29 de jul. de 2016

Comunicação litúrgica corporal: sentado – IGMR 43b

Sentem-se durante as leituras antes do Evangelho e durante o salmo responsorial; durante a homilia e durante a preparação das oferendas; e, se for conveniente, enquanto se observa o silêncio sagrado após a Comunhão. (IGMR 43b).


            O segundo parágrafo da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR 43b) relata uma disposição prática para os ritos das leituras antes do Evangelho — 1ª leitura, 2ª leitura e salmo responsorial —, homilia, preparação das oferendas e para a oração silenciosa depois da comunhão. Como dito, trata-se de uma orientação prática orientando os celebrantes a participar desses ritos, sentado. Também este gesto tem uma proposta comunicativa no contexto da comunicação litúrgica, presente na Missa, do ponto de vista corporal. É o comunicar-se celebrativamente com o corpo.

Sentado: atitude de escuta e acolhimento
            Sentar-se é uma atitude comunicativa de escuta, no processo comunicativo interpessoal do ocidente. Em nossas sociedades existe o hábito de sentar-se no exercício do processo comunicativo de conversar, trocar ideias, ouvir e falar com o outro. Em situações formais, o sentar-se indica atitude de escuta e disposição para falar. A mesma proposta encontra-se presente na atitude corporal do sentar, no decorrer da Liturgia da Palavra. Os celebrantes sentam para ouvir a Palavra de Deus e sentam para ouvir a proposta vivencial desta mesma Palavra, na homilia. Do ponto de vista comunicativo, o sentar-se indica uma atitude de escuta e, enquanto tal, de acolhimento.
            O estranho desta atitude de escuta e acolhimento, na maior parte das celebrações Eucarísticas, está no fato dos celebrantes terem livretos ou folhetos nas mãos, durante a proclamação das leituras. Não deixa de ser uma contradição comunicacional: sentar-se para acolher e ouvir a Palavra que é proclamada com a atitude de celebrantes voltados para si mesmos, cada qual de cabeça baixa, lendo individualmente o seu folheto. Enquanto o verbo “proclamar a Palavra” indica que a comunicação é para que todos ouçam o que se proclama, olhando o proclamador, a atitude dos ouvintes torna-se individualizada, cada um lendo seu folhetinho descartável. É um processo comunicativo interrompido de um proclamador da Palavra que não encontra feedback dos olhares e da atenção para com aquilo que lê. É uma espécie de desprezo para com a Palavra e com o leitor, exagerando um pouco.

Sentar-se para silenciar e rezar
            Outra indicação da IGMR 43b considera a posição de estar sentado como apta para silenciar e rezar silenciosamente depois da comunhão. A mesma posição de silenciar, mas para meditar é proposta para depois da homilia. Ambas são muito pouco observadas, pelo que constato. O que mais observo é o padre fazer da conclusão de sua homilia a monição para a Profissão de Fé e, tão logo se termina a partilha da Comunhão Eucarística, o padre reza a coleta pos communio, impossibilitando, em ambos os casos, a proposta da IGMR 43b do silêncio meditativo e orante.
            A tradição ocidental da oração, principalmente no meio popular, é de se colocar de joelhos. Muitos catequistas da 1ª comunhão orientam as crianças a ficarem ajoelhados depois de comungarem, enquanto que a IGMR 43b orienta a sentar. Considera-se que o ajoelhar-se nem sempre é a melhor posição, pois quando o corpo começa a pesar, pelo estar ajoelhado, perde-se a concentração na oração. Quanto mais confortável estiver o corpo, melhor será a disposição para rezar. Por isso, a orientação para ficar sentado depois da comunhão é a posição litúrgica proposta pela IGMR 43b.
            Colocar-se sentado — silenciosamente sentado, acrescentemos — para rezar tem a ver com a posição comunicacional de quem se dispõe a falar e ouvir também na oração. Aqui, diga-se de passagem, existe a necessidade de ajudar os celebrantes a aprender a rezar silenciosamente. Isto é, sem dizer palavras nem mesmo em seus pensamentos, mas de silenciosamente deixar o Espírito Santo falar e rezar em seus corações, considerando o que diz Paulo, que é o Espírito que reza em nós (Rm 8,26). É a necessidade do silenciamento para o Espírito agir. A postura de ficar sentado para rezar, portanto, tem em vista a finalidade prática de favorecer o conforto corporal em vista da qualidade da concentração e do silenciamento, seja fazendo-se ouvinte da Palavra ou orante silencioso.
Serginho Valle
2016


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