Liturgia: Coração da Unidade Eclesial
A primeira viagem apostólica do Papa Leão XIV à Turquia, no final de novembro de 2025, foi avaliada como um gesto significativo em favor da unidade dos cristãos.
É também uma oportunidade para compreender a Liturgia
como epifania da unidade entre os cristãos e, ao mesmo tempo, como fonte e
ápice da busca pela unidade com outras comunidades cristãs.
Ela é fonte, sobretudo nos Sacramentos da
Iniciação Cristã, pois todos os cristãos nascem do mesmo Batismo e
são conduzidos pelo mesmo e único Espírito Santo que age na ação
litúrgica. É também cume, na perspectiva da esperança, no dia em que
todas as Igrejas cristãs puderem se alimentar da mesma Ceia Pascal, na Eucaristia,
ápice visível da comunhão.
A Liturgia como Fundamento Comum
A Turquia, terra de antigos ritos e de cidades que
acolheram os primeiros Concílios Ecumênicos, revela como a ação
litúrgica foi, desde o início, um dos laços mais sólidos da unidade entre as
Igrejas. O Credo Niceno-Constantinopolitano, professado nas liturgias
Católica, Ortodoxa e em algumas Igrejas Protestantes, permanece como testemunho
vivo dessa herança comum.
A Liturgia é o lugar onde a Igreja se manifesta
unida em sua plenitude, alimentando-se da única Mesa da Palavra, que une
os cristãos na mesma mesa e no acolhimento do mesmo Evangelho de Jesus
Cristo.
Do ponto de vista histórico, os Ritos Litúrgicos
Orientais, como os celebrados pelas Igrejas Bizantina, Armênia,
Antioquina e Siríaca, constituem patrimônio de toda a cristandade.
Apesar das variações rituais, a celebração da Eucaristia mantém o núcleo
da fé na presença real de Cristo, elo teológico que sustenta o diálogo
ecumênico.
Do ponto de vista espiritual, a Liturgia é
participação na oração sacerdotal de Jesus: “Para que todos sejam um”
(Jo 17,21). Celebrando, as comunidades cristãs de todos os ritos se unem à
súplica de Cristo pela unidade de seus discípulos.
O diálogo ecumênico encontra na Liturgia um ponto
de partida e também um ponto de chegada. A visita de Leão XIV a
Istambul (novembro 2025), com o encontro com o Patriarca Ecumênico
Bartolomeu, incluiu momentos de oração conjunta que expressam a chamada “unidade
imperfeita” entre Católicos e Ortodoxos — imperfeita porque ainda não
existe comunhão plena na Mesa Eucarística.
Os Sacramentos e a Unidade em
Caminho
Já existe o reconhecimento mútuo de
Sacramentos, como o Batismo, Confirmação, Matrimônio e outros entre
diversas Igrejas cristãs, o que representa avanço concreto e com repercussões
diretas para a vida litúrgica das comunidades.
A validade do Sacramento da Ordem em algumas
tradições orientais constitui igualmente um progresso importante.
A expressão “unidade imperfeita” refere-se,
sobretudo, à Eucaristia. A intercomunhão ainda não é permitida
entre católicos e a maioria das Igrejas Ortodoxas e Protestantes, de modo que
as celebrações comuns, até agora, se concentram na Liturgia da Palavra e
na Liturgia das Horas, como ocorreu durante a viagem do Papa Leão XIV à
Turquia.
O Desafio da Comunhão Eucarística
O maior desafio para a unidade plena, portanto,
reside na Eucaristia — novamente, a Liturgia no centro da reflexão.
Para a Igreja Católica, a comunhão eucarística é sinal
da plena unidade na fé, nos sacramentos e no governo eclesial. As
diferenças na compreensão do ministério ordenado e da autoridade
papal impedem, por ora, a celebração conjunta da Ceia do Senhor.
Ainda assim, a Eucaristia recorda que, apesar das
divisões históricas, todos os cristãos se alimentam da única Palavra e
aspiram um dia partilhar, fraternalmente, o mesmo Pão da Vida.
Conclusão
A viagem do Papa Leão XIV à Turquia recorda à
Igreja que a unidade dos cristãos é uma vocação inscrita no próprio mistério da
fé. A Liturgia, coração pulsante da vida eclesial, continua revelando
que aquilo que ainda divide pode ser, pela graça, transformado em caminho de
comunhão. Quando diferentes tradições cristãs celebram a mesma Palavra,
rezam com os mesmos Salmos, partilham a mesma oração do Pai Nosso
e professam o mesmo Credo, tornam-se sinal de que a unidade não é utopia,
mas promessa que já começou a se cumprir.
Cada gesto litúrgico, cada oração comum e cada
aproximação fraterna tornam-se passos silenciosos, porém firmes, rumo ao dia em
que todos poderão sentar-se à mesma Mesa da Eucaristia, reconhecendo-se
irmãos e irmãs no único Senhor ressuscitado. A Liturgia permanece, portanto,
como o lugar onde a esperança ecumênica encontra sua forma, sua linguagem e sua
força, sustentando a Igreja inteira na missão de testemunhar, com humildade e
fidelidade, o Evangelho da reconciliação e da paz.

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