A
Liturgia, especialmente a Liturgia da Palavra, tem uma dimensão pedagógica
importante na vida cristã, que precisa ser cada vez mais valorizada. É uma
pedagogia que acontece aos poucos, Domingo depois de Domingo — dia após dia,
para quem freqüenta as celebrações Eucarísticas diárias — a Liturgia forma seus
celebrantes em discípulos e discípulas de Jesus. Por isso, a importância de
preparar bem a Liturgia da Palavra, especialmente, a homilia, que é a
atualização da Palavra para o contexto histórico atual.
A
celebração litúrgica alimenta os celebrantes com duas mesas: a Mesa da Palavra
e a Mesa da Eucaristia. Aquilo que se ouve na Mesa da Palavra torna-se alimento
espiritual e fortalece a vida interior do comungante Eucarístico e faz com que
ele permaneça em Cristo para produzir frutos de vida, permanecendo em Jesus: “Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele” (Jo 6,56). Voltemos nosso olhar para a Mesa da
Palavra, onde Deus nos alimenta com sua Palavra e, nesse processo alimentador,
conduz pedagogicamente a vida dos celebrantes.
Estes dois elementos,
de anunciar a Palavra e torná-la vivenciavel, demonstram a importância de
leitores bem preparados e de homilias bem feitas. Estamos falando da “pedagogia litúrgica em ato”, que
acontece na Liturgia a Palavra, em vista de uma vida cristã digna de um
discípulo e discípula de Jesus Cristo. Por vida cristã digna entende-se o
comportamento cristão em todos os relacionamentos sociais e em todos os setores
da sociedade.
A pedagogia divina,
da qual a pedagogia litúrgica se inspira, rege-se pelo parâmetro da formação
continuada, em vista de formar discípulos e discípulas do Evangelho. Um destes
meios é a alimentação seqüenciada e paulatina, e sempre nutritiva, presente na
Liturgia da Palavra. Podemos dizer que a Liturgia da Palavra é a visita divina
que, todos os dias (ou ao menos uma vez por semana), Deus realiza para nos
falar de vida plena e de como viver na serenidade e na paz interior. A Liturgia
da Palavra é um momento de convivência com Deus que, em seu Filho Jesus, conversa
propondo um caminho, ensinando um estilo de vida sempre novo. Entende-se,
assim, que a Liturgia da Palavra — particularmente a homilia — não é para
explicar uma doutrina ou ensinar uma teologia, mas para propor um modo de viver
e um novo estilo de vida. A pedagogia litúrgica, na Liturgia da Palavra,
portanto, propõe essencialmente um estilo de vida fundamentado em
relacionamentos de amor, de fraternidade, de perdão, de colaboração solidária.
Trata-se de algo tão
sério que a Igreja recomenda que as leituras da Missa e das celebrações
sacramentais sejam proclamadas por pessoas que entendam e vivam o que lêem. Não
se pode, portando, escolher qualquer pessoa para proclamar as leituras, por
mais importante socialmente que ela seja; o testemunho de vida conta. O mesmo
vale para as homilias. Que estas não sejam para explicar as leituras, mas para
propor um modo de viver e, por isso, o padre deve falar de experiência própria,
não como um professor que transmite conhecimentos, mas como um mestre que vive
o que fala.
(Serginho Valle)
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