A
busca da paz interior enche consultórios de psicólogos em todas as partes do
mundo. O caminho para o encontro com esta paz, tão desejada e procurada, começa
pelo silenciamento, pelo aprendizado do silêncio, que é a porta para se entrar
na casa da oração e da meditação orante. Por isso, podemos sim ir ao psicólogo
e pedir que nos ensine a encontrar a paz interior, mas podemos também seguir o
exemplo do Mestre, que buscava locais silenciosos para se encontrar com o Pai e
passar a noite em oração (Lc 6,12).
A escola orante da Liturgia escolheu
este segundo caminho: transformar nossas celebrações e os espaços celebrativos
em locais silenciosos, onde é possível ouvir a Palavra do Pai (Liturgia da
Palavra) e se alimentar da vida divina partilhada como alimento, na Comunhão
Eucarística. É com este princípio que as celebrações litúrgicas se apresentam
como possibilidade pedagógica para a oração pessoal e comunitária. Um modo de
conceber as celebrações litúrgicas como escola da oração cristã.
Não é tarefa fácil, numa cultura com
uma dificuldade imensa para silenciar, até mesmo quando, no caso cristão, sabe
e reconhece que o silêncio é um ensinamento testemunhal do Mestre. Dificuldade
também porque existe uma forte tendência transferir a linguagem de auditórios para
as celebrações. Aquela do auditório é uma linguagem mais fácil e com um
feedback, com um retorno, imediato, do ponto de vista participativo, além de o
aprendizado acontecer diariamente, na sala da casa, diante da televisão.
À medida que isso vai se tornando
costume, corre-se o risco de cultivar uma religião com fundamentos emocionais, fundamentada
numa fé como auto-ajuda, diminuindo força da fé que se alimenta da oração
silenciosa de quem ouve e louva o Senhor, reconhecendo que para Deus até o
silêncio é louvor (Sl 65,1). A biografia de santos está repleta de exemplos de
homens e mulheres que aprenderam a silenciar diante de Deus, especialmente no
silêncio celebrativo da Liturgia.
Ora, é importante que se diga: isto não
significa celebrar com sisudez, de modo seco. As palmas e até a dança
celebrativa podem acontecer na celebração, mas dentro de limites quanto a
momentos celebrativos, tempos litúrgicos e duração intra-celebrativa. Do ponto
de vista da pedagogia orante, Liturgia não é atração musical, é escola de
oração inspirada na oração silenciosa do Mestre.
Reconheço
que se trata de um caminho árduo, que exige muito esforço da parte de padres e
da Pastoral Litúrgica. Mas, tenho experiência de muitas comunidades, especialmente
entre os jovens que, depois de experimentar celebrações silenciosamente orantes
— com canções orantes, com orações silenciadas, por exemplo — buscam mais
intensamente estes momentos. Não precisamos de músicas modernas (ou modernosas)
para atrair os jovens, crianças e adultos para as Missas. Precisamos sim
daquilo que temos e recebemos da Igreja: celebrar Liturgias orantes, para que
as pessoas se encontrem com Deus e com o Senhor. Quanto menos barulho em
nossas celebrações, melhor!
Serginho Valle
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