
A
celebração litúrgica é uma arte que toca todos os sentidos. Podemos dizer, em
termos comparativos, que a pintura e a fotografia, por exemplo, comunicam-se
pela luz, atraindo o olhar. A escultura pode ser tocada; arte que se serve da
visão e do tato. A música é uma arte que passa pelos ouvidos, não pelo olhar, e
convida o corpo a dançar. E assim com a linguagem de outras artes.
O
processo comunicativo na Liturgia desenvolve-se com uma linguagem multisensorial
porque toca, atinge, coloca em movimento, todos os sentidos. Num rito de
ingresso (procissão inicial), por exemplo, comunica-se com a arte visual —
símbolos levados na procissão de entrada — com a arte musical — canto que
acompanha a procissão de ingresso — com a arte cinésica — caminhar até o altar
— com a arte gestual — inclinação ao altar e beijo no altar —. Por isso, só no
rito inicial podemos perceber o envolvimento de várias competências
comunicativas. No decorrer da celebração, aparecem outras mais.
Tratando-se
de arte comunicativa, estamos falando de competências para que a mensagem
chegue e, mais que isso, atinja a vida dos destinatários. Competência para que
o ingresso do rito inicial de uma Missa, por exemplo, seja de fato uma
procissão e não um desfile com padre e ministros cumprimentando distribuindo acenos.
Que os músicos tenham a competência de não abafar a voz dos celebrantes, mas
saibam tocar seus instrumentos e cantar de tal modo que a voz da assembléia
ressoe no interior da igreja. O símbolo da Cruz Processional, do Evangeliário,
as velas... sejam símbolos bonitos, atraentes, dignos, despertadores de
respeito e reverência.
Esta
exposição, contemplado mesmo que superficialmente apenas os ritos iniciais,
denota a necessidade de competências para se comunicar com a arte da
comunicação litúrgica. Celebrar com arte é se servir de várias linguagens
artísticas que atingem todos os sentidos dos celebrantes que, por sua vez, não
são meros assistentes — para quem se apresenta a Missa a uma platéia —, mas
participantes ativos de todo este processo comunicativo. Participação na arte
que favorece nos celebrantes o ouvir, ver, sentir, tocar, degustar, cantar,
silenciar... Querer transformar a celebração em falatórios, acumulando
explicações de explicações, para explicar o Mistério, dificulta, ou até mesmo
impede, o processo de acolher a mensagem sem alguma indicação verbalizada. A
linguagem artística não se comunica somente com palavras e não é dirigida
somente ao intelecto, mas passa fortemente pelo sentimento e atinge a vida.
Em
resumo, não se pode transformar a celebração em falação. A comunicação verbal
tem prevalência, mas como oração e com algumas (breves) monições, não em forma
de explicações ou e menos ainda com minissermões. A homilia, entendida como momento
da partilha da Palavra, é breve, entre 8 e 10 minutos no máximo. Todos estes
fatos favorecem compreender que a linguagem litúrgica é uma linguagem
artística, que carece de explicações quando comunicada com competência.
A
linguagem artística da Liturgia
Não
tenho receio de definir a comunicação litúrgica como uma bela obra de arte que
se comunica com diferentes linguagens. Muitas delas compreendidas unicamente
pela experiência — no sentido de envolvimento — na participação ritual. Por
isso, as explicações de Missa parte por parte, por exemplo, favorece muito
pouco a compreensão Litúrgica do ponto de vista comunicativo. Sendo a linguagem
litúrgica uma linguagem artística, o foco não está na compreensão do que se
faz, mas no como se faz para atingir a vida dos celebrantes. Na comunicação da arte,
a compreensão não acontece por explicações, mas pelo contato com a emoção e com
o sentimento que repercute na vida pessoal promovendo algum significado.
Não
se pode deixar de falar que, hoje, existe um exagero neste aspecto de usar a
linguagem litúrgica focando unicamente no emocional: fechar os olhos, tocar no
coração, levantar os braços, música de fundo, apagar a luz... Não existe
comunicação artística sem a emoção, mas focá-la exageradamente na emoção, do ponto
de vista da comunicação litúrgica, é ruidoso. O mesmo se diga daquelas
celebrações que se canta o tempo todo. A música é uma linguagem artística
importante na comunicação litúrgica, mas quando se exagera e se inflaciona a
celebração com canções, existe ruído. Quando se exagera na simbolização, existe
ruído; quando se exagera na verbalização existe ruído. E assim com todas as linguagens.
A comunicação artística é discreta. Você se coloca diante de um quadro, por
exemplo, de uma bela obra de arte, e comunica-se com o quadro permitindo que as
luzes das cores penetrem em você e, pouco a pouco, timidamente, acorde
sentimentos e emoções que passam a ter sentido, que ganham significado ao
entrar em contato com a sua vida. Aqui temos um processo ideal na comunicação
litúrgica. Uma comunicação artisticamente discreta que faz significado na vida sem
qualquer tipo de imposição verbal, intelectual, emocional...
Celebra
bem quem se comunica discretamente com a linguagem artística sem se preocupar
com conteúdos e com efeitos. Proponho, neste sentido, agir como pintor, que
propõe discretamente sua obra, o seu quadro, permitindo que cada destinatário
encontre no quadro um significado diferente, de acordo com sua experiência existencial.
Serginho Valle
Julho de 2019
0 comentários:
Postar um comentário
Participe. Deixe seu comentário aqui.