, tem um caráter evangelizador em sua
dinâmica celebrativa.
Em tal contexto dinâmico e
pedagógico, cada celebração trazem em si propostas de passos para os
celebrantes caminhar no discipulado. Ao celebrar o Mistério Pascal de Cristo,
os celebrantes participam da graça santificadora e, ao mesmo tempo, são orientados
de como viver este Mistério em suas vidas pessoais e de modo comunitário. A
homilia, portanto, não tem a finalidade de explicar as leituras uma a uma, mas
propor como caminhar no discipulado, iluminando-se nas leituras da celebração.
Isto significa que o padre, na maior parte das vezes, não prepara uma homilia
explicativa, mas propositva e contextualizada em cada celebração. Cada homilia,
na expressão de Umberto Eco, é uma “obra aberta”, no sentido que atingirá a
vida de cada celebrante de um modo diverso. Precisa ser uma homilia tão bem preparada,
que os celebrantes, por mais simples que forem, sejam capazes de estabelecer
nexos de união da Palavra com suas vidas. Para isso, o padre conta com a graça
do Espírito Santo, com a preparação pessoal e com a sua habilidade oratória.
O mesmo critério vale para as demais
partes da celebração. A música, por exemplo, além de cantar a celebração,
ressalta o Mistério celebrado em cada rito. Neste sentido, não se pode propor
um único folheto de canções para várias celebrações, uma vez que cada
celebração ressalta um aspecto do Mistério Pascal de Cristo e do discipulado. Em
vista disto se faz necessário todo um trabalho de sintonia das Equipes de
Celebrações com o padre. Não deveria acontecer que o padre fale uma coisa e os
ritos preparados pelas Equipes de Celebrações, música inclusa, falem de outra,
transformando a celebração numa colcha de retalhos. Ao contrário disso, a
celebração deve ser harmônica, afinada com a luz que vem da Palavra para ressoar
nas canções, nos ritos, nas monições, na oração dos fiéis, nas procissões e na
homilia. Desta forma, a celebração forma um conjunto harmonioso.
Esta é uma proposta presente, seja
de modo explícito como nas entrelinhas, da reforma litúrgica do Vaticano II.
Uma proposta que exige uma preparação particularizada de cada celebração, algo
que foi, de certo modo, impedida pela “facilidade” no uso de folhetos e
livretes que, além de impedir preparações mais aprofundadas das celebrações,
transforma muitas celebrações em leituras de folhetos. Estas são celebrações
que desviam o olhar dos celebrantes do altar e do ambão e os concentra na
leitura de folhetos individualizados. Claro que isso pode ser revertido, desde
que a Pastoral Litúrgica, coordenada pela Equipe Litúrgica, e atuada pelas
Equipes de Celebrações, entenda a celebração, especialmente aquela dominical,
como momento evangelizador que conduz ao discipulado e no discipulado, como
algo próprio da dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico.
(Serginho Valle)
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