20 de jul. de 2019

Linguagem simbólica na Liturgia

A arte de comunicar-se bem consiste no conhecimento e na prática da linguagem. Um bom músico só se comunica bem quando conhece a linguagem e tem prática, depois de muito treino e ensaio, com seu instrumento. Assim como o músico precisa conhecer o instrumento, conhecer a linguagem e a técnica para bem se comunicar, o mesmo acontece com quem se dedica à arte da comunicação litúrgica: necessita conhecimento da linguagem litúrgica.
            Ao se tratar da linguagem litúrgica, estamos falando de uma linguagem complexa ou, melhor dizendo, da multilinguagem que compõe o processo comunicativo litúrgico presente na prática celebrativa. Estou falando da linguagem da música, linguagem oral, linguagem visual e, dentre outras, da linguagem simbólica. Este conjunto de linguagens faz com que a Liturgia situe-se no contexto de comunicação artística. Por isso, é preciso conhecimento e senso artístico para se comunicar bem com a comunicação litúrgica. Neste processo comunicativo artístico, que permeia toda celebração litúrgica, meu aceno vai para os símbolos e sinais na ação litúrgica.
Quando as palavras não conseguem dizer tudo, então se recorre aos símbolos. Isto acontece muito na comunicação litúrgica ao fazer amplo uso da linguagem simbólica. A Liturgia acontece num contexto simbólico, como é o fato de nossas igrejas, que não são salões com palcos, mas arquitetura simbólica que abriga a celebração litúrgica. Todas as celebrações sacramentais são realizadas com símbolos e com gestos simbólicos. Nisto inclui simbolismos do vestuário, como os paramentos e as vestes ministeriais, simbolismos gestuais, como os gestos orantes, as posições corporais... tudo com significados simbólicos. A comunicação litúrgica não é “falatória” e muito menos “falação”, é uma comunicação dinamicamente simbólica e significativa. Por isto, a necessidade de conhecer o que significa cada símbolo e cada sinal para celebrar com dignidade e faticamente.
O código simbólico litúrgico é complexo e traz consigo uma bagagem de séculos de Tradição e de tradições. Sim, Tradição com o “T” maiúsculo, indicando a “Traditio” que se fundamenta na Palavra e no patrimônio sacramental simbólico eclesial formado no decorrer dos séculos e, as tradições com “t” minúsculo, composto de ritos introduzidos em épocas culturais. Por isso, repetindo, a linguagem simbólica litúrgica é riquíssima e, ao mesmo tempo complexa. É uma linguagem essencialmente artística e, por isso, quando não bem feita sabota a celebração com comunicações ruidosas.

Celebrar com símbolos e sinais
A complexidade da linguagem simbólica e sígnica da comunicação litúrgica exige conhecimento, arte e, uma coisa que às vezes se esquece, simplicidade que, no caso, tem a ver com a medida certa. O excesso de sinais e símbolos torna-se ruído no processo comunicativo litúrgico. É uma comunicação que precisa ser bem dosada. O excesso de símbolos e sinais, além daqueles que são próprios da celebração litúrgica, por exemplo, torna a celebração litúrgica pesada, longa, cansativa e provocadora de distração. De outro lado, a ausência de símbolos e sinais, a torna áspera, sem atrativo, seca e, sem receio de afirmar, a torna vazia, sem graça. A comunicação simbólica litúrgica distingue-se pela simplicidade discreta, que a faz comunicativamente bela.
Para isso existe um critério que precisa ser levado em conta. O critério do “reconhecimento”. Uma das tantas definições e funções de sinal e símbolo, válidos especialmente para a comunicação litúrgica, é aquela do reconhecimento. O argumento do “reconhecimento” fundamenta o gesto celebrativo simbólico mais emblemático presente na Liturgia Eucarística: “eles o reconheceram ao partir o pão” (Lc 2431). O gesto simbólico de partir o pão, feito com o símbolo do pão, revela a presença (o reconhecimento) do Senhor. Os discípulos reconhecem no simbolismo do pão e no gesto simbólico de repartir o pão na mesa, a presença de Jesus. Disto podemos concluir que encher a celebração de sinais e símbolos, com explicações e mais explicações para cada sinal e símbolo, é ruído comunicativo; é chato, é sinônimo de celebração com tempo psicológico interminável. A inflação da “simbolomania” é prejudicial para a comunicação litúrgica.
Voltando ao que se dizia, para introdução de símbolos ou sinais na celebração adote-se o critério do “reconhecimento”. Usar símbolos e sinais, nos quais os celebrantes reconhecem a presença do Senhor na vida cotidiana. E para isso, a necessidade de conhecimento e da arte de bem se comunicar com a linguagem litúrgica e, mais ainda, o conhecimento da compreensão simbólica dos celebrantes.
Serginho Valle
Julho de 2019


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