Anos
atrás, escrevi um livro chamado “Pastoral Litúrgica, uma proposta, um caminho”
(Loyola/Dehonianos - 1998) que, graças a Deus, continua sendo estudado, refletido
e debatido em muitas comunidades. Foram publicadas 4 edições e, recentemente,
publiquei o livro em formato ebook, que pode ser adquirido no site do SAL —
Serviço de Animação Litúrgica — www.liturgia.pro.br
Quando
lancei o livro, muitas pessoas ficaram surpresas com a possibilidade da
organização da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP). De fato, como escutei várias
vezes, “nossa Pastoral Litúrgica resume-se a uma lista de funções, pendurada no
mural da sacristia”. Relato isso em meu livro. Hoje, em tempos tecnológicos, a
PLP de muitas paróquias acontece pela distribuição de serviços num grupo de
wattsup. Não faz sentido condenar alguém, porque, talvez, a falta de orientação
fez perder a riqueza da Pastoral Litúrgica em favor da comunidade e de cada
membro da comunidade. Mesmo, assim, gostaria de considerar, a título de
avaliação, algumas críticas que ouvi, no tempo que ministrava cursos nas
comunidades.
Pastoral do laço
Descrevo essa prática da “Pastoral
do laço” no meu livro com mais calma. Acontece naquelas comunidades que, faltando
10 a 15 minutos para começar a Missa, algumas pessoas da “Liturgia” entram na
igreja para “laçar” comentaristas e leitores e, em momentos de desespero, laçar
cantores.
Diante
da proposta de uma Pastoral Litúrgica organizada, que valoriza o ministério do
leitorato, os defensores da “pastoral do laço” reagem e rejeitam a PLP: “não é
preciso; afinal, alguma vez faltou leitor ou comentarista na Missa? Se não
faltou, para que mais um trabalho e mais reuniões na comunidade?”
“Prá que mudar se a missa começa e
termina”
Outra realidade que impede a
organização da PLP vem dos acomodados da “Liturgia”. Têm como lema: “Prá que
mudar?”. Prá que mudar se a missa começa e sempre chega ao final? Prá que mudar
se o padre sozinho faz os batizados e não incomoda ninguém? Prá que mudar se os
casamentos são tão cheios de flores e teatro emocionados e emocionantes?” Depois
de tais considerações, arrematam um veredicto fatal: “está bom assim; pra que
mudar!”
O conselho desse pessoal é: “olha,
não vamos procurar sarna para nos coçar; vamos continuar como está, pois está
bom assim”. E podem continuar 10, 20 ou mais anos neste “marca passo”, quais
eternos patinadores, sem sair do lugar.
“Tenho o lugar garantido”
Outro grupo são aqueles que tem
lugar garantido, cadeira cativa para fazer o comentário, as leituras, as preces
e cantar na Missa. Normalmente, chegam em cima da hora, e vão direto para o
microfone para fazer comentários e leituras e animar a música, sem preparação
alguma. É a “Pastoral da cadeira cativa”. “Na Missa das 10hs – dizem – a 1ª leitura
é sempre minha.”
Esse pessoal também dificulta e
impede criar a Pastoral Litúrgica na comunidade e argumentam: “isso de criar
equipes de celebrações para cada missa, dá muito trabalho; vai ter que fazer
reunião uma vez por mês; vai ter que preparar as celebrações... Do jeito que
estamos fazendo, está bom”. E, por 10, 20 ou mais anos são sempre os mesmos
leitores, o mesmo comentarista, os mesmos cantores cantando as mesmas canções. É
a Liturgia é celebrada na mesmice até que vire museu.
“Na hora a gente vê”
Muitas equipes de celebrações deixam
tudo para a última hora. Não se preocupam em preparar leituras, comentários ou
escolher as canções. Desculpam-se dizendo: “na hora a gente vê”. Quando é
proposta uma caminhada de Pastoral Litúrgica, os músicos aconselham
doutoralmente: “o povo gosta do jeito que nós cantamos na igreja e, se gostam,
para que mudar?”
Conheci com um grupo assim.
Começaram como grupo de jovens, casaram-se, alguns já são avós e continuam
cantando as mesmas músicas do seu tempo de grupo de jovens; continuam fazendo
as mesmas procissões de oferendas do tempo de grupo de jovens e continuam
achando que vivem há 25 anos atrás.
O folheto tem tudo
Os mais radicais defensores do
“deixa disso” apoiam-se nos folhetos como critério litúrgico para as
celebrações. Os ditos cujos interrogam: “para que preparar, se o folheto traz
tudo o que precisa ser feito?” Com estes é difícil argumentar. Julgam-se no
direito de serem liturgicamente corretos, enquanto “leitores de folhetos” e não
admitem que o folhetos podem servir para uma melhor preparação para as
celebrações.
Concluindo
Proponho alguns exemplos de
dificuldades; talvez hajam mais relevantes. São dificuldades de emperram o
caminho da comunidade porque a celebração Litúrgica, na comunidade, de
indivíduos e grupos que consideram a Liturgia e as celebrações como uma função
finalizada em si mesmas. Toda celebração tem um alcance maior que simplesmente
realizar ritos, fazer leituras e cantar canções. Têm uma finalidade evangelizadora,
por exemplo, tem uma finalidade pedagógica na formação do discipulado, tem uma
finalidade testemunhal, tem uma importância imprescindível na formação da
espiritualidade... Para se corresponder a tais finalidades, não se pode
celebrar de qualquer modo, não se pode ter sempre os mesmos leitores como se
fossem os únicos testemunhas da Palavra na comunidade; não se pode cantar as
mesmas canções, pois cada celebração é cantada de modo diferente e pede canções
diferentes.
Na maior parte das comunidades sem
uma PLP organizada percebe-se que as celebrações, especialmente (e
infelizmente) da Missa, são atividades rituais de um determinado horário da
comunidade. Isso é muito triste, porque reflete a imagem de comunidades
paradas, sem iniciativas, sem propostas. O conceito que a Liturgia é cume e
fonte de todas as atividades da Igreja (SC10) é verdadeiro e observável em comunidades
com PLP dinâmicas e criativas. Comunidades que celebram bem são ativas, vivas
e, principalmente criativas não só nas celebrações, mas em todas as atividades
da comunidade. A celebração é apenas o espelho da comunidade.
Serginho Valle
Outubro 2017
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