As celebrações que compõem o Ano
Litúrgico, além de celebrar os Mistérios de Cristo, exercem também atividade e
função pedagógica em vista do discipulado. Ou seja, os celebrantes, de
celebração em celebração — seja semanais como Dominicais — vão sendo plasmados
e convidados a crescer no seguimento a Jesus, através do discipulado. Isso não
significa reduzir a celebração litúrgica a encontros de catequese, mas
ressaltar que o “modus celebrandi”, enquanto tal, é pedagógico e vai
transformando o celebrante em discípulo e discípula de Jesus. Papel
importantíssimo nessa função é a homilia.
À
medida que se celebra a Liturgia, esta vai libertando os celebrantes de suas
cadeias, de prisões que ele criou para si ou que lhe impuseram. Na solenidade
de São Pedro e São Paulo, por exemplo, o reconhecimento vocacional de Paulo
evidencia que o acolhimento do Evangelho fez dele uma pessoa livre diante de
tudo e de todos; fez dele um verdadeiro discípulo de Jesus (2L da solenidade de
São Pedro e São Paulo).
Outro
exemplo muito interessante, neste sentido, é entender que as celebrações do Ano
Litúrgico, as celebrações Dominicais em particular, modela o celebrante a
partir do Coração de Jesus, que é manso e humilde (14DTC-A). O celebrante
entende que Deus não se manifesta, a exemplo do mundo, com a força do poder
agressivo, mas com a força da simplicidade, da serenidade, da aproximação feita
com a ternura e com a paz. Entende-se, assim, que quanto mais um celebrante
aprender a cultivar a humildade e a simplicidade em sua vida, tanto mais terá
um coração semelhante ao Coração de Jesus. Mais será pacificado e pacificador;
não precisará se servir do "arco do guerreiro" (1L do 14DTC-A), pois
se dedicará a cultivar a mansidão e a humildade do Coração de Jesus (E).
A
pedagogia litúrgica do 14DTC-A propõe aos celebrantes a formação de seus corações
modelando-os ao Coração de Jesus. Proposta que é completada pela celebração do
Domingo seguinte (15DTC-A) que, pedagogicamente, orienta a abrir a vida ao
acolhimento da Palavra, tal como a terra se abre à chuva que cai do céu para
fertilizá-la em vista de produzir frutos e frutificar em boas obras (1L). O
celebrante é ajudado a perceber que sua vida é um terreno a ser cultivado e é
neste terreno que se lança a semente da vida divina presente no Evangelho.
Na
dinâmica pedagógica do Ano Litúrgico, presente nas celebrações Dominicais, o
celebrante é alertado para a presença do mal e da maldade que, também estes,
são semeados na vida humana (16DTC-A). Também neste caso, pedagogicamente, a
celebração propõe um modo prático de lidar com o mal e com a maldade: não sendo
agressivo — querendo arrancar o joio —, mas sendo humano, porque quanto mais
humano se é, mais próximo de Deus se está e mais o bem e a bondade tem
condições de abafar o mal e a maldade que são cultivados nos canteiros do
mundo.
As
celebrações aqui propostas como exemplo são (foram) celebradas no mês de julho
de 2017. Servem de modelo para se perceber a dinâmica pedagógica da Liturgia em
suas celebrações Dominicais. Falta ainda uma celebração, no mês de julho de
2017, o 17DTC-A, que celebra a presença do Reino de Deus no meio do mundo,
comparando-o a uma pedra preciosa, pela qual vale a pena vender tudo para
obtê-la. Espero não estar propondo nenhuma heresia ao dizer que as celebrações
litúrgicas, do ponto de vista pedagógico, mostram o caminho para se obter a
pérola do Reino de Deus.
O
que fazer, do ponto de vista prático. Duas orientações aos padres e às Equipes
de Celebrações. A primeira orientação é considerar o conjunto de celebrações
que se afinam no diapasão de um mesmo tema, o que pode acontecer na sequência
de dois ou três Domingo, por exemplo. Ou, pode-se pensar em uma pedagogia
mensal, com canções, homilia, espaço celebrativo preparados em vista de uma
pedagogia específica. No exemplo proposto, celebrações estão afinadas no
contexto de plantar e cultivar a semente do Evangelho na vida pessoal e na
comunidade.
A
segunda orientação, especialmente aos padres, é propor homilias que ajudem os
celebrantes a entender a possibilidade prática de adotar comportamentos a
partir da Palavra anunciada em cada celebração dominical. O mesmo critério
poderá servir para as Missas semanais, mas neste caso, não com homilias longas,
mas com breves reflexões. Tudo isso vem ao encontro daquilo que dizia Papa
Bento XVI: “a Liturgia evangeliza e é evangelizadora”.
Serginho Valle
Junho de 2017
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