16 de jan. de 2021

Datas móveis no Ano Litúrgico

 

Quando começamos a nos interessar e estudar Liturgia, uma das primeiras interrogações é sobre algumas datas litúrgicas, especialmente aquelas datas variáveis, como da Páscoa, Pentecostes, Corpus Christi, Sagrado Coração de Jesus. Tem também as datas de grandes solenidades e festas, como Natal e as celebrações de Nossa Senhora que são invariáveis; são datas fixas.

É evidente que a Igreja, no contexto do Ano Litúrgico, tem um critério para determinar o calendário das suas celebrações mais solenes e mais importantes, como é o caso da data da Páscoa, que é a celebração fonte de todas as celebrações litúrgicas cristãs.

A celebração do centro da vida cristã é a Páscoa que, por ser a celebração mais importante da Igreja e dos cristãos, é celebrada em três dias, o chamado Tríduo Pascal. São três dias com celebrações diferentes, mas celebrando o mesmo acontecimento: a Páscoa de Jesus Cristo; sua páscoa, sua passagem pela morte e sua Ressurreição.

Deste modo, na quinta-feira Santa, a Igreja celebra a Páscoa ritual, na sexta-feira Santa, celebra a Páscoa dolorosa e, no sábado Santo, a Páscoa gloriosa, em forma de vigília, que se conclui com a Missa do Domingo da Páscoa.

Uma característica para perceber que se trata da mesma Páscoa, em uma única celebração, é que as celebrações da Quinta-feira Santa e da Sexta-feira Santa não são concluídas com uma bênção e nem com o envio. A conclusão é feita com uma oração sobre o povo.

 

Data móvel da Páscoa

Mas, voltemos ao que interessa: a data móvel da Páscoa. A determinação da data da Páscoa não segue o calendário solar, como temos no ano civil, com início em 1º de janeiro e fim em 31 de dezembro. Segue sim o calendário lunar, que era o calendário usado pelos judeus. O livro do Êxodo (Ex 12) conta que os judeus saíram do Egito — fizeram a sua Páscoa — em uma noite de lua cheia, no primeiro mês da estação da Primavera; o mês se chama Nissan. A Páscoa dos judeus teria ocorrido em 14 de Nissan. O texto de Ex 12 explica como proceder para celebrar de modo memorial a Páscoa.

Ora, a Páscoa de Jesus, sua Paixão, Morte e Ressurreição aconteceu nos dias das celebrações pascais dos judeus. Isso originou aquilo que ficou conhecido na História da Liturgia como “Controvérsia Pascal”, que teve origem na segunda metade do século II. Este é um tema que sugiro para sua pesquisa pessoal.

O mês do calendário solar, grosso modo, tem 30 dias, ao passo que o calendário lunar tem 28 dias. Como diz o nome, é um calendário que marca as datas pelas fases da lua. Esta é uma herança que a Liturgia cristã herdou da Liturgia hebraica. Ou seja, ainda hoje, a data da Páscoa é estabelecida a partir do calendário lunar, mas com um detalhe: a Páscoa cristã sempre será celebrada no Domingo seguinte à primeira lua cheia da Primavera. Não da Primavera aqui no Brasil, mas na primavera da Europa.

Segundo as datas das narrativas evangélicas da Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus morreu no início da Primavera, na primeira lua cheia do ano, quando era celebrada a Páscoa dos judeus. Esta tradição da data da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus é mantida até hoje. Como a lua cheia nunca cai no mesmo dia, as datas pascais nunca são celebradas numa data específica do ano. Por isso, a Páscoa obedece a uma data móvel.

A regra que estabeleceu a data da Páscoa cristã foi determinada pelo Concílio de Nicéia, no ano de 325. Desde então ficou estabelecido que a Páscoa cristã será celebrada no Domingo seguinte à primeira lua cheia da Primavera.

 

Datas móveis de outras celebrações

Em decorrência disso, as festas que estão ligadas à celebração da Páscoa, como Corpus Christi, que sempre é celebrada na segunda quinta-feira depois da Solenidade de Pentecostes — ou na primeira quinta-feira depois da Solenidade da Santíssima Trindade — nunca tem data fixa. O mesmo acontece com a Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, celebrada na semana seguinte à Corpus Christi.

Serginho Valle

Janeiro de 2021

 

 

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