A formação e a espiritualidade litúrgicas são os pilares da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)

A paz do Senhor!

A finalidade deste espaço é oferecer material de formação litúrgica para quem atua em ministérios litúrgicos na comunidade paroquial. Seja muito bem-vindo e bem-vinda. Se quiser e puder deixar sua contribuição, agradeço muito. (Serginho Valle)
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Paz e bem! A celebração da Liturgia é uma arte e, como acontece no exercício de toda arte, só celebra bem quem bem conhece a linguagem da arte litúrgica celebrativa.

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1 de dez. de 2025

Liturgia: Coração da Unidade Eclesial


 A primeira viagem apostólica do Papa Leão XIV à Turquia, no final de novembro de 2025, foi avaliada como um gesto significativo em favor da unidade dos cristãos.

É também uma oportunidade para compreender a Liturgia como epifania da unidade entre os cristãos e, ao mesmo tempo, como fonte e ápice da busca pela unidade com outras comunidades cristãs.

Ela é fonte, sobretudo nos Sacramentos da Iniciação Cristã, pois todos os cristãos nascem do mesmo Batismo e são conduzidos pelo mesmo e único Espírito Santo que age na ação litúrgica. É também cume, na perspectiva da esperança, no dia em que todas as Igrejas cristãs puderem se alimentar da mesma Ceia Pascal, na Eucaristia, ápice visível da comunhão.


A Liturgia como Fundamento Comum

A Turquia, terra de antigos ritos e de cidades que acolheram os primeiros Concílios Ecumênicos, revela como a ação litúrgica foi, desde o início, um dos laços mais sólidos da unidade entre as Igrejas. O Credo Niceno-Constantinopolitano, professado nas liturgias Católica, Ortodoxa e em algumas Igrejas Protestantes, permanece como testemunho vivo dessa herança comum.

A Liturgia é o lugar onde a Igreja se manifesta unida em sua plenitude, alimentando-se da única Mesa da Palavra, que une os cristãos na mesma mesa e no acolhimento do mesmo Evangelho de Jesus Cristo.

Do ponto de vista histórico, os Ritos Litúrgicos Orientais, como os celebrados pelas Igrejas Bizantina, Armênia, Antioquina e Siríaca, constituem patrimônio de toda a cristandade. Apesar das variações rituais, a celebração da Eucaristia mantém o núcleo da fé na presença real de Cristo, elo teológico que sustenta o diálogo ecumênico.

Do ponto de vista espiritual, a Liturgia é participação na oração sacerdotal de Jesus: “Para que todos sejam um” (Jo 17,21). Celebrando, as comunidades cristãs de todos os ritos se unem à súplica de Cristo pela unidade de seus discípulos.

O diálogo ecumênico encontra na Liturgia um ponto de partida e também um ponto de chegada. A visita de Leão XIV a Istambul (novembro 2025), com o encontro com o Patriarca Ecumênico Bartolomeu, incluiu momentos de oração conjunta que expressam a chamada “unidade imperfeita” entre Católicos e Ortodoxos — imperfeita porque ainda não existe comunhão plena na Mesa Eucarística.


Os Sacramentos e a Unidade em Caminho

Já existe o reconhecimento mútuo de Sacramentos, como o Batismo, Confirmação, Matrimônio e outros entre diversas Igrejas cristãs, o que representa avanço concreto e com repercussões diretas para a vida litúrgica das comunidades.

A validade do Sacramento da Ordem em algumas tradições orientais constitui igualmente um progresso importante.

A expressão “unidade imperfeita” refere-se, sobretudo, à Eucaristia. A intercomunhão ainda não é permitida entre católicos e a maioria das Igrejas Ortodoxas e Protestantes, de modo que as celebrações comuns, até agora, se concentram na Liturgia da Palavra e na Liturgia das Horas, como ocorreu durante a viagem do Papa Leão XIV à Turquia.


O Desafio da Comunhão Eucarística

O maior desafio para a unidade plena, portanto, reside na Eucaristia — novamente, a Liturgia no centro da reflexão.

