6 de jul. de 2019

A Liturgia na vida do sacerdote

O padre, porque lida com as coisas de Deus, deve estar próximo de Deus para partilhar a vida divina com quem celebra os sacramentos, os momentos de oração ou ritos de piedade (bênçãos, funerais, adoração ao Santíssimo...). Quanto mais intimidade com Deus o padre tiver, mais facilmente poderá conduzir os celebrantes ao encontro com Deus na celebração litúrgica.
            Deste pressuposto, pode-se dizer que não existe celebração mais ou menos bonita, porque todas se tornam bonitas quando o padre favorece nos celebrantes o encontro com Deus. Não se trata de criar, apenas, um clima emocional para despertar sentimentos fortes, mas de favorecer o encontro com Deus no modo de celebrar. E para isso, a santidade de vida do padre é imprescindível, particularmente manifestada pelo zelo e pelo carinho com que trata a Liturgia e como se coloca em oração quando preside as celebrações.
A santidade na vida sacerdotal é um exercício de contato com Deus que o padre procura realizar e viver diariamente e de diversos modos, seja pela caridade com todas as pessoas, seja pela sua vida de oração pessoal, seja pela fidelidade à sua vocação. No que se refere à Liturgia, entre tantas outras propostas, chamo atenção a três momentos de meditação relacionados à Eucaristia: antes, durante e depois da Missa.
Antes da Missa, como preparação, que pode ser feita pela Lectio Divina e pela reflexão das leituras do dia. Durante a Missa, aproveitando o silêncio depois da homilia ou o tempo silencioso quando não se faz homilia. Por fim, a oração depois da Missa, que poderá acontecer num breve momento de ação de graças pessoal, na igreja mesmo, ou num momento do dia. São momentos nutritivos da vida espiritual do sacerdote, ligados à Liturgia, para alimentar seu coração com a paz divina.
            A meditação, seja pela Lectio Divina, seja se servindo de outros métodos, é essencial na vida do padre, especialmente importante para seu ministério de guia espiritual da comunidade. Assim como o alimento material não alimenta e nem sustenta a vida se não for devidamente assimilado pelo corpo, assim o sacerdote não terá condições de caminhar em seu ministério se não se alimentar da Palavra de Deus. Faz parte da fidelidade ao seu ministério sacerdotal alimentar-se diariamente com a Palavra de Deus, para que tudo que disser e fizer seja iluminado e motivado pela Palavra divina. Isto ganha visibilidade nas homilias e no modo como celebra os sacramentos, como por exemplo, no aconselhamento e orientação de confissões, no conforto da celebração da Unção dos Enfermos, no modo de fortalecer a fé em situações de funerais, na maneira de propor a presença divina na celebração matrimonial, etc...
            Para concluir, uma última consideração: a importância da oração com a Palavra de Deus. A Lectio Divina cumpre tal finalidade, mas existe outra que gostaria de destacar e que considero importantíssima na vida do padre: a Liturgia das Horas. A pedagogia orante da Liturgia das Horas, de permear o dia em oração, é excelente e essencial na vida espiritual do sacerdote. Gostaria de fazer referência ao Ofício das Leituras, por ser uma oração, pela qual se entra em contato com a Palavra de Deus e com escritos espirituais dos Padres da Igreja. Dedicar de 15 a 20 minutos para recitar os salmos e deixar que eles cantem no seu coração é fonte de paz interior, momento de intimidade com o Senhor, condição necessária para descansar com o Senhor e alimento espiritual. O padre que aprende a rezar poeticamente com os salmos torna-se mais humano e mais sacerdotal por conviver todos os dias com a poesia humana transformada em oração e em Palavra de Deus.
Serginho Valle
Julho de 2019


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