A espiritualidade do Sacramento da Penitência diz respeito à reconciliação e à libertação do pecado. É o sacramento da volta, que retoma as relações com Deus e com os irmãos afetadas pelo pecado. É o sacramento que ajuda reencontrar Deus e o irmão ao cair em si e tomar consciência do pecado cometido. É o sacramento “para que os fiéis, tendo caído em pecado após o Batismo, se reconciliem com Deus” (Ritual da Penitência, n. 3).
A dimensão
espiritual, como todo o projeto da espiritualidade do sacramento da Penitência,
está demonstrada na parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). É uma
espiritualidade reparadora, da volta para casa, da coragem e humildade de
colocar-se aos pés da Igreja, na pessoa do padre, para pedir perdão pelos
pecados. É um verdadeiro exercício de ascese, de luta interior, que faz “entrar
em si” (Lc 15,17), reconhecer-se longe de Deus e da família/comunidade eclesial
e, a partir disso, tomar o firme propósito de voltar: “voltarei para a casa
do meu Pai e direi” (Lc 15,18-20).
O primeiro
aspecto desta espiritualidade, portanto, é reconhecer-se pecador, aceitar a
graça e entrar em si. Para tanto, conta-se com a graça divina e com a ajuda
orante e acolhedora dos irmãos (Mt 18,15-20). É grande a riqueza espiritual de
quem se sente necessitado do perdão reparador. De quem, harmonizado e maduro na
fé, contempla seu estado deplorável e vai em busca da reconciliação com o Pai e
com sua comunidade. Esta é a primeira graça do Sacramento da Penitência.
A
espiritualidade do sacramento da Penitência tem início na acolhida da graça
divina que faz alguém ser capaz de “entrar em si” e continua na humildade, no
gesto humilde de confessar sua falta ao Pai, que lhe resgata a vida. É quando
acontece o milagre da reparação: o Pai aceita e reveste seu filho com a
dignidade de quem pode sentar-se à mesa para a festa da vida onde o alimento da
vida plena é farto (Lc 15,22-24).
Interessante
perceber o detalhe do “revestimento”. Uma vez perdida ou manchada a veste
branca do batismo, ao perdoar quem pecou, o Pai reveste; dá uma veste nova ao
filho, calçados para os pés e anel no dedo (Lc 15,22). É a reparação do pecado,
a recuperação do irmão que estava morto e foi-lhe devolvida a vida (Lc 15,32).
O pecado é a morte da vida e a volta a Deus é a reparação da vida, a
recuperação da vida, a graça da ressurreição espiritual. É uma espiritualidade
que contempla a reparação de quem estava no pecado, morto para Deus, longe de
Deus e voltou a viver na graça.
São alguns
acenos da espiritualidade litúrgica da Penitência vivenciada por quem o
celebra, penitente e confessor. É a alegria espiritual de poder sentar-se à
mesa e não passar o restante da vida comendo a sujeira, a lavagem existencial
destinada aos porcos (Lc 15,16). Eis a espiritualidade reparadora de quem se
faz ministro da reconciliação tanto no ministério sacerdotal como no ministério
de quem se dispõe a preparar seus irmãos e irmãs para bem celebrar e viver esta
espiritualidade da volta à vida, de volta à harmonia espiritual de viver na
casa do Pai.
Serginho
Valle
Maio de 2021
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