3 de ago. de 2024

LITURGIA E REDES SOCIAIS

O Dicastério para a Comunicação do Vaticano publicou, no dia 28 de maio de 2023, um documento intitulado "Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais". O texto pode ser encontrado na íntegra no site do Vaticano e da CNBB. O texto que oferece acenos interessantes para quem atua na PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial.

Riscos e inversão de prioridades

Na primeira parte, o documento alerta para as ciladas presentes no uso das redes sociais. Sugere que as redes sociais podem roubar alguma preciosidade da vida, se não estivermos atentos, pode causar prejuízos em diferentes aspectos, como espirituais, psicológicos, relacionamento social... No que se refere à Liturgia, tema desta reflexão, um prejuízo é considerar desnecessária a participação presencial nas celebrações, substituindo-a por assistir a Missa ou fazer Adoração ao Santíssimo, por exemplo, diante de uma tela de celular, um computador, um tablet. O risco de considerar a celebração da Penitência em modo virtual, sem a presencialidade.

 

O uso das redes sociais para atividades litúrgicas pode inverter prioridade a prioridade, colocando a presencialidade em segundo plano. Inicialmente, a intenção é transmitir as celebrações por motivos pastorais; com o tempo pode surgir o desejo de ser avaliado, buscar cliques, comentários e aplausos virtuais; é o risco de cair na “métrica da vaidade”. O perigo de usar a Liturgia como meio de promoção pessoal. Vale aqui o propósito de vida de João Batista: "é preciso que ele cresça e eu diminua" (Jo 3,30).

 

O documento "Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais" destaca a importância da presença física nos relacionamentos, que não pode ser substituída pelo contato virtual. A mesma necessidade é prioritária em se tratando da comunicação litúrgica. O corpo não se faz representar em modo virtual. Ele é uma mensagem de quem somos e de como somos. No contexto da comunicação litúrgica, a presença física nas celebrações é fundamental e necessária. As redes sociais têm sua importância pastoral, mas não a ponto de substituir a participação presencial na Liturgia.

 

Comunicação profética

Nosso documento avalia que as redes sociais têm sido utilizadas de maneira polarizada e proselitista, nem sempre com referências à verdade e ao verificável. Há uma predominância de "ouvir dizer". Tornou-se um espaço de fakes: fake news, deep fakes, speak fake, botness, clickbait... um terreno repleto de armadilhas qual areia movediça com potenciais de comunicações duvidosas. Diante de tal contexto, a comunicação litúrgica deve servir como referência e como espaço para o contato com a verdade. Comunicação profética em celebrações evangelizadas, evangelizadoras, comprometidas com a verdade.

 

A comunicação encontra-se no centro da vida humana. As redes sociais, como meios de comunicação, tendem a valorizar mais a informação do que a comunicação. A informação não tem a finalidade de criar vínculo; apenas informa, emite uma mensagem. A comunicação, por sua vez, contribui no processo formador de comunidade. A desinformação cria polaridades. A celebração é constituída com um processo comunicativo. Isto significa que uma fonte de comunhão, uma escola de participação e de partilha de vidas que acontece através do relacionamento silencioso, pela escuta e pela convivência com pessoas concretas, visíveis, audíveis e tocáveis. É a importância de realizar a comunicação litúrgica com a presencialidade nas celebrações litúrgicas. Você não participa da celebração para ser informado sobre Deus ou sobre a religião, mas para fazer comunhão com Deus em modo de assembleia celebrativa e fraterna.

 

A comunicação litúrgica é um processo contínuo de inter-relacionamento com Deus, com os membros da assembleia, com o espaço celebrativo e com o tempo da vida pessoal dedicado a celebrar o Mistério da Salvação divina. A experiência celebrativa contesta a comunicação virtual, que se manifesta em modo isolado e com tendência a ser isoladora. É a comunicação profética denunciando o isolamento através da prática celebrativa e propondo a pertença na comunidade eclesial.

 

Cultura do Encontro

Este tema da pertença na comunidade eclesial encontra-se na proposta de Papa Francisco, realizada na Encíclica “Fratelli Tutti” (2022), conclamando a Igreja e o mundo a favorecer e incentivar a “cultura do encontro”, convidando a criar situações e condições favoráveis ao encontro em vista da amizade social. Não o isolamento que pode ser provocado pelas redes sociais, mas a convivência capaz de evitar os diversos naipes de polarizações que acontecem na sociedade.

 

Ao contrário de fomentar a polarização, a comunicação litúrgica, em modo profético, conduz os celebrantes a valorizar a comunhão fraterna através da amizade social. Isto acontece com celebrações evangelizadas promotoras da cultura do encontro, da concórdia, sugerindo reações fraternas ajudando os celebrantes a se tornarem profetas da paz e construtores da reconciliação. O que as redes sociais fragilizam de muitos modos, especialmente quando potencializam as polarizações, a comunicação litúrgica ilumina a realidade com a luz do Evangelho.

 

Concluindo
O documento "Rumo à presença plena: uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais" destaca a importância da presencialidade nas celebrações, como é próprio da comunicação litúrgica. A inversão da participação presencial por interações virtuais, compromete a experiência celebrativa litúrgica. A comunicação litúrgica é um espaço de verdade e comunhão, que se manifesta em modo de comunicação profética e promotora da cultura do encontro. É uma comunicação, a litúrgica, que continuamente propõe a necessidade da convivência e da pertença comunitária eclesial, inspirando, educando e conduzindo os celebrantes a serem promotores da amizade social como profetas da paz e da reconciliação.

Serginho Valle  

Agosto de 2024

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