Neste artigo, vou propor somente um aspecto: a centralidade e a função da Palavra de Deus na comunidade paroquial de olho na atividade pastoral paroquial. Interessa-me chamar atenção para o papel da Liturgia em toda a dinâmica pastoral e evangelizadora conduzida e iluminada pela Palavra de Deus.
Evangelização além das palavras
Um primeiro
olhar, ao qual gostaria de chamar sua atenção é para um fato que precisa estar
bem claro: a evangelização não se limita a pregações e estudos bíblicos. A
evangelização não se limita a atividades verbais, oral ou escrita. Não se
evangeliza unicamente ou somente com palavras. A Evangelização vai além das
palavras.
Entende-se que a
evangelização abrange também as obras pastorais. Dizendo de modo mais claro:
cada atividade pastoral realizada na paróquia é uma atividade evangelizadora. Todo
agente de pastoral é um evangelizador, que não evangeliza com palavras, mas com
atitudes, com o testemunho fraterno do Evangelho próprio de cada atividade
pastoral.
Tal dinâmica tem
várias fontes. Destaco a fonte de todas as atividades da Igreja (SC 10): a
Liturgia. Nas paróquias, como destaco no meu curso Pastoral DA Liturgia,
as pastorais são expressões de celebrações evangelizadas e evangelizadoras. Celebrações
que envolvem os celebrantes no Evangelho, ajudam os celebrantes a pensar com o
pensamento divino proposto no Evangelho que terão, como consequência, respostas
e reações evangelizadoras. Tais reações evangelizadas são as atividades
pastorais que, por sua vez, tornam-se evangelizadoras.
A centralidade da Palavra
de Deus
Bento XVI afirma
que a Palavra de Deus deve ocupar um lugar central na vida da Igreja (VD
73). A Liturgia é um espaço privilegiado dessa centralidade. Embora não
seja uma cátedra de estudos bíblicos, a Liturgia é o local e o momento da
semeadura da Palavra de Deus no terreno da vida dos celebrantes. É na Liturgia
que a Palavra é celebrada, anunciada, acolhida e refletida (homilia) para ser
luz na vida dos celebrantes (Sl 119,105). Na
Liturgia, a Palavra de Deus é celebrada para tocar a vida de cada pessoa, penetrando
até a profundeza da alma, no mais profundo da vida humana (Hb 4,12).
Mas, não somente
luz que atinge profundamente a vida pessoal. Atinge também a vida comunitária,
porque é a Palavra que sustenta e orienta a vida da Igreja. Está no centro da
comunidade e no
centro da sociedade. Celebrada na Liturgia, a Palavra acende o Evangelho na
vida de cada celebrante para iluminar com a luz da Palavra toda a sociedade
através de relacionamentos fraternos, dos quais, de modo organizado, encontram-se
as pastorais. Entende-se, uma vez mais, que as pastorais são reações do
acolhimento da Palavra celebrada na Liturgia.
A Palavra de Deus na vida dos
santos e santas
Gostaria de
chamar atenção para um fato que merece ser considerado: a finalidade da Liturgia
da Palavra é proporcionar o encontro com Jesus Cristo e este encontro irá
repercutir em relacionamentos fraternizados. A Palavra tenha força para atingir
e converter a vida dos celebrantes. A biografia de santos e santas é pródiga
neste sentido. Todos ingressaram no processo da conversão pelo acolhimento da
Palavra. Por isso, a vida dos santos e santas são vidas evangelizadas que
evangelizam com obras.
A vida dos
santos e das santas mostra que é possível encontrar o Senhor, viver o Evangelho
e transformá-lo em pastorais que cuidam da vida do povo. A Igreja propõe
diversos caminhos de santidade: pela caridade, consagração, vida familiar, ou
martírio. Em todos esses estilos de vida, o ponto comum é o encontro com Cristo
presente na Palavra de Deus, particularmente, presente no Evangelho, e
transformado em caridade atuante. Um exemplo apenas: Santa Dulce dos Pobres.
Acolheu a Palavra e a transformou em pastoral cuidando dos menos favorecidos
socialmente. Esta é uma finalidade da Pastoral da Liturgia: celebrações evangelizadas
capazes de enviar celebrantes evangelizadores.
Disto nasce
outra proposta. A proposta de a Palavra de Deus ser o centro de toda atividade
pastoral da Igreja, fomentada pela Liturgia ou pela Pastoral Bíblica tem o
escopo de criar, ou recriar, uma cultura baseada no Evangelho. Os santos e
santas são exemplos vivos de como viver e promover essa cultura, não apenas por
palavras, mas pela espiritualidade do Evangelho vivenciada nas comunidades.
Espiritualidade evangelizada que se concretiza em atividades pastorais que
evangelizam.
Por isso, o conhecimento
da vida dos santos e santas é essencial para entender como a Palavra de Deus
transformou suas vidas e como eles concretizaram o Evangelho em atividades de
caridade fraterna. Já mencionei Santa Dulce dos Pobres, mas podemos lembrar de
São João Bosco, São Vicente de Paula, Santa Teresa de Calcutá. Cristãos e
cristãs que traduziram a Palavra de Deus, ouvida na Liturgia, meditada na vida
pessoal, em atividade pastoral. O que e como os santos e santas fizeram
desafia-nos a fazer o mesmo.
Serginho
Valle
Agosto
de 2024
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