
Ao se tratar da linguagem litúrgica,
estamos falando de uma linguagem complexa ou, melhor dizendo, da multilinguagem
que compõe o processo comunicativo litúrgico presente na prática celebrativa.
Estou falando da linguagem da música, linguagem oral, linguagem visual e,
dentre outras, da linguagem simbólica. Este conjunto de linguagens faz com que
a Liturgia situe-se no contexto de comunicação artística. Por isso, é preciso
conhecimento e senso artístico para se comunicar bem com a comunicação
litúrgica. Neste processo comunicativo artístico, que permeia toda celebração
litúrgica, meu aceno vai para os símbolos e sinais na ação litúrgica.
Quando
as palavras não conseguem dizer tudo, então se recorre aos símbolos. Isto
acontece muito na comunicação litúrgica ao fazer amplo uso da linguagem
simbólica. A Liturgia acontece num contexto simbólico, como é o fato de nossas
igrejas, que não são salões com palcos, mas arquitetura simbólica que abriga a
celebração litúrgica. Todas as celebrações sacramentais são realizadas com símbolos
e com gestos simbólicos. Nisto inclui simbolismos do vestuário, como os
paramentos e as vestes ministeriais, simbolismos gestuais, como os gestos
orantes, as posições corporais... tudo com significados simbólicos. A
comunicação litúrgica não é “falatória” e muito menos “falação”, é uma
comunicação dinamicamente simbólica e significativa. Por isto, a necessidade de
conhecer o que significa cada símbolo e cada sinal para celebrar com dignidade e
faticamente.
O
código simbólico litúrgico é complexo e traz consigo uma bagagem de séculos de
Tradição e de tradições. Sim, Tradição com o “T” maiúsculo, indicando a
“Traditio” que se fundamenta na Palavra e no patrimônio sacramental simbólico
eclesial formado no decorrer dos séculos e, as tradições com “t” minúsculo,
composto de ritos introduzidos em épocas culturais. Por isso, repetindo, a
linguagem simbólica litúrgica é riquíssima e, ao mesmo tempo complexa. É uma
linguagem essencialmente artística e, por isso, quando não bem feita sabota a celebração
com comunicações ruidosas.
Celebrar com símbolos e sinais
A
complexidade da linguagem simbólica e sígnica da comunicação litúrgica exige
conhecimento, arte e, uma coisa que às vezes se esquece, simplicidade que, no
caso, tem a ver com a medida certa. O excesso de sinais e símbolos torna-se
ruído no processo comunicativo litúrgico. É uma comunicação que precisa ser bem
dosada. O excesso de símbolos e sinais, além daqueles que são próprios da
celebração litúrgica, por exemplo, torna a celebração litúrgica pesada, longa,
cansativa e provocadora de distração. De outro lado, a ausência de símbolos e
sinais, a torna áspera, sem atrativo, seca e, sem receio de afirmar, a torna
vazia, sem graça. A comunicação simbólica litúrgica distingue-se pela simplicidade
discreta, que a faz comunicativamente bela.
Para
isso existe um critério que precisa ser levado em conta. O critério do
“reconhecimento”. Uma das tantas definições e funções de sinal e símbolo,
válidos especialmente para a comunicação litúrgica, é aquela do reconhecimento.
O argumento do “reconhecimento” fundamenta o gesto celebrativo simbólico mais
emblemático presente na Liturgia Eucarística: “eles o reconheceram ao partir o pão” (Lc 2431). O gesto simbólico
de partir o pão, feito com o símbolo do pão, revela a presença (o
reconhecimento) do Senhor. Os discípulos reconhecem no simbolismo do pão e no
gesto simbólico de repartir o pão na mesa, a presença de Jesus. Disto podemos
concluir que encher a celebração de sinais e símbolos, com explicações e mais explicações
para cada sinal e símbolo, é ruído comunicativo; é chato, é sinônimo de celebração
com tempo psicológico interminável. A inflação da “simbolomania” é prejudicial
para a comunicação litúrgica.
Voltando
ao que se dizia, para introdução de símbolos ou sinais na celebração adote-se o
critério do “reconhecimento”. Usar símbolos e sinais, nos quais os celebrantes
reconhecem a presença do Senhor na vida cotidiana. E para isso, a necessidade
de conhecimento e da arte de bem se comunicar com a linguagem litúrgica e, mais
ainda, o conhecimento da compreensão simbólica dos celebrantes.
Serginho Valle
Julho de 2019
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