8 de jul. de 2016

Comunicação litúrgica pela gestualidade – IGMR 42

Os gestos e posições do corpo tanto do sacerdote, do diácono e dos ministros, como do povo devem contribuir para que toda a celebração resplandeça pelo decoro e nobre simplicidade, se compreenda a verdadeira e plena significação de suas diversas partes e se favoreça a participação de todos. Deve-se, pois, atender às diretrizes desta Instrução geral e da prática tradicional do Rito romano e a tudo que possa contribuir para o bem comum espiritual do povo de Deus, de preferência ao próprio gosto ou arbítrio.
            A posição comum do corpo, que todos os participantes devem observar é sinal da unidade dos membros da comunidade cristã, reunidos para a sagrada Liturgia, pois exprime e estimula os pensamentos e os sentimentos dos participantes.


            A gestualidade é uma importante linguagem comunicativa e, enquanto tal faz parte da comunicação litúrgica celebrativa. Estão presentes em todos os sacramentos, evidentemente, mas nossa atenção foca-se na Instrução Geral do Missal Romano — IGMR 42.
            A IGMR 42 serve-se de uma duplicação de sentido quando fala de “gestos e posições do corpo”. Entende-se que todo gesto é uma posição corporal e toda posição corporal se traduz em gestos. A posição corporal de estar de pé, sentado ou ajoelhado, por exemplo, é um gesto corporal que, no nosso contexto, é uma linguagem com um significado e uma finalidade celebrativos. Isto é, existe um léxico da linguagem gestual para a celebração litúrgica. Não iremos tratar dos significados gestuais, neste momento, porque a IGMR 42 não tem este propósito; apenas destaca o motivo de se prestar atenção e ter cuidado com os gestos para que a comunicação litúrgica seja eficaz.

Decoro celebrativo
            O primeiro cuidado para com os gestos, na comunicação litúrgica, tem a finalidade de contribuir com o decoro celebrativo. Isto implica em considerar que a gestualidade litúrgica não se pauta pela espontaneidade, mas por aquilo que denomino de “etiqueta celebrativa”. Assim como se tem etiquetas para se comportar educadamente em situações sociais diferentes, assim existe uma “etiqueta celebrativa”, com a qual os celebrantes se comportam no decorrer de uma celebração Eucarística. O contexto celebrativo, por aquilo que celebra — o Mistério Pascal de Cristo — merece o respeito de uma gestualidade educada ou, no dizer da IGMR 42, decorosa. Existe um toque de classe postural que caracteriza a gestualidade litúrgica no decorrer da celebração.  
            A “etiqueta celebrativa”, da qual faço referência, não se expressa por uma solenidade pomposa ou uma espontaneidade extravagante, nem por jeitos ou trejeitos teatrais. Ao contrario, a IGMR 42 propõe que a mesma se manifeste por meio de uma “nobre simplicidade”. Respeito e solenidade sim, mas de modo simples e com sobriedade. A solenidade litúrgica em geral não se pauta pelo exagero, mas pela simplicidade e isto se manifesta também através da linguagem gestual.

Catequese litúrgica
            Um segundo elemento chamado em causa, na IGMR 42, diz respeito à catequese litúrgica, que deve vir em auxílio dos celebrantes, para que compreendam o significado da gestualidade e o motivo das posições corporais no durante celebrativo. Nas entrelinhas da IGMR 42 subentende-se que a linguagem gestual litúrgica, enquanto linguagem corporal, tem significados próprios, com os quais os celebrantes participam da celebração e, por meio desta linguagem entram em contato com Deus nos diferentes momentos celebrativos. É pela gestualidade — linguagem corporal — que os celebrantes rezam com o corpo, silenciam o corpo para ouvir a Palavra ou para adorar, se ajoelham e se inclinam diante do mistério, e assim por diante. De onde a necessidade de uma catequese para compreensão quanto ao cuidado de expressar pelo gesto-corporal aquilo que se celebra em cada rito.

Participação celebrativa
            Uma das grandes insistências da reforma Litúrgica (1963) pauta-se na participação dos celebrantes (SC 30). A IGMR 42 orienta que a comunicação gestual favoreça a participação celebrativa. Algumas pessoas, equivocadamente, limitam a participação celebrativa à comunicação oral ou musical. Consideram que os celebrantes participam bem se, por exemplo, rezarem partes da Oração Eucarística, se leigos proclamarem o Evangelho... Assim, transformam a Missa em falação. A IGMR 42 abre este campo participativo com a orientação gestual de silenciosamente ficar de pé, nos dois exemplos citados (mas que pode se alongar para outros), para respeitosamente ouvir o Evangelho e a proclamação da Oração Eucarística.
            Outra confusão, que as vezes se observa, é quanto a uniformidade. Falo daqueles que colocam exigências de todos a fazerem exatamente a mesma coisa. A gestualidade, enquanto parte da “etiqueta celebrativa”, não se rege por obrigações, mas pelo bom andamento da celebração em favor de todos. Por isso, a gestualidade é disciplinada por ritos que preveem momentos para caminhar em procissões (entrada, ofertório e comunhão), momentos para se levantar as mãos, momentos para se ajoelhar, ficar de pé... Todos estes gestos, embora tenham seus significados próprios, são também funcionais, em vista do bom andamento da celebração. Tem assim uma função e uma finalidade. Isto vale também para quem preside a celebração, presidindo com gestos que favoreçam a participação de todos e não a dispersão dos celebrantes.
O parágrafo segundo desta IMGM 42 oferece outra finalidade funcional que completa o enunciado apenas contemplado: a unidade celebrativa. Todos unidamente participando do mesmo e único sacrifício pascal. Conclui dizendo que a linguagem gestual, quando realizada de acordo com o que é proposto na IGMR 42 “estimula os pensamentos e os sentimentos dos participantes”. Isto é, cria uma unidade que favorece a concentração e evita a dispersão.
Serginho Valle
2016



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