A
primeira coisa a se considerar com respeito à homilia, dentro do processo
celebrativo litúrgico, da Missa e dos demais sacramentos, é a sua ritualidade. A homilia não entra nos parâmetros de palestra
ou pregação que, do ponto de vista comunicativo, comportam a característica de
refletir ou tratar de um tema mais longamente. A homilia é um rito celebrativo
Litúrgico e, enquanto tal, prima pela brevidade, pela simplicidade e pela objetividade. Tais são as características dos ritos
litúrgicos, no processo comunicativo da celebração litúrgica. Assim, homilias
longas, como se fossem pregações ou palestras, tornam-se ruídos na comunicação
litúrgica, no decorrer de uma celebração.
Brevidade da homilia
O
tempo ideal de uma homilia dominical é entre 8 e 10 minutos. É um tempo considerado
suficiente para o homiliasta transmitir sua mensagem e para que a mesma seja
assimilada com atenção pelos celebrantes. Mais que isso, o contexto espacial da
igreja, o contexto religioso da celebração e a capacidade de atenção da maior
parte de nossos celebrantes é perdida.
Toda celebração que estende demasiadamente um
rito, principalmente a homilia, torna-se cansativa e o grau de atenção, da
parte dos celebrantes se perde. Por isso, homilias breves, atraentes e
praticas, isto é, voltadas para a prática da vida cristã compõem as
características de homilias bem feitas.
Simplicidade na homilia
Homilia
não é pregação e muito menos palestra ou aula de algum tratado teológico. A
palavra “homilia”, de origem grega, significa “conversa familiar”. No contexto
do processo comunicativo, não se trata tanto de estabelecer um diálogo entre
homiliasta e assembléia, com perguntas que nem sempre são bem respondidas e,
por isso não chegam a lugar algum e não se concluem com uma mensagem clara. A conversa
familiar, no caso da comunicação litúrgica, tem a ver com a simplicidade da
linguagem. Uma comunicação com uma linguagem simples, compreensível a todos e
feita para todos, do mais letrado ao analfabeto. Trata-se, em resumo, de uma
linguagem que se caracteriza pela simplicidade na sua compreensão.
Do
ponto de vista da Psicologia da Comunicação, o tom de conversa familiar, na
homilia, oferece a mais importante oportunidade para que o ouvinte possa acolher
a mensagem. Homilia feita em tom de voz muito alto, aos gritos, torna-se agressiva
e, por isso, corre sério risco de rejeição. Homilia falada em voz baixa, que
exige esforço para entender o que se fala, é cansativa, monótona e corre o
mesmo risco de rejeição, por melhor que seja o conteúdo. Simplicidade,
portanto, também no modo familiar de se expressar; com o tom de voz familiar.
Mas
simplicidade também no conteúdo. O homiliasta não está na função de professor,
mesmo que o seja. Está sim, na função de hermeneuta, quer dizer, na função de
interprete da realidade à luz da Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, como
interprete da Palavra à luz da realidade dos celebrantes. Por isso, a homilia é
uma arte comunicativa que exige dois fundamentos hermenêuticos: o conhecimento
da Palavra e o conhecimento da realidade. Não somente aquele conhecimento
teórico e livresco, mas o conhecimento da experiência de vida. Só pode fazer
uma boa homilia quem vive a Palavra e faz experiência de ir ao povo e de estar
com o povo; quem conhece a Palavra e conhece a vida do povo. É com tais
elementos que a homilia torna-se simples, acessível e proposta de vida
exequível.
Objetividade
O
terceiro elemento da comunicação litúrgica, presente no rito da homilia, é a
objetividade. Ser objetivo é o grande dogma do processo comunicativo atual. A
mídia se serve continuamente da objetividade para noticiar, fazer marketing,
publicidade. As redes sociais são extremamente objetivas em seus textos. Ora,
se estamos envolvidos num modo objetivo de nos comunicar, entende-se que se a
homilia for abstrata e exigir muita concentração para acompanhar o pensamento
do homiliasta, podemos prever o resultado no receptor: rejeição pela
indiferença ou pela incapacidade de acompanhar pensamentos abstratos.
