A dimensão espiritual do sacerdócio, do ponto de vista litúrgico, encontra-se nos três graus do sacramento da Ordem: diaconal, presbiteral e episcopal. Em cada um destes graus existe um modo próprio de viver a espiritualidade cristã, viver o discipulado. Na Oração consacratória, encontramos algumas características próprias da espiritualidade em cada um dos graus da graça sacerdotal.
O diaconato alimenta-se da espiritualidade do serviço, a exemplo de Cristo que
veio para servir e não ser servido (Mt 20,28). O presbítero alimenta-se da
espiritualidade missionária e evangelizadora, “para que as palavras do
Evangelho cheguem aos confins da terra e os povos se tornem um só povo de Deus”
(oração consacratória da ordenação presbiteral). No grau episcopal, a
espiritualidade do bispo caracteriza-se pela total e absoluta dedicação ao
rebanho da Igreja, a exemplo de Cristo Pastor e seja “pela mansidão e pureza
de coração, uma oferenda agradável” a Deus (cf. Oração consacratória da
ordenação episcopal).
Em qualquer grau do sacerdócio, a Liturgia da ordenação tem um elemento comum:
o sacerdote é chamado a viver sua espiritualidade configurando-se a Cristo,
dedicando sua vida de modo pleno e total à evangelização para que o “mundo
creia”, para que o mundo viva os valores do Reino de Deus e se encontre com a
Salvação que Deus concede por seu Filho Jesus. Vive-se esta dimensão da
espiritualidade no mesmo amor oblativo de Jesus Cristo, alimentando-se da
Eucaristia e da oração para a glória de Deus e para o bem do povo, na
profundidade e na dinâmica que cada uma dessas palavras representa na teologia
da Igreja.
O alimento espiritual é idêntico em
todos os estágios existenciais: é o alimento da Palavra de Deus, Eucaristia,
oração, ascese, etc.... Mas, aqui o destaque é para que a glória de Deus se
faça presente no mundo (Cf. Jo 1,14) e isso dentro da dimensão joanina, que
apresenta Jesus Cristo como a luz do mundo e luz para o mundo (Jo 3,19; 8,12). No
contexto da Teologia e espiritualidade joanina, a vida sacerdotal é uma vocação
dedicada ao serviço do povo, para que Jesus seja o caminho, a verdade e a vida
do mundo (Jo 14,16), para que Jesus a porta que dá acesso ao Pai (Jo 10,9),
para que o mundo creia que somente nele, em Jesus Cristo, o homem e a mulher
encontrem sentido existencial. A espiritualidade sacerdotal deve inundar o
sacerdote (diácono, padre ou bispo) desta verdade a ponto dele não lhe
pertencer, mas, a exemplo de Paulo, ser todo de Cristo e de Cristo nele vivendo
plenamente (Cf. Ef 3,8-9; Rm 14,17; Gl 2,20).
Estes elementos, citados aqui de
modo indicativo, se fazem presentes no rito litúrgico da Ordem, nos três graus,
e indicam um programa de vida e um sentido existencial para quem responde a
esta vocação.
Serginho Valle
Abril de 2021
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