31 de mar. de 2017

“Velatio” das imagens

A tradição de velar as imagens, na Quaresma, a partir do 5º Domingo da Quaresma, mas especificamente, vem de longa data. Os historiados litúrgicos falam de uma tradição que remonta ao século IX. Consiste em cobrir as imagens com um pano roxo e, o crucifixo, com um pano branco, antes de iniciar a Semana Santa. Hoje, não existe obrigatoriedade, mas o Diretório Litúrgico continua propondo a “velatio” das imagens a partir do 5º Domingo da Quaresma. 
O contexto, no qual nasceu a “velatio”, retornando ao século IX, era marcado pela devoção aos santos e santas de maneira muito intensa, superando inclusive a atenção para com a Eucaristia. Por isso, buscando na “velatio” um recurso didático, a Igreja pretendia chamar atenção para a centralidade da Páscoa cobrindo as imagens. 
Por que no 5º Domingo da Quaresma? De acordo com uma antiga tradição da Teologia Quaresmal, no 5º Domingo da Quaresma iniciava-se aquilo que é considerado “Tempo da Paixão”, marcada por uma atenção especial nos preparativos da Semana Santa, quando se celebra a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor.
Depois da Reforma Litúrgica (1963), a maior parte das comunidades abandonou o costume da “velatio”, talvez devido a uma interpretação indevida no uso deste e de outros sinais que favoreciam a participação do povo no tempo litúrgico. Uma retomada deste costume veio com a Carta Circular “Paschalis Sollemnitatis” que, no seu parágrafo 26 diz o seguinte: “o uso de cobrir as cruzes e as imagens na igreja, desde o V domingo da Quaresma, pode ser conservado segundo a disposição da Conferência Episcopal. As cruzes permanecem cobertas até ao término da celebração da Paixão do Senhor na Sexta-feira Santa; as imagens até ao início da Vigília Pascal.”
Outra prescrição semelhante a esta, ainda na “Paschalis Sollemnitatis”, no parágrafo 57 orienta como proceder a “velatio” na conclusão da Missa “n Coena Dmini”, na Quinta-feira Santa, com estas palavras: “concluída a Missa é desnudado o altar da celebração. Convém cobrir as cruzes da igreja com um véu de cor vermelha ou roxa, a não ser que já tenham sido veladas no sábado antes do V domingo da Quaresma. Não se podem acender velas ou lâmpadas diante das imagens dos santos.”

Duas considerações sobre a “velatio” em nossos dias
            A primeira consideração que faço a este costume litúrgico é considerar sua finalidade catequética: chamar atenção para a centralidade do Mistério Pascal que está para ser celebrado proximamente. Proximidade pelo fato de que a “velatio” acontece no 5o Domingo da Quaresma.  Ligado ao fator catequético, existe a disposição pedagógica, de estabelecer um sinal no contexto do espaço celebrativo como que avisando os celebrantes sobre a proximidade da Semana Santa, na qual se celebra o Mistério Pascal de Jesus Cristo. Este é um conceito que seria bom que o Ministério da Ornamentação tivesse presente.
            Minha segunda consideração sobre a “velatio” está no contexto da reflexão sobre a ornamentação do espaço celebrativo, daquilo que denomino de “símbolo contextual”.
Talvez a “velatio” não se enquadre no aspecto simbólico, porque do ponto de vista da semiologia está mais para sinal que para símbolo. Por isso, uma sinalização que anuncia a proximidade da Semana Santa. No conceito de “símbolo contextual” a “velatio” tem sim espaço para que o Ministério da Ornamentação proponha uma mensagem de atenção em vista da proximidade da Semana Santa.
Serginho Valle
2017



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