A Liturgia da Palavra,
na Missa e nos Sacramentos, é comunicativamente estruturada em modo dialógico.
Diálogo entre pessoas, aquela Divina, que fala através da Palavra — o meio
comunicacional por excelência — e as pessoas humanas, reunidas em assembléia
celebrante e celebrativa.
Do ponto de vista comunicativo, o destaque desta Liturgia
é a Palavra, escrita com “P” maiúsculo por se referir à Palavra de Deus. É uma
Palavra a ser acolhida, mas também celebrada como elemento memorial da
Encarnação, especialmente presente na proclamação do Evangelho, pois quando se
proclama é o Evangelho é o próprio Jesus Cristo quem fala (SC 7; IGMR 29).
Motivo pelo qual a proclamação do Evangelho é festejada e aclamada com cantos
de aclamações ou antífonas aleluiáticas.
Como referido noutra reflexão sobre a Liturgia da Palavra,
a comunicação celebrativa na Liturgia da Palavra acontece num clima de completo
silêncio por dois motivos. Primeiro, o motivo humano, considerando que só se é
capaz de acolher bem quem nos dirige a palavra quando se é capaz de silenciar
para ouvir. De onde o silêncio ser o ambiente necessário para que a Palavra
possa ser anunciada e devidamente acolhida. O segundo elemento é Litúrgico.
Aqui entramos no campo da comunicação simbólica, do silêncio como símbolo —
symbolon, o mesmo que Sacramento — o espaço onde o Espírito Santo age e se
movimento. O silêncio litúrgico é símbolo do Espírito Santo. Ele é a voz
silenciosa de Deus que fala na quietude do coração celebrante. De onde, pois, a
necessidade de silenciar para que o Espírito Santo possa agir no coração e nas
mentes dos celebrantes a fim de acolher verdadeira e sinceramente a Palavra.
Este silêncio precede à Liturgia, na vida do padre, quando toma contato
silencioso (espiritual) com a Palavra antes de proclamá-la e meditá-la com a
assembléia, na homilia.
Principais sinais e
símbolos na comunicação litúrgica da Palavra
O processo comunicativo litúrgico da Palavra, como
acontece em todo processo comunicativo humano, é feito também com sinais e
símbolos. Ambos têm a finalidade de promover melhor participação e compreensão
da mensagem que comunicada, como tem ainda a finalidade de valorizar a
dignidade da Palavra.
Estes sinais e símbolos presentes na Liturgia da Palavra
destacam a dignidade da Palavra proclamando-a do Livro Sagrado, o símbolo mais
sublime da Palavra divina entre nós. São dois livros distintos, especialmente
presentes nas Missas Dominicais e naquelas de solenidades e festas: o
Lecionário e o Evangeliário. Este segundo livro, o Evangeliário, recebe todas
as honras pelo rito processional, seja na procissão inicial como naquela que o
conduz até o ambão, além disso é honrado com a incensação, com o beijo, com a
ostentação e, nas Missas presididas pelos bispos, usado para abençoar o povo,
após a proclamação do Evangelho. Tudo para comunicar a excelência do Evangelho
como presença memorial de Cristo, anunciando no nosso hoje o mesmo Evangelho
anunciado “in illo tempore” (naquele tempo). Entende-se, portanto, que proclamar as leituras e principalmente o Evangelho
de folhetos ou livretes como que joga no lixo toda a dignidade da Palavra.
Outro símbolo litúrgico é o espaço de onde se proclamam as
leituras: o ambão ou Mesa da Palavra. Depois do altar, o ambão é também uma
mesa por isso, não somente do ponto de vista estético, mas comunicativamente
simbólico-litúrgico, o ambão é feito com o mesmo material do altar. Se o altar
é de mármore, também o ambão será de mármore, por exemplo. Sobre o ambão
remetemos a um artigo já publicado neste blogger.
Comunicadores da Palavra
Um último elemento são os comunicadores da Palavra. O
principal comunicador é Deus e Jesus Cristo, mas eles se servem da voz humana
para que sua Palavra chegue até as pessoas. Por se tratar de uma Palavra
especial, sublime, entende-se que os comunicadores da mesma precisam de
preparo, seja na qualidade comunicativa (saibam ler) como na qualidade
testemunhal (procurem viver o que leem). Sobre isto já fiz referência em outro
artigo sobre a Liturgia da Palavra e dedicarei um artigo somente ao leitor.
Enquanto presença comunicativa do leitor, foco deste
artigo, ela se manifesta através da roupa, da postura, da impostação da voz e
da interpretação do texto. Hoje, muitas comunidades vestem seus leitores com a
“veste celebrativa”, destacando o ministério do leitorado. Na falta da mesma,
espera-se que os leitores façam as leituras bem vestidos, isto é, sem roupas
extravagantes.
Quanto à sua postura, entende-se o modo de se apresentar
diante da assembléia, o jeito como fica de pé, o modo como fala no microfone
(sem gritar e não falando fora do microfone), o modo de ler (pausadamente, com
um ritmo capaz de ser acompanhado, mas não lentamente). Entra aqui também a
impostação da voz, no sentido de fazer uma leitura agradável, sem gritos e nem
baixa demais a ponto de, mesmo com microfone, seja inaudível. Indispensável dizer
que o leitor precisa saber ler e ler bem; se não sabe ler, primeiro aprenda,
porque a dignidade da Palavra e o respeito pela assembléia exigem que o
ministério do leitorado seja exercido por quem sabe ler bem.
Mas, não basta apenas saber ler; ele precisa saber
interpretar a leitura. Ter o estilo litúrgico de proclamar a Palavra: nem
dramático e nem meloso, porque se passará por ridículo, mas proclamar a Palavra
de modo natural, interpretando-a de tal modo que seja compreensível e
artisticamente agradável de ser ouvida. Sobre isto, voltaremos em outro artigo.
Serginho Valle
2016
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