O texto
de Ex 17,8-13 narra a luta do povo, comandada por Josué e sustentada pela
oração de Moisés. Enquanto Moisés rezava de braços estendidos, o povo vencia os
amalecitas; quando Moisés parava de rezar, o povo começava a ser derrotado. A
luta foi vencida pela oração e pela ação. Gosto deste texto para ilustrar o
trabalho da Pastoral Litúrgica na comunidade: oração e ação.
Isso
significa que a Pastoral Litúrgica não atua somente no contexto oracional e nem
somente no contexto ativo. Há a necessidade de que oração e ação sejam como
duas rodas que levem a comunidade a bom termo deste trabalho. Ou, dizendo
de outro modo, e de modo mais privilegiado, a necessidade que a atividade da
Pastoral Litúrgica seja sustentada pela oração. Uma apoiando a outro.
Este
apoio mútuo é facilmente identificado no nosso texto Bíblico. Tanto Moisés como
Josué foram convocados por Deus para servir o povo, mas missões diferentes:
rezar e lutar. Eis uma boa imagem dos membros da Pastoral Litúrgica: ser, ao
mesmo tempo, Moisés (orantes) e Josué (ativos). São duas rodas, como de uma
bicicleta, que equilibra a Pastoral e faz caminhar em frente.
A
experiência demonstra que uma Equipe litúrgica que concentra sua Pastoral
unicamente na oração e em celebrações, facilmente cai no comodismo e na produção
de celebrações sentimentalistas, para emocionar. Do outro lado, a Equipe
Litúrgica que se concentra só na atividade, cai no ativismo e, neste caso, para
mostrar trabalho enche as celebrações de pendulicários, transformando-as em
teatro, em procissões e apresentações de símbolos e sinais, recheadas de
canções e coreografias. Em ambos os casos, o desequilíbrio é notório. Por isso,
para se evitar o desequilíbrio existe um terceiro elemento.
Sabemos
que a graça da oração é garantida por Deus. Mas nosso empenho, nosso agir,
precisa de um fundamento para que seja frutuoso. Tal fundamento encontra-se no
estudo, na formação dos membros da Pastoral Litúrgica. Rezar para vencer a
luta, como fazia Moisés, mas agir com inteligência e fundamentados na Teologia
e na Espiritualidade Litúrgica. Sobre a Espiritualidade Litúrgica dedicarei um
estudo, oportunamente. Para o momento, vamos nos ater somente na Formação
Teológica.
Formação
teológica na Pastoral Litúrgica
Sobre a
formação dos membros da Equipe Litúrgica, aqueles que conduzem e coordenam a
Pastoral Litúrgica na comunidade, a Igreja fala da importância e da necessidade
da formação. Sobre isso, vários são os documentos que orientam sobre a formação
litúrgica a quem atua na Pastoral Litúrgica da comunidade. Vou ficar com o que
diz o Documento
da CNBB, 43, n. 195, que define a formação como ampla e profunda.
“Tenha-se presente que a grande meta
dessa formação ampla e profunda é preparar agentes para a aculturação e a
inculturação da Liturgia, porque homens e mulheres que vivem as duas
realidades, a sócio-cultural e a celebrativa, poderão facilitar a tarefa para
os responsáveis por este processo.”
As duas
palavras, “aculturação” e “inculturação”, merecem destaque. Ambas querem dizer,
basicamente, o seguinte: a necessidade de levar os elementos da cultura para
dentro da celebração e de levar os elementos da Liturgia (os valores do Reino
de Deus, o Mistério Pascal com sua força salvadora...), para dentro da cultura,
onde vive a comunidade. Na prática, isto significa o empenho para colocar a
vida social e cotidiana na celebração e, de outro lado, levar o que se celebra,
os valores do Reino de Deus com todas suas dimensões, para o meio da
vida.
Esta
tarefa, como se deduz, não é algo simples, exige conhecimento, formação do que
seja Liturgia, compreensão clara do que é celebração litúrgica, conhecimento da
linguagem litúrgica, da comunicação litúrgica e, igualmente, conhecimento da
comunidade. Não basta, portanto, o conhecimento teórico da Liturgia, para que
seja eficaz, do ponto de vista transformador; se faz necessário o conhecimento
do contexto cultural comunitário onde é celebrada a Liturgia. Este é um grande
trabalho e um trabalho multidisciplinar. Estudar a Liturgia e iluminá-la
com as luzes de outras ciências.
Pela carência
do conhecimento Litúrgico, por parte da Equipe Litúrgica, leva a correr o risco
de transformar a Liturgia em cerimônias e as celebrações em shows ou
teatrinhos. É a preocupação de “fazer bonito”, esquecendo que o mais importante
é promover o encontro com Deus, com seu projeto divino e com o irmão. Só mesmo
o estudo e a formação séria coloca a Equipe Litúrgica num caminho seguro e
frutuoso.
Conclusão
Considerando
tudo isso — mas tudo isso é apenas uma anotação em vista do que a Igreja propõe
em termos de formação litúrgica a quem atua na Pastoral Litúrgica —volto ao que
dizia em outra oportunidade: boa vontade ajuda, mas não favorece um empenho
satisfatório e frutuoso em termos de Pastoral Litúrgica. Deduz-se, portanto,
que é imprescindível que os membros da Pastoral Litúrgica, de modo especial a
Equipe Litúrgica da comunidade, esteja “imbuída do espírito litúrgico”; conheça,
de fato e com profundidade, o terreno onde é chamada a cultivar as sementes do
Reino. Numa palavra: ESTUDAR, REZAR E AGIR.
Serginho Valle
Outubro de 2017
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