23 de jul. de 2016

Comunicação litúrgica corporal: de pé - IGMR 43

Os fiéis permaneçam de pé, do início do canto da entrada, ou enquanto o sacerdote se aproxima do altar, até a oração do dia inclusive; ao canto do Aleluia antes do Evangelho; durante a proclamação do Evangelho; durante a profissão de fé e a oração universal; e do convite Orai, irmãos antes da oração sobre as oferendas até o fim da Missa, exceto nas partes citadas em seguida. (IGMR 43a)

            Depois de uma breve introdução sobre a importância e a necessidade dos gestos e posturas corporais, no decorrer da celebração Eucarística (IGMR 42), a Instrução Geral do Missal Romano (IGMR) passa detalhar a organização dos gestos e posturas corporais, na Missa, a começar pelo estar de pé. Os momentos de ficar de pé estão detalhados no texto que reproduzimos acima da primeira parte da IGMR 43.  Em nossa proposta de ler a IGMR a partir da comunicação litúrgica, o permanecer de pé tem um simbolismo com uma finalidade comunicacional, enquanto é um modo de participação ativa dos celebrantes.

Gesto orante
            O estar de pé é uma atitude orante, especialmente presente nas orações coletas — colecta, super oblata e pos communio —, na oração dos fiéis e em outras partes da Missa, como nos ritos que preparam a Comunhão Eucarística e na maior parte da proclamação da Oração Eucarística. É assim que os celebrantes rezam o Pai nosso, por exemplo, de pé e, como acontece entre nós, de braços estendidos para o alto. É assim que os celebrantes participam, rezando de pé, ouvindo silenciosamente a Oração Eucarística, ou cantando o rito do glória. São exemplos de uma atitude orante com a qual os celebrantes participam ativamente da celebração Eucarística. Arriscaria dizer que assumir outra posição, ficar ajoelhado em toda a Oração Eucarística, por exemplo, é um modo de se esquivar de participar ativamente da celebração como assembléia, preferindo assumir uma posição individualizada.
            A atitude orante do estar de pé encontra-se em várias pinturas e mosaicos antigos, como a famosa “Nossa Senhora Orante”, que se apresenta de pé diante de Deus, com as mãos e os braços abertos, apresentando seu coração livre e puro diante de Deus. É a mesma atitude, estar de pé, adotada pelo presidente da celebração em todos os momentos orantes; de pé e com os braços estendidos, exceto nas “orações secretas”, quando fica de mãos postas e a cabeça inclinada.
            São João Crisóstomo (séc. IV) explicava o sentido de estar de pé, do bispo ou padre que presidia a Missa, como a atitude apropriada do mediador entre o povo e Deus, no decorrer da celebração.

Posição do ressuscitado
            Um dos mais antigos significados do permanecer de pé, no decorrer da celebração Eucarística, indica a posição de ressuscitado. O ressuscitado é alguém vivo, que permanece de pé. Este fato é tão marcante que, nos primeiros tempos da Igreja, se participava da Liturgia o tempo todo de pé. De fato, os bancos com genuflexórios foram introduzidos nas igrejas por volta do século X. Antes não havia bancos nas igrejas e, até hoje, as basílicas romanas não contam com bancos na sua nave central para manter-se fiel a tradição de permanecer de pé na “actio liturgica”. As igrejas do Rito Oriental não têm bancos e os celebrantes não se ajoelham. Permanecem de pé, em atitude de quem celebra como ressuscitado.
            Este simbolismo tem um forte fundamento Bíblico no Apocalipse, quando João descreve que os salvados, aqueles que foram redimidos com o Sangue do Cordeiro, permaneciam de pé diante do trono (Ap 7,9). O estar de pé, neste caso, é a posição dos vitoriosos, a mesma posição que compete aos celebrantes, lavados no Sangue do Cordeiro quando mergulhados no Batismo, ocasião na qual receberam a veste branca da vida nova e renovada na Ressurreição do Senhor. Além do mais, com o gesto de ficar de pé, os celebrantes da terra se unem, na mesma posição de ressuscitados e adorantes, com os participantes da Liturgia celeste.

Respeito
            Outro significado que se encontra no gesto de permanecer de pé é aquele do respeito. Estar de pé é uma atitude respeitosa. Isto se torna evidente em alguns momentos da celebração, como durante a recitação das orações e principalmente para ouvir a proclamação do Evangelho. O permanecer de pé para ouvir o Evangelho é uma atitude de respeito para com o mesmo e, além disso, tem conotação com o fato de ser a Palavra que ressuscita para a vida eterna, isto é, que nos coloca de pé.
            Este sinal de respeito, presente na posição do estar de pé, sempre esteve presente na Liturgia da Igreja. Alguns autores comentam que, nos primeiros séculos, antes de introduzir a posição de sentar-se e ajoelhar-se, os celebrantes permaneciam de pé praticamente a celebração inteira, em atitude respeitosa, como já referi acima, e quando ficavam cansados apoiavam-se nas paredes da igreja ou em bastões. Mas tinha uma exceção: não se apoiavam em nada durante a proclamação do Evangelho e durante a Oração Eucarística; permaneciam de pé para simbolizar que o Evangelho e a Eucaristia são os grandes suportes da vida cristã.
            A mesma atitude de ficar de pé, para concluir, é proposta tradicionalmente para o Tempo Pascal, o tempo do ressuscitado. Neste tempo, a tradição litúrgica conserva o hábito de rezar de pé, até mesmo durante a consagração do Pão e do Vinho, presença viva e real do Ressuscitado entre nós.
            Em conclusão, o estar de pé, o ficar de pé, o permanecer de pé durante a celebração não e uma formalidade litúrgica, é um modo comunicacional de interagir e, por isso, de participar ativamente da celebração Eucarística.
Serginho Valle
2016




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