Para a Igreja Católica, a comunhão eucarística é sinal da plena unidade na fé, nos sacramentos e no governo eclesial. As diferenças na compreensão do ministério ordenado e da autoridade papal impedem, por ora, a celebração conjunta da Ceia do Senhor.

Ainda assim, a Eucaristia recorda que, apesar das divisões históricas, todos os cristãos se alimentam da única Palavra e aspiram um dia partilhar, fraternalmente, o mesmo Pão da Vida.


Conclusão

A viagem do Papa Leão XIV à Turquia recorda à Igreja que a unidade dos cristãos é uma vocação inscrita no próprio mistério da fé. A Liturgia, coração pulsante da vida eclesial, continua revelando que aquilo que ainda divide pode ser, pela graça, transformado em caminho de comunhão. Quando diferentes tradições cristãs celebram a mesma Palavra, rezam com os mesmos Salmos, partilham a mesma oração do Pai Nosso e professam o mesmo Credo, tornam-se sinal de que a unidade não é utopia, mas promessa que já começou a se cumprir.

Cada gesto litúrgico, cada oração comum e cada aproximação fraterna tornam-se passos silenciosos, porém firmes, rumo ao dia em que todos poderão sentar-se à mesma Mesa da Eucaristia, reconhecendo-se irmãos e irmãs no único Senhor ressuscitado. A Liturgia permanece, portanto, como o lugar onde a esperança ecumênica encontra sua forma, sua linguagem e sua força, sustentando a Igreja inteira na missão de testemunhar, com humildade e fidelidade, o Evangelho da reconciliação e da paz.

Serginho Valle
Novembro 2025

 

29 de nov. de 2025

Batizados na paróquia



 A Pastoral Litúrgica Paroquial — PLP — não se ocupa somente das celebrações Eucarísticas, mas de todas as celebrações litúrgicas da paróquia. Entre estas, a celebração do Batismo merece destaque.

Tenho destacado em minhas redes sociais, especialmente no YouTube — LECTIO LITURGICA — a importância de que a PLP cuide para que as celebrações dos batizados nas paróquias sejam liturgicamente bem conduzidas, tornando-se verdadeiras celebrações evangelizadoras.

Um primeiro aspecto a ser considerado nas celebrações do Batismo é o caráter comunitário e eclesial da celebração. O Batismo não é um evento privado; é uma celebração comunitária, de toda a Igreja e, em termos de localização próxima, é um evento da comunidade. Uma Pastoral Litúrgica eficaz enfatiza a participação comunitária.

Vou destacar três elementos:
• Celebrar o Batismo aos domingos
• Presença da comunidade
• Envolvimento dos pais, padrinhos e familiares

Batizados na comunitária e aos Domingos
O Batismo deve ser, ordinariamente, celebrado de forma comunitária. Dizendo de outra forma: a normalidade da celebração batismal é que seja comunitária e realizada preferencialmente aos Domingos.

O ideal é que ocorra no Domingo, o “Dia do Senhor”, para manifestar o sentido pascal do Sacramento e sua íntima ligação com a celebração da Páscoa do Senhor. Isso insere a pessoa que é batizada na vida eclesial, onde é comunitariamente acolhida no dia em que se celebra a Ressurreição de Jesus Cristo.

Não é uma celebração para ser celebrada, ordinariamente (dentro da normalidade) em chácaras, sítios ou na casa da família do batizado. É para ser celebrada na casa de toda a comunidade, a igreja paroquial.

Participação ativa da comunidade
Sendo celebração comunitária, é importante que a comunidade eclesial não seja representada apenas por alguns familiares de quem será batizado. A celebração deve ser planejada para envolver, na medida do possível, outros membros da paróquia, que podem ser representados por amigos, vizinhos e outros paroquianos.

O Batismo não é uma celebração restrita aos parentes próximos da criança, jovem ou adulto batizado e, menos ainda, uma celebração para ser realizada somente com aquelas pessoas que, por obrigação, devem estar presentes — pais e padrinhos, por exemplo. Quanto mais representantes da comunidade se fizerem presentes, mais significativo se torna o acolhimento do novo membro da Igreja.

