22 de mai. de 2021

Espiritualidade litúrgica no Sacramento da Penitência

A espiritualidade do Sacramento da Penitência diz respeito à reconciliação e à libertação do pecado. É o sacramento da volta, que retoma as relações com Deus e com os irmãos afetadas pelo pecado. É o sacramento que ajuda reencontrar Deus e o irmão ao cair em si e tomar consciência do pecado cometido. É o sacramento “para que os fiéis, tendo caído em pecado após o Batismo, se reconciliem com Deus” (Ritual da Penitência, n. 3).

A dimensão espiritual, como todo o projeto da espiritualidade do sacramento da Penitência, está demonstrada na parábola do filho pródigo (Lc 15,11-32). É uma espiritualidade reparadora, da volta para casa, da coragem e humildade de colocar-se aos pés da Igreja, na pessoa do padre, para pedir perdão pelos pecados. É um verdadeiro exercício de ascese, de luta interior, que faz “entrar em si” (Lc 15,17), reconhecer-se longe de Deus e da família/comunidade eclesial e, a partir disso, tomar o firme propósito de voltar: “voltarei para a casa do meu Pai e direi” (Lc 15,18-20).

O primeiro aspecto desta espiritualidade, portanto, é reconhecer-se pecador, aceitar a graça e entrar em si. Para tanto, conta-se com a graça divina e com a ajuda orante e acolhedora dos irmãos (Mt 18,15-20). É grande a riqueza espiritual de quem se sente necessitado do perdão reparador. De quem, harmonizado e maduro na fé, contempla seu estado deplorável e vai em busca da reconciliação com o Pai e com sua comunidade. Esta é a primeira graça do Sacramento da Penitência.

A espiritualidade do sacramento da Penitência tem início na acolhida da graça divina que faz alguém ser capaz de “entrar em si” e continua na humildade, no gesto humilde de confessar sua falta ao Pai, que lhe resgata a vida. É quando acontece o milagre da reparação: o Pai aceita e reveste seu filho com a dignidade de quem pode sentar-se à mesa para a festa da vida onde o alimento da vida plena é farto (Lc 15,22-24).

Interessante perceber o detalhe do “revestimento”. Uma vez perdida ou manchada a veste branca do batismo, ao perdoar quem pecou, o Pai reveste; dá uma veste nova ao filho, calçados para os pés e anel no dedo (Lc 15,22). É a reparação do pecado, a recuperação do irmão que estava morto e foi-lhe devolvida a vida (Lc 15,32). O pecado é a morte da vida e a volta a Deus é a reparação da vida, a recuperação da vida, a graça da ressurreição espiritual. É uma espiritualidade que contempla a reparação de quem estava no pecado, morto para Deus, longe de Deus e voltou a viver na graça.

São alguns acenos da espiritualidade litúrgica da Penitência vivenciada por quem o celebra, penitente e confessor. É a alegria espiritual de poder sentar-se à mesa e não passar o restante da vida comendo a sujeira, a lavagem existencial destinada aos porcos (Lc 15,16). Eis a espiritualidade reparadora de quem se faz ministro da reconciliação tanto no ministério sacerdotal como no ministério de quem se dispõe a preparar seus irmãos e irmãs para bem celebrar e viver esta espiritualidade da volta à vida, de volta à harmonia espiritual de viver na casa do Pai.

Serginho Valle

Maio de 2021

 

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