Objetividade
num processo comunicativo é um termo muito amplo. No caso da homilia, a
objetividade diz respeito a uma proposta de vida concreta através do
discipulado. Por isso, o homiliasta deve ser objetivo no sentido de propor como
viver concretamente o discipulado na sua realidade atual, a partir da Palavra
de cada celebração. Em termos de linguagem publicitária, isto significa propor
uma solução para uma necessidade que a pessoa vive. No caso da homilia a
necessidade de se viver plenamente de acordo com o projeto divino. Neste caso,
a homilia não busca um âncora, um garoto propaganda, para dizer que o produto é
bom. A homilia pede o exemplo de vida do homiliasta que garanta a verdade de
sua mensagem. Ele falar aquilo e daquilo que vive.
Tem
ainda a objetividade preparatória. Neste caso, gosto de explicar isso com uma
formula que passava aos meus alunos de Teologia Litúrgica: sempre uma, no
máximo duas, nunca três. É uma regrinha da objetividade da homilia. Traduzindo:
uma única mensagem, no máximo duas, mas nunca três ou acima de três. Assim,
não é objetivo o homiliasta que explica leitura por leitura, por exemplo. Ele é
prolixo, fala de muitas coisas e não conclui nada. Conhecendo a estrutura da
Liturgia da Palavra, como já propomos aqui no blogger, a objetividade do
homiliasta será vista ao optar por uma única mensagem capaz de iluminar o
contexto existencial dos celebrantes a partir da Palavra que é celebrada.
Meus
alunos costumavam questionar o fato de haverem vários pontos pertinentes e
relevantes em algumas Missas Dominicais. Verdade. Mas aqui estamos diante do
que denomino de pedagogia litúrgica. O homiliasta nunca prepara uma homilia isoladamente, mas
conhecendo as leituras do Domingo anterior e aqueles dos próximos Domingos, ele
saberá conduzir os celebrantes na estrada do discipulado dando um passo de cada
vez. E para isso conta com a objetividade. É como tomar vitamina para se
fortalecer. Se tomar todas as vitaminas de uma única vez, o efeito poderá ser
negativo. Precisa tomar a vitamina na dose certa para se chegar ao efeito desejado.
Por isso, objetivamente, uma mensagem por vez para se ter o efeito de conversão
progressiva até ingressar definitivamente no caminho do discipulado. É assim
que a homilia acolhe o envio de Jesus para fazer discípulos e discípulas. É o
modo Litúrgico de evangelizar.
Conclusão
Três
elementos para concluir.
Primeiro: “a boca
fala daquilo que o coração está cheio”, ensina Jesus (Mt 12,34). Se o coração estiver
cheio da Palavra de Deus, se for um coração modelado no discipulado, então
facilmente se deduz que a atualização da Palavra e, mais especificamente, do
Evangelho, contará com propostas concretas da Palavra e do Evangelho para
a vida. Mas, se o coração estiver vazio da Palavra e não for um coração modelado
no discipulado, então a homilia será vazia, superficial, enrolada e longa.
Segundo:
escrever o texto no início da semana e reler no decorrer da semana facilita a
compreensão e objetividade do que se falará no momento da homilia. É uma técnica que favorece a
objetividade, a simplicidade e a brevidade da homilia. Ter o texto escrito,
lido e revisado no decorrer da semana é de grande importância para uma boa
homilia. Ter somente os pontos elencados pode ser perigoso, pois muitas ideias
poderão surgir no momento da homilia e impedir os três princípios básicos do
rito da homilia: brevidade, simplicidade e objetividade. Em outras palavras, a homilia é preparada
antes, não na hora da Missa.
Terceiro:
rezar e praticar na semana aquilo que será proposto na homilia santifica o
homiliasta e o torna convicto do que propõe na sua homilia. Se, por exemplo, o
padre falará sobre a paciência, no decorrer da semana procurará exercitar-se na
virtude da paciência. Sua oração diária será mais paciente diante de Deus e
saberá reconhecer suas faltas com relação à paciência. Suas meditações e a sua lectio divina versarão sobre a paciência. E assim por
diante. Isto por um motivo muito simples. Se a homilia é uma proposta prática
de como viver o discipulado e ser cristão, nada mais justo que o homiliasta
experimente viver antes aquilo que está propondo aos celebrantes. Uma boa parte
de homilias sem vida, mornas, e entediantes assim o são por não serem experenciadas antecipadamente na vida de alguns homiliastas.
Serginho Valle
2016
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