Envolvimento dos pais e padrinhos na preparação do batizado
A Pastoral Litúrgica Paroquial deve incentivar que os pais e padrinhos se envolvam na preparação do Batismo de seus filhos e, um dos melhores modos para isso acontecer, é preparando bem a celebração litúrgica.

Para isso, tanto os responsáveis pelo Batismo da Equipe da PLP como as Equipes de Celebrações dos batizados têm a incumbência de criar momentos de preparação da celebração. A finalidade é propor reflexões que ajudem pais e padrinhos a compreender o que estão celebrando e quais compromissos surge desta celebração.

Uma vez que o Ritual do Batismo oferece oportunidade de escolher leituras e orações, um modo de preparar a celebração com pais e padrinhos é colher sugestões para que possam opinar na escolha de leituras Bíblicas, de cantos litúrgicos e na elaboração de preces. Isso transforma a celebração em um ato consciente de fé e torna mais claro o compromisso que nasce no Batismo, tanto para quem é batizado como para quem o apresenta para ser batizado: pais, padrinhos e a família em geral.

Isso é fácil e simples?
Não é fácil nem simples, mas é um processo que a PLP das comunidades paroquiais precisa iniciar, para que, pouco a pouco, as celebrações do Batismo sejam sempre mais evangelizadas e evangelizadoras. Quer dizer, celebrações bem-feitas e comprometedoras com o Evangelho.

Claro que, para isso, existe a necessidade de uma PLP estruturada e de Equipes de Celebrações do Batismo que não sejam apenas auxiliares de quem preside um Batismo, mas estejam preparadas para tornar as celebrações momentos de evangelização.

Se este tema interessa, no que se refere à PLP, clique no link que estou deixando aqui para conhecer um pouco mais sobre o assunto:


Para ler mais sobre este tema, clique no link:  

https://liturgiasal.blogspot.com/2025/10/dia-e-local-do-batizado.html

https://tinyurl.com/2pjrkc6f

16 de nov. de 2025

Por que conhecer o que se celebra é condição para celebrar bem?



Descubra por que conhecer o que se celebra é essencial para celebrar bem na Liturgia. Entenda o sentido dos ritos, aprofunde sua participação e veja como as 5 Catequeses sobre a Celebração Litúrgica podem transformar sua vivência espiritual.


A celebração litúrgica como coração da vida cristã

A celebração litúrgica não se reduz a um espetáculo nem a uma sequência de gestos executados mecanicamente. Ela é o coração pulsante da vida cristã, o espaço sagrado no qual o Mistério da Salvação se torna real, presente e atuante. Para participar de maneira plena, consciente e frutuosa, é indispensável conhecer aquilo que celebramos. Essa compreensão não é um exercício meramente intelectual, mas fundamento espiritual para quem deseja viver a Liturgia em profundidade.


A Liturgia comunica o Mistério

Nada é improvisado: tudo revela Cristo

Na Liturgia, cada palavra, gesto e silêncio comunica o Mistério de Cristo. Nada é arbitrário. Os ritos foram moldados pela tradição viva da Igreja, que, ao longo dos séculos, buscou expressar com fidelidade, beleza e objetividade a obra da redenção.

Sem conhecimento, a experiência fica na superfície

Quando não compreendemos o que celebramos, permanecemos na borda dos ritos, sem penetrar no seu significado. É como ler um texto em língua desconhecida: vemos as formas, mas não alcançamos o sentido. A falta de formação litúrgica empobrece a experiência de fé e abre espaço para interpretações superficiais, desvios ou reduções.


Conhecer transforma a participação

Da repetição mecânica à participação interior

O conhecimento litúrgico transforma radicalmente a participação. Quando sabemos o que fazemos e por que fazemos, nossa presença deixa de ser exterior e se torna interior, consciente e profundamente espiritual. Já não repetimos fórmulas: entramos no dinamismo do Mistério.


