Dentre os critérios propostos
para escolher o canto de comunhão, um deles é a dimensão orante. A escolha do
canto de comunhão pode estar relacionada com a Liturgia da Palavra, pode inspirar-se
em algum compromisso existencial, derivado do Evangelho, um compromisso
eclesial, como é o caso da Campanha da Fraternidade, ou outro critério
condizente. Peço permissão para chamar sua atenção para o critério orante na
escolha de um canto de comunhão.
É
preciso esclarecer que não se trata de um canto de adoração Eucarística.
Aquelas são canções destinadas a momentos adoradores ao Santíssimo Sacramento.
A dimensão orante, que me refiro, tem a ver com acompanhar a procissão da
comunhão rezando com a canção. Isto acontece de modo especial pelo canto de um
salmo. Um exemplo muito fácil para compreender o que digo: se o Evangelho
relata a atividade do Bom Pastor, uma excelente escolha para cantar durante a
procissão da comunhão seria o Sl 22, seja na versão Bíblica, seja nas versões
poetizadas que conhecemos em nossas comunidades.
A dimensão
orante, ou a inspiração orante, para escolher a canção que acompanha o rito
processional da comunhão deveria e poderia estar mais presente, especialmente
naquelas celebrações que a Liturgia da Palavra favorece a opção por uma canção
orante. Uma boa inspiração, neste sentido, encontra-se no salmo responsorial,
que sendo orante, pode facilitar a escolha. Não se trata, evidentemente, de
repetir o salmo responsorial, mas de inspirar-se nele para escolher uma canção
orante. Se, por exemplo, o salmo responsorial for o Sl 25, a canção “A ti meu
Deus, elevo meu coração”, é uma excelente proposta.
Isso torna-se
mais fácil quando o ministério da música conhece as canções, não somente pela
letra, mas pela inspiração Bíblica. Infelizmente, este é um exercício que
poucos músicos fazem: o exercício de meditar a poesia da canção, de rezar a
canção inspirando-se em textos Bíblicos. Se isso acontecesse de modo
sistemático, não assistiríamos a triste cena do ministério da música, minutos
antes da Missa, escolhendo afobados o que cantar na celebração, muitas vezes
com escolhas desconectadas do contexto celebrativo. O critério é cantar rezando
e para isso é preciso conhecer a dimensão orante das canções.
Canto de comunhão é canto comunitário
Fomos
acostumados, ou ensinados, a entrar na fila da comunhão, comungar, voltar ao
nosso lugar e ficar em silêncio, para rezar silenciosamente. Para quem gosta de
colocar interrogações do tipo certo-errado, aviso que não está errado fazer
isso. Tal procedimento é fruto de uma espiritualidade individualista que
perdura na celebração litúrgica, a qual se caracteriza como oração comunitária.
É a dificuldade de perceber que se trata de comungar comunitariamente a vida
divina, no Pão e no Vinho consagrados, e — caminhando juntos até a Mesa da
Eucaristia — comungar a vida de quem celebra, unidos na mesma prece, na mesma
mesa, na mesma canção. O rito da comunhão Eucarística não prima pela
individualidade, mas pela comunhão, pela fraternidade comunitária. Uma das
finalidades do canto de comunhão é expressar a comunhão fraterna.
O momento da
oração individual depois da comunhão não está descartado na Liturgia
Eucarística. O silêncio acontece depois da comunhão, iniciado quanto os
ministros do ministério da música (músicos) param de exercer seu ministério
para comungar. É o silêncio pós-comunhão, contemplado nas Instruções Gerais do
Missal Romano (IGMR 43; 88). Infelizmente, muitas comunidades adotaram o
costume de dar comunhão aos músicos antes dos celebrantes. Invertem assim o
momento do silêncio. Aliás, a Liturgia prevê silêncio antes de comungar deste a
oração secreta, feita somente pelo padre, em silêncio. Algumas comunidades
introduziram esta oração para o povo, impedindo o silêncio preparatório dos
celebrantes.
O serviço
ministerial da música prevê que os músicos comunguem depois que todos
celebrantes comungaram, já que durante o rito da partilha Eucarística, estão
servindo pelo exercício do seu ministério musical, tocando e cantando.
Repito, o rito
da comunhão Eucarística é um rito comunitário, de uma Igreja viva, Corpo
Místico de Cristo, que vai ao altar para comungar o Sacramento do Corpo de
Cristo como Igreja que caminha. Por isso, o canto de comunhão, naquelas
celebrações que assim favorecem, deveria ser escolhido e cantado como oração
comunitária, da qual toda a assembleia participa. Depois que todos cantam,
então sim, a Liturgia Eucarística prevê um tempo de silêncio para a oração
pessoal. Tenho percebido que muitos padres, por algum motivo, ignoram ou
desprezam o silêncio pós-comunhão, esquecendo que o silêncio é parte integrante
da Missa e, a pós-comunhão se caracteriza como rito silencioso, por um breve
momento, para a oração pessoal.
Serginho Valle
Janeiro 2020
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