Antes dos celebrantes, que compõem a
assembléia litúrgica, se aproximarem da Mesa Eucarística, todos se detém
silenciosamente seja como atitude, seja mentalmente para sintonizarem-se com a
Palavra, pela qual Deus fala. Sim, é Deus quem fala pela Palavra, presente no
Livro Santo, e é o próprio Jesus quem anuncia o Evangelho, pois ele está
presente na Palavra, especialmente presente na proclamação do Evangelho, no
decorrer da celebração litúrgica (SC 7). Entende-se, pois, que antes de um
evento de tamanha importância, diante do próprio Deus e de nosso Mestre que
falam na assembléia litúrgica, existe a necessidade de silenciar. Silenciar
para ouvir; silenciar os ouvidos dos rumores externos e silenciar o coração e a
mente de tudo que os possam distrair. Tudo, seja no corpo como na mente, devem
silenciar para ouvir Deus falar.
Do ponto de
vista ritual, a Liturgia da Palavra é celebrada com ritos silenciosos, que
favorecem a escuta e a atenção para com quem nos fala. Este “quem nos fala”,
volto a repetir, é o próprio Deus, é o próprio Jesus Cristo. Além disso, até
mesmo o rito da oração dos fiéis, que é parte integrante da Liturgia da
Palavra, não se realiza com todos os celebrantes falando juntos, recitando a
mesma oração conjuntamente, mas silenciosamente ouvindo as intenções e
participando com as súplicas aclamativas. Os momentos de intervenção vocal, na
Liturgia da Palavra, são sempre aclamativos: assim são as aclamações depois de
cada leitura, a antífona do salmo responsorial, a aclamação ao Evangelho e o
refrão das preces. Exceção feita unicamente à Profissão de Fé. Predomina, pois
o silêncio, interrompido por aclamações de acolhimento da Palavra divina na
vida dos celebrantes.
Os ministros,
do ponto de vista comunicacional, também devem favorecer o silêncio, evitando
todo tipo de ruídos. Ruídos que passam pela qualidade proclamativa da leitura (“ler
bem”), o modo de se apresentar diante dos celebrantes (modo de se vestir e
posição corporal), o local de onde proclamam a Palavra (ambão) e a importância
de proclamar a Palavra com o Livro. Em resumo: ler bem, jamais folhetos, nada
de roupas indecorosas e sempre proclamar a Palavra do ambão. A Palavra de Deus
merece todo respeito.
Além disso, quem
for proclamar as leituras não pode se limitar ao “ler bem”, precisa saber
interpretar a leitura, dar vida e cativar os celebrantes para o que está sendo
anunciado. Até mesmo quando crianças forem
proclamar as leituras, estas devem estar devidamente preparadas e serem capazes
de compreender, dentro de suas capacidades, o que estão lendo. O ambão é um
espaço sagrado e merece respeito. Um respeito que
é demonstrado, em primeiro lugar pelo leitor. Leituras mal feitas desrespeitam
a Palavra e demonstram falta de respeito para com os celebrantes. Primeiro se
aprenda a ler, depois se considere apto para proclamar a Palavra diante da
assembléia.
Uma última anotação
para concluir estas considerações iniciais sobre a Liturgia da Palavra diz
respeito ao testemunho de vida. No rito da Instituição dos Leitores, o bispo
diz que o leitor deverá se alimentar do que lê na Palavra e viver de acordo com
aquilo que proclama. Trata-se de uma predisposição básica na
escolha dos leitores. Não se pode
admitir pessoas que não tenham vida de testemunho cristão, que estão envolvidos
com atitudes indignas de um cristão. O que ele proclama, em suma, não pode ser
desmentido pela Palavra que proclama. Neste sentido, o critério do “ler bem”, não
é suficiente. Além de “ler bem” é preciso que procure viver o que lê e se
empenhe em testemunhar o que lê.
Serginho Valle
2016
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