A formação litúrgica como necessidade espiritual

A formação litúrgica não é luxo reservado a estudiosos, mas caminho necessário para todos os que desejam viver plenamente a vocação cristã. Conhecer a Liturgia é conhecer Cristo. Celebrar bem é permitir que o Mistério celebrado modele a vida. Participar conscientemente é crescer em santidade.

As 5 Catequeses sobre a Celebração Litúrgica foram pensadas para conduzir ministros ordenados, ministros leigos, equipes litúrgicas e toda a assembleia a esse conhecimento profundo e transformador. Elas iluminam o sentido teológico e espiritual dos ritos, revelando a riqueza do Mistério que celebramos.


Conclusão: Celebrar bem exige conhecer bem

Celebrar bem é entrar no coração da vida cristã — e isso só é possível quando compreendemos o conteúdo da fé, a estrutura dos ritos, o sentido dos símbolos e a beleza da ação litúrgica.

Quem conhece o que celebra participa de modo verdadeiramente consciente, ativo e frutuoso. E, assim, abre espaço para a ação do Espírito Santo, que transforma, santifica e conduz à intimidade com Cristo. A Liturgia alcança então sua finalidade: formar adoradores em espírito e verdade.

Serginho Valle
Novembro 2025


9 de nov. de 2025

Exortação Apostólica de Leão XIV - “Dilexi te” Uma leitura à luz da Teologia Pastoral Litúrgica


Reflexão teológico-litúrgica sobre a Exortação Dilexi te, de Leão XIV, e o chamado da Igreja a amar e servir os pobres.

No dia 9 de outubro de 2025, o Papa Leão XIV publicou a Exortação Apostólica Dilexi te, chamando atenção para a dimensão cristã manifestada pelo “amor para com os pobres”. O próprio Papa Leão XIV esclarece que a Dilexi te foi iniciada pelo Papa Francisco — o que tem tudo a ver, considerando que o pobre sempre foi um tema querido do Papa Francisco —. No caso, a Dilexi te trata da caridade e da atenção da Igreja para com os irmãos e irmãs que vivem na pobreza. O documento propõe uma reflexão teológica, bíblica e pastoral para configurar a ação da Igreja no cuidado dos pobres.

O olhar litúrgico sobre os pobres

O contato da Igreja com os pobres não tem objetivo unicamente sociológico, embora apareça como consequência. O objetivo é estritamente pastoral, oferecendo fundamentos para reafirmar que o amor a Deus é inseparável do amor aos pobres, convertendo esse princípio em práxis eclesial. É nesse contexto que podemos propor um primeiro e inicial contato com a Liturgia, mais precisamente dentro da Oração Eucarística, sobre o modo como olhar os pobres.

 Já tenho mencionado este aspecto em outros textos, chamando atenção de como a Liturgia intercede a graça de ter olhos para ver os pobres e, mais ainda, ver suas necessidades. Refiro-me à Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias IV: “Jesus, caminho para o Pai”. Na primeira intercessão, depois da epíclesis consacratória, a oração diz: 

“Abri os nossos olhos para perceber as necessidades dos irmãos e irmãs; inspirai-nos palavras e ações para confortar os cansados e oprimidos; fazei que os sirvamos de coração sincero, seguindo o exemplo e o mandamento de Cristo.” 

 Que olhos são esses? Os olhos de Jesus. Ter o mesmo olhar de Jesus diante dos pobres, dos cansados e dos oprimidos.

 Essa relação ajuda-nos a compreender a atividade educadora da Liturgia no modo de olhar os pobres. A Dilexi te, nesse contexto, pode ser considerada um olhar ampliado daquilo que a Igreja intercede na própria Liturgia, incentivando os celebrantes a reconhecerem os pobres como rosto de Cristo e, como consequência, a combaterem as causas estruturais da pobreza, restabelecendo condições de dignidade humana para todos. A Liturgia, portanto, não é alheia e nem alienada diante dos pobres.

