O agente da Pastoral Litúrgica que não cultiva e não bebe da espiritualidade litúrgica pouco a pouco começa a perder o interesse pelo seu serviço e, quase sempre, ou abandona ou o realiza de qualquer jeito. Diante desse quadro, entende-se a necessidade de incrementar e cultivar a espiritualidade entre os agentes da Pastoral Litúrgica para que encontrem sentido naquilo que fazem e o façam da melhor forma possível. Assim, a atividade pastoral reverterá em benefício próprio e beneficiará espiritualmente todos os celebrantes pela qualidade espiritual cultivada e partilhada nas celebrações.
Conceito de espiritualidade
A
palavra espiritualidade tem a ver com “espírito”; com “espiritual”. Não é
novidade para ninguém que ao falar de espiritualidade, vamos tratar de coisas
referentes ao espírito e ao que tem relação com espiritual. Se existe esta
primeira dimensão, referente ao “espírito” e ao “espiritual”, há uma outra
conotação que precisa ser considerada: o sufixo “dade” que indica ação,
atividade, algo que se constrói, que vai sendo edificado, vai sendo cultivado
pouco a pouco. Isto faz compreender que a espiritualidade não é algo pronto,
mas cultivado da mesma forma que se cultiva um jardim, com o mesmo cuidado e
dedicação no cultivo de uma horta.
Diante
de tais considerações, compreende-se que “espiritualidade” não é algo passivo,
mas uma ação, uma atividade, uma verdadeira construção que pertence à esfera do
espírito, à esfera do espiritual, à interioridade da pessoa. A espiritualidade
é um exercício que, pelo seu cultivo, vai formando, modelando a pessoa, à
medida que ela se abre e permite que o Espírito Santo nela aja. Portanto, o
cultivo da espiritualidade não é unicamente humano, mas principalmente divino e
humano (Jr 18,6). Trata-se de um exercício tão forte que influencia todo o agir
da pessoa: seu modo de pensar, de tratar os outros e seu relacionamento consigo
próprio. A espiritualidade determina um modo de vida e um modo de
relacionamento. Em resumo: a espiritualidade
determina um comportamento e um estilo de vida.
A
espiritualidade, portanto, não tem nada a ver com passividade, inativo, somente
receptivo, mas algo ativo que precisa ser exercitado por meios próprios para o
crescimento sereno e equilibrado. Não se pode reduzir a espiritualidade a momentos
de oração, de meditação Bíblica, de Lectio Divina, de celebrações sacramentais...
tudo isso, e outras atividades mais, neste contexto, fazem parte do cultivo da
espiritualidade. O foco é compreender a espiritualidade como atividade do
Espírito Santo na vida pessoal.
Agente da PLP e cultivo da espiritualidade
O enquadramento proposto pela
compreensão da espiritualidade, nada exaustivo, faz compreender que quem atua
em qualquer atividade pastoral da Igreja só terá bom desempenho se neste serviço
for cultivada a espiritualidade. Isto é ainda mais válido para quem atua na
PLP, na Pastoral Litúrgica Paroquial.
Quem atua na PLP tem uma
responsabilidade direta, quase obrigatória, eu diria, para com o cultivo da
espiritualidade na comunidade. Isto é ainda mais premente nas comunidades que
não contam com uma Pastoral da Espiritualidade, quando a Liturgia é única fonte
da espiritualidade da comunidade. Ora, quem é responsável por Liturgia torna-se
responsável para cultivar a vida espiritual na comunidade e da comunidade. Como
ninguém não pode dar do que não tem, o agente da PLP deve ser um exemplar
cultivador da espiritualidade, especialmente da espiritualidade litúrgica.
Certamente que todos os cristãos são
convidados a cultivar a espiritualidade, mas alguns são chamados, por vocação, a
dedicarem completamente suas vidas ao exercício da espiritualidade. Muitos se
retiram do mundo para poder cultivar este estilo de vida. No meio do povo, nas
mais diferentes atividades existenciais e sociais, como diz o documento conciliar
Gaudium et spes, está o testemunho vivo dos leigos e, no caso presente,
daqueles que atuam pastoralmente na atividade litúrgica. Quer dizer: quem bebe na
fonte espiritual da Liturgia vive testemunhalmente o que celebra no meio do
mundo.
Serginho
Valle
Agosto
de 2020