Na
prática, fazer pastoral é dinamizar a comunidade com as características do Bom
Pastor (Jo 10). Características tais como: amar o povo, conhecer a comunidade,
mostrar o caminho seguro, ser uma porta para que as pessoas acessem o redil do
Evangelho e o transformem em fonte de vida. A finalidade de toda pastoral, em
última análise, consiste em assumir o mesmo projeto de Jesus Bom Pastor: “eu vim para que todos tenham vida e vida em
abundância” (Jo 10,10). Por isso, a Pastoral Litúrgica não tem, como
finalidade primeira e principal, criar belas e atrativas celebrações, mas ser e
propor em cada e em todas as celebrações o encontro com Jesus, a fonte da vida
plena. Assim, entende-se o valor evangelizador através da Liturgia na formação
de uma comunidade de discípulos e discípulas do Evangelho.
Uma
primeira dedução é não transformar a Equipe Litúrgica, que coordena a Pastoral
Litúrgica Paroquial em — apenas — uma equipe de criatividade celebrativa. Digo
“apenas”, porque a criatividade litúrgica é importante, e torna-se ainda mais
importante à medida que entende seu trabalho não para fazer o que “o povo
gosta”, mas, para conduzir a comunidade, qual Bom Pastor, nos caminhos do Reino
de Deus, que é o caminho do discipulado. O critério principal da pastoral, em
síntese, é favorecer o crescimento do discipulado e isso acontece numa
comunidade evangelizada.
Lembrando a Palavra da Igreja
Em
sua carta pastoral para o início de milênio, São João Paulo II, na “Novo
Millenio Ineunte”, ao traçar um plano de pastoral para a Igreja nesta nova
etapa da história, pede que toda atividade pastoral olhe para Jesus Cristo, para
o seu modo de agir, para o seu modo de ser, para o seu modo de tratar o povo,
para que nele se inspirem todas as atividades pastorais. Diz o Papa:
“Agora, já não é uma
meta imediata que se apresenta diante de nós, mas o horizonte mais vasto e
empenhativo da pastoral ordinária. No respeito das coordenadas universais e
irrenunciáveis, é necessário fazer com que o único programa do Evangelho
continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada realidade
eclesial.” (Novo millenio ineunte, n. 29).
Interessante
observar que o texto do Papa fala de “o
único programa do Evangelho”. Quer dizer, a fonte de toda Pastoral é o
Evangelho, ilumina-se no Evangelho e tem por finalidade evangelizar, isto é,
colocar o Evangelho na vida das pessoas e nos relacionamentos sociais.
Ora,
isso é extremamente significativo para a Pastoral Litúrgica. Em todas as
celebrações, a Igreja celebra o Evangelho, proclama o Evangelho, orienta
(homilia) como viver o Evangelho no cotidiano da vida, introduz no caminho do
Evangelho (Iniciação Cristã), perdoa quem se desvia do caminho do Evangelho
(Penitência) e assim por diante. Nisto se fundamenta a criatividade litúrgica:
em celebrar a presença de Jesus (SC 7), que é sempre presença evangelizadora. Ou
seja, a Pastoral Litúrgica não tem a preocupação de fazer bem e fazer bonito para
transformar as celebrações em espetáculos, mas em vista da evangelização.
Pastoral para o nosso tempo e nossa
comunidade
A
primeira parte do texto de São João Paulo II, na “Novo Millenio Ineunte” faz referência ao empenho que a Igreja é
chamada a fazer neste novo milênio. O ponto central do texto consiste em
mostrar que a Pastoral, nas suas mais diferentes manifestações, tem uma única
finalidade: fazer com que o Evangelho, os valores evangélicos, penetre cada
mais no relacionamento humano, penetre na sociedade, penetre na comunidade.
Para isso se orientam os programas e estratégias pastorais. Lembrando o texto: “é necessário fazer com que o único programa
do Evangelho continue a penetrar, como sempre aconteceu, na história de cada
realidade eclesial.”
O
programa pastoral, portanto, tem a mesma identidade do programa do Evangelho,
mas com um detalhe que necessita atenção: penetre “na história de cada realidade eclesial”. Isso significa que cada comunidade
anuncie, celebre e viva o Evangelho com os valores e com a linguagem própria da
comunidade. Do ponto de vista Litúrgico: anunciado e celebrado com os valores e
com a linguagem da comunidade.
Esta,
reconheçamos, é a tarefa mais exigente e mais árdua da Pastoral Litúrgica.
Estou falando de inculturação litúrgica, um desafio que nunca deixa sossegada
uma Pastoral Litúrgica autêntica e dinâmica. Neste contexto, entende-se que o plano
da Pastoral Litúrgica Paroquial precisa conhecer as ovelhas (“pelo nome”, diz
Jesus), isto significa que a exigência leva a conhecer as necessidades
espirituais, pessoais e sociais do povo da comunidade. Quando isso acontece,
então sim, se pode dizer que a comunidade celebra a vida do povo. Eis o desafio
da Pastoral Litúrgica. Um belo desafio, penso eu.
Serginho Valle
Outubro de 2017
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