“Pobres sempre tereis entre vós” (Mc 14,7)

Quando Judas Iscariotes critica Jesus por permitir que um óleo caríssimo seja desperdiçado ungindo seus pés, o ensinamento do Mestre foi este: “Pobres sempre tereis entre vós” (Mc 14,7). Jesus indica o pobre como locus theologicus, no sentido de o relacionamento com o pobre ser favorecedor da experiência de Deus. Enquanto a Igreja estiver peregrinando no mundo, sempre se deparará com os pobres e os tratará como sacramento de Cristo (Mt 25,35-40). O contato com os pobres sempre existirá na Igreja, e isso significa que eles são uma riqueza por facilitar o contato com o Senhor. Alguns santos, como São Lourenço de Roma, definiam os pobres como o verdadeiro “tesouro da Igreja”.

 O contato com os pobres desafia os cristãos e cristãs a compreender a inseparabilidade entre fé e amor concreto aos pobres — a caridade como prova da fé. A celebração litúrgica da Quinta-feira Santa, na Missa vespertina, propõe essa dimensão no rito do lava-pés (Jo 13,1-15). A Igreja repete esse rito não como teatro, mas como memória, em um contexto de recordação, para transformar o que é celebrado em atitude concreta: provocar cada celebrante a viver como servo nas relações sociais, colocando-se a serviço da vida, especialmente dos mais necessitados.

 Outro tema da Dilexi te, desta vez com tom de denúncia, refere-se às novas e antigas formas de pobreza e às estruturas econômicas que geram desigualdade. No Brasil, esse contato acontece, na Liturgia, especialmente durante a Quaresma, com a Campanha da Fraternidade. Muitos católicos têm dificuldade em compreender a profecia realizada pela Campanha da Fraternidade durante as celebrações litúrgicas quaresmais. Todos os profetas do Antigo Testamento denunciam injustiças contra os pobres; o próprio Jesus profetizou contra as desigualdades sociais e chamou atenção de quem não partilha o que tem com quem passa fome. A Liturgia, na Campanha da Fraternidade, exerce sua dimensão profética, denunciando a exploração e as injustiças que atingem vidas, a ponto de condenar pessoas e famílias á situação de pobreza extrema.

 A espiritualidade litúrgica e as Obras de Misericórdia

Além da denúncia profética diante de situações de pobreza, a espiritualidade litúrgica propõe atenção especial às Obras de Misericórdia. Isto acontece através da atividade mistagógica, com celebrações evangelizadas e evangelizadoras, propondo, celebração depois de celebração, Domingo depois de Domingo, o crescimento espiritual para que as obras de misericórdia se tornem uma realidade dentro da comunidade em favor dos mais necessitados da paróquia. Vou dar um exemplo.

 Na Missa do 15º Domingo do Tempo Comum - C, é proclamado o Evangelho do Bom Samaritano (Lc 10,25-37), que propõe a obra da misericórdia de acolher quem foi ferido pela vida. Na Missa do 18º Domingo do Tempo Comum - A, o Evangelho narra a multiplicação dos pães (Mt 14,13-21), expressão da obra de misericórdia de dar de comer aos famintos. A Liturgia torna-se momento de reflexão diante destas duas e outras tantas situações sociais — feridos, doentes e famintos —, momento de oração e momento de envio para agir misericordiosamente em favor deles. A Liturgia proclama, reflete e envia a viver e praticar as obras de misericórdia.

 A Liturgia na “Dilexi te”

Graças à facilidade oferecida pelas redes sociais, fiz uma pesquisa no texto da Dilexi te e verifiquei que a palavra “Liturgia” aparece apenas uma vez, no n. 40, referindo-se à fractio panis em modo relacional: o pão repartido na mesa do altar é Cristo, e o pão repartido na mesa com o pobre é o pão repartido com Cristo, porque “quem der, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa” (Mt 10,42).

 Inspirando-se em São Justino, o Papa afirma que “não se pode separar o culto a Deus da atenção aos pobres” (DT, 40). Culto e caridade são uma única celebração: iniciada na Igreja e concluída no relacionamento caridoso com o pobre. Iniciada na caridade, encontra seu ponto culminante na partilha do pão, na mesa do altar (SC 10).

