O Dicastério para a Comunicação do Vaticano publicou, no dia 28 de maio de 2023, um documento intitulado "Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais". O texto pode ser encontrado na íntegra no site do Vaticano e da CNBB. O texto que oferece acenos interessantes para quem atua na PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial.
Riscos e inversão de prioridades
Na primeira
parte, o documento alerta para as ciladas presentes no uso das redes sociais. Sugere
que as redes sociais podem roubar alguma preciosidade da vida, se não
estivermos atentos, pode causar prejuízos em diferentes aspectos, como
espirituais, psicológicos, relacionamento social... No que se refere à Liturgia,
tema desta reflexão, um prejuízo é considerar desnecessária a participação
presencial nas celebrações, substituindo-a por assistir a Missa ou fazer
Adoração ao Santíssimo, por exemplo, diante de uma tela de celular, um
computador, um tablet. O risco de considerar a celebração da Penitência em modo
virtual, sem a presencialidade.
O uso das redes
sociais para atividades litúrgicas pode inverter prioridade a prioridade,
colocando a presencialidade em segundo plano. Inicialmente, a intenção é
transmitir as celebrações por motivos pastorais; com o tempo pode surgir o
desejo de ser avaliado, buscar cliques, comentários e aplausos virtuais; é o
risco de cair na “métrica da vaidade”. O perigo de usar a Liturgia como meio de
promoção pessoal. Vale aqui o propósito de vida de João Batista: "é
preciso que ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).
O documento "Rumo
à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes
sociais" destaca a importância da presença física nos relacionamentos,
que não pode ser substituída pelo contato virtual. A mesma necessidade é
prioritária em se tratando da comunicação litúrgica. O corpo não se faz
representar em modo virtual. Ele é uma mensagem de quem somos e de como somos.
No contexto da comunicação litúrgica, a presença física nas celebrações é
fundamental e necessária. As redes sociais têm sua importância pastoral, mas
não a ponto de substituir a participação presencial na Liturgia.
Comunicação profética
Nosso documento
avalia que as redes sociais têm sido utilizadas de maneira polarizada e
proselitista, nem sempre com referências à verdade e ao verificável. Há uma
predominância de "ouvir dizer". Tornou-se um espaço de fakes: fake
news, deep fakes, speak fake, botness, clickbait... um terreno repleto de
armadilhas qual areia movediça com potenciais de comunicações duvidosas. Diante
de tal contexto, a comunicação litúrgica deve servir como referência e como
espaço para o contato com a verdade. Comunicação profética em celebrações
evangelizadas, evangelizadoras, comprometidas com a verdade.
A comunicação encontra-se
no centro da vida humana. As redes sociais, como meios de comunicação, tendem a
valorizar mais a informação do que a comunicação. A informação não tem a
finalidade de criar vínculo; apenas informa, emite uma mensagem. A comunicação,
por sua vez, contribui no processo formador de comunidade. A desinformação cria
polaridades. A celebração é constituída com um processo comunicativo. Isto significa
que uma fonte de comunhão, uma escola de participação e de partilha de vidas
que acontece através do relacionamento silencioso, pela escuta e pela convivência
com pessoas concretas, visíveis, audíveis e tocáveis. É a importância de
realizar a comunicação litúrgica com a presencialidade nas celebrações
litúrgicas. Você não participa da celebração para ser informado sobre Deus ou
sobre a religião, mas para fazer comunhão com Deus em modo de assembleia
celebrativa e fraterna.
A comunicação
litúrgica é um processo contínuo de inter-relacionamento com Deus, com os
membros da assembleia, com o espaço celebrativo e com o tempo da vida pessoal
dedicado a celebrar o Mistério da Salvação divina. A experiência celebrativa
contesta a comunicação virtual, que se manifesta em modo isolado e com
tendência a ser isoladora. É a comunicação profética denunciando o isolamento
através da prática celebrativa e propondo a pertença na comunidade eclesial.
Cultura do Encontro
Este tema da
pertença na comunidade eclesial encontra-se na proposta de Papa Francisco,
realizada na Encíclica “Fratelli Tutti” (2022), conclamando a Igreja e o
mundo a favorecer e incentivar a “cultura do encontro”, convidando a
criar situações e condições favoráveis ao encontro em vista da amizade social. Não
o isolamento que pode ser provocado pelas redes sociais, mas a convivência
capaz de evitar os diversos naipes de polarizações que acontecem na sociedade.
Ao contrário de
fomentar a polarização, a comunicação litúrgica, em modo profético, conduz os
celebrantes a valorizar a comunhão fraterna através da amizade social. Isto
acontece com celebrações evangelizadas promotoras da cultura do encontro, da
concórdia, sugerindo reações fraternas ajudando os celebrantes a se tornarem
profetas da paz e construtores da reconciliação. O que as redes sociais
fragilizam de muitos modos, especialmente quando potencializam as polarizações,
a comunicação litúrgica ilumina a realidade com a luz do Evangelho.
Serginho Valle
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