 No texto da Dilexi te, o termo “Liturgia” não aparece como palavra-chave; contudo, podemos entender a Liturgia relacionada ao culto e ao sentido da adoração ligados à caridade. O ensinamento de Jesus — “Deixa a tua oferta diante do altar, vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão e, então, volta para apresentar a tua oferta” (Mt 5,23-24) — encontra pleno sentido no relacionamento com o pobre, especialmente com aquele com quem não repartimos o pão, a veste ou a presença de uma visita (Mt 25,35-36). O culto da verdadeira adoração antecede ou torna-se consequência no relacionamento com quem precisa de nossa ajuda.

 É a consequência da celebração litúrgica: o que se ouve na celebração e o sacramento celebrado sempre selam compromissos que se traduzem em gestos de fraternidade. Um desses compromissos é abrir-se à ação do mesmo e único Espírito Santo, que conduz a celebração e impulsiona a promover a fraternidade e a solidariedade. É o mesmo Espírito que age sacramentalmente em todas as celebrações sacramentais santificando os celebrantes e os conduzindo a relacionamentos de gratuidade misericordiosa com os pobres.

 Este processo encontra fundamento em Rm 12,1-2, onde São Paulo exorta:


“Oferecei vossos corpos como sacrifício vivo, santo e agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual. E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus.”

 Relação entre Liturgia e os temas sociais da “Dilexi te”

A Exortação Apostólica Dilexi te inspira a refletir sobre a consequência do culto cristão em relação à conversão ética e pastoral continuamente proposta pela Liturgia no cuidado com os pobres. O exemplo está no próprio Jesus, expresso na Instituição da Eucaristia e no rito do lava-pés (Jo 13,14-15), que nos primeiros tempos da Igreja estavam unidos ao Batismo e à Eucaristia, considerados modelo de vida e serviço cristão na caridade fraterna.

 Um elemento ilustrativo encontra-se na conclusão da parábola do Bom Samaritano. Jesus pergunta ao fariseu: “Qual dos três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores?” O fariseu respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele.” Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu o mesmo” (Lc 10,36-37). Assim deve ser o final de toda celebração: os celebrantes devem entender o “vimos” com os olhos divinos como tratar fraternalmente os irmãos; agora, devemos ir e fazer o mesmo, especialmente com os mais pobres.

A leitura da Dilexi te sob a ótica da Teologia Litúrgica evidencia que o culto — a Liturgia e a vida sacramental — não é fim em si mesmo, mas abre o coração à partilha. Especialmente na Eucaristia, que pastoralmente propõe, ao longo do Ano Litúrgico, diversos comportamentos exemplares de Jesus diante dos pobres, favorecendo aos celebrantes imitar o Mestre em sua identificação com os últimos e inspirando atitudes de fraternidade.

Do ponto de vista espiritual, a Dilexi te recorda que um culto litúrgico verdadeiro rejeita a auto referencialidade e promove a escuta do clamor dos pobres. Isso pode ser proposto em homilias, orações comunitárias e intenções de oferta, sempre em contexto mistagógico, favorecendo nos celebrantes o senso de justiça e compaixão. Assim, a integração entre celebração litúrgica e ação social torna-se caminho de santificação pessoal e comunitária. A Liturgia, deste modo, é fonte espiritual de toda a dinâmica pastoral no compromisso com os pobres.

Propostas pastorais

A leitura da Dilexi te, em modo prático e como parte da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP), oferece muitas inspirações que — no bom senso da comunicação litúrgica — podem ser usadas nas celebrações, nas quais o tema da pobreza se fizer presente ou em ações solidárias paroquiais. Faço algumas sugestões:

 

1.     Homilias e orações comunitárias: preparar textos que articulem a presença de Cristo nos empobrecidos, relacionando-a com as Obras de Misericórdia, para formar a consciência cristã da assembleia conforme propõe a Dilexi te.

 

2.     Ritos ofertoriais solidários: promover campanhas como “Campanha do Quilo”, campanha do agasalho ou ações em favor de vítimas de catástrofes, ritualizando-as na Liturgia e envolvendo toda a comunidade.

 

3.     Celebrações penitenciais comunitárias: com ou sem confissão individual, especialmente após encontros ou reflexões ou retiros ou curso sobre temas sociais iluminados pela Doutrina Social da Igreja.

 

4.     Festas de santos e santas dos pobres: celebrar santos padroeiros ou figuras como São Francisco de Assis, Santa Dulce dos Pobres, Santa Paulina, Santa Teresa de Calcutá, Santo Antônio Galvão, entre outros, como impulso missionário e expressão da opção preferencial pelos pobres, tão cara à Igreja latino-americana.

A Dilexi te, estudada e refletida no âmbito comunitário, propõe várias sugestões à PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial, para fomentar a espiritualidade litúrgica em modo celebrativo e missionário, colocando em prática, de forma solidária e fraterna, aquilo que se celebra.

Conclusão – A Liturgia que ama

A Exortação Apostólica do Papa Leão XIV inspira-nos a compreender a Liturgia como fonte da caridade fraterna para com os necessitados. É bom lançar um olhar para a Liturgia como “Liturgia que promove fraternidade”. Podemos dizer que a Dilexi te convida a redescobrir a Liturgia como o “coração compassivo” da Igreja.

Celebrar é tomar contato com o movimento do amor de Cristo: descer, servir, elevar. Descer para ajudar o pobre caído; servir a vida empobrecida em irmãos e irmãs; elevar, pelo respeito à vida sem dignidade, vítima de uma sociedade egoísta. Em cada celebração, assumimos o compromisso de desvendar o rosto misericordioso do Pai para com os pequenos, os humildes e os que vivem carregando pesados fardos (Mt 11,28-29).

Aquilo que ouvimos e celebramos na Liturgia — “Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19) — não deve ser apenas rito, mas vida traduzida em serviço fraterno como gesto concreto do lava-pés (Jo 13,14-15). Toda celebração tem um lava-pés e promove diversos modos de lava-pés nos diferentes momentos de relacionamentos sociais. 



Serginho Valle
Novembro de 2025

 

25 de out. de 2025

Dimensão escatológica da Liturgia — rumo ao céu


Escatologia e Liturgia
A Liturgia possui uma dimensão escatológica que é a meta existencial da vida cristã: os discípulos e discípulas de Jesus Cristo são peregrinos e têm como meta de suas vidas participar plenamente da santidade divina ou, em outra terminologia, participar da glória divina, da vida eterna. Essa participação se realiza de forma litúrgica, com uma eterna Liturgia de louvor, ação de graças e adoração como atestado no Apocalipse de São João. 

Isso faz compreender que as Liturgias que celebramos são “provisórias”, porque nosso destino é o céu, onde a Liturgia é eterna e perene. Em todas as celebrações Eucarísticas, professamos a fé e a esperança invocando a vinda do Senhor: “maranathá” — “Vem, Senhor Jesus” (cf. Ap 22,20) — como se expressa claramente nas aclamações da Oração Eucarística, precedidas pelo “Eis o mistério da fé” que sempre se conclui intercedendo a 2ª vinda do Senhor.


Duas características na celebração peregrina
A palavra “peregrino” apresenta duas características. Primeiramente, descreve pessoas que se colocam a caminho com um objetivo definido, que guia e orienta sua ação presente. Na passagem bíblica dos Reis Magos (cf. Mt 2,1-12), eles apresentam o objetivo de sua viagem diante de Herodes: “vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). O peregrino faz de sua peregrinação uma Liturgia, uma celebração com um objetivo claro, do ponto de vista religioso: fazer uma viagem (em modos de celebração) para encontrar-se com Deus em algum lugar determinado e adorá-lo.


Pode-se adorar em casa? Claro que sim, mas existe um objetivo celebrativo no coração do peregrino, que se dispõe ao esforço de uma viagem para encontrar-se com Deus em outro lugar. Trata-se de uma profecia da vida: peregrinamos — a vida é uma passagem (uma páscoa), uma peregrinação — que nos conduz a celebrar a Páscoa eterna com Deus. De Páscoa em Páscoa até a Páscoa definitiva. Assim compreendemos uma dimensão da espiritualidade litúrgica presente em nossas celebrações: sempre recordando que somos peregrinos.


A segunda característica, essa de ordem psicológica, é o desejo de chegar ao “templo” e experimentar a alegria de contemplá-lo. É o que retrata o salmista (Sl 121), um peregrino que expressa sua alegria e contentamento ao ver de longe o destino de sua peregrinação: “Que alegria quando me vieram dizer: ‘Vamos à casa do Senhor!’ Eis que nossos pés se detêm junto às tuas portas, Jerusalém!” (Sl 121,1-2). O estado psicológico do peregrino manifesta expectativa, alegria e contentamento quando se depara com o seu destino. Podemos aplicar o mesmo estado ao celebrante das Liturgias: celebrar com o coração desejoso e esperançoso de contemplar a “cidade santa” que é iluminada pela luz do Cordeiro (cf. Ap 21,23).


Tudo isso faz compreender que a celebração litúrgica é epifania da Igreja como povo em movimento, cuja verdadeira e duradoura pátria é o céu. As procissões realizadas durante as celebrações são ritos que recordam aos celebrantes, em sua linguagem ritual, breve e simbólica, a característica peregrina da Igreja. Isso é evidente na aclamação da Oração Eucarística V: “caminhamos na estrada de Jesus”. Os celebrantes são caminhantes na direção do encontro com o Pai, peregrinando para a Jerusalém Celeste, caminhando na “estrada de Jesus”.


Uma Teologia Pascal 
A Teologia do Ano Litúrgico é inteiramente pascal, no sentido de ser uma passagem, palavra indicativa de quem é peregrino e está de passagem. O Ano Litúrgico inicia celebrando a segunda vinda de Jesus Cristo nos dois primeiros Domingos do Advento e se conclui na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, termo de chegada e destino final da Igreja, nos últimos Domingos do Tempo Comum em celebrações de caráter escatológico. O destino final é sempre a vida eterna, na casa do Pai, onde Jesus preparou um lugar para nos receber (cf. Jo 14,2-3).


A dimensão escatológica, presente nos últimos Domingos do Tempo Comum e nos dois primeiros Domingos do Advento, também se encontra na Festa de Todos os Santos e Santas (1º de novembro) e na Missa da Comemoração dos Fiéis Defuntos (2 de novembro). Na Festa, o destino escatológico da vida divina presente na Igreja triunfante e, na comemoração, o destino da vida humana não é ser enterrada, mas peregrinar para participar da santidade divina, na vida eterna. É a oração na absolvição do ato penitencial da Missa: “e nos conduza à vida eterna”.


Cada celebração litúrgica — algo ainda mais evidente nas celebrações Eucarísticas — recorda ao celebrante que ele tem um destino existencial.


Também a celebração da Penitência, em sua dimensão teológica pascal, convida o celebrante a corrigir a rota e voltar a caminhar na “estrada de Jesus” rumo à vida eterna sempre que se desvia da estrada que conduz ao destino da peregrinação.


Na Liturgia das celebrações da Iniciação Cristã é dado o primeiro passo da peregrinação em direção à casa do Pai. Em todas as celebrações litúrgicas se remete ao mesmo destino, como as celebrações dos Sacramentos do estado de vida (Ordem e Matrimônio) e nas celebrações medicinais (Penitência e Unção dos Enfermos). Todas lembram que somos peregrinos e caminhamos para a Jerusalém celeste.


Nossas celebrações são antegozo da eternidade 
Para concluir, consideremos o Catecismo da Igreja Católica, n. 1090:


“Na Liturgia terrestre, antegozando, participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército celestial, cantamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos com ele na glória.”


A dimensão escatológica da Liturgia diz continuamente aos celebrantes que a celebração jamais é uma atividade passiva, mas que sempre impulsiona a vida na direção do encontro com o Pai, onde Jesus preparou um lugar para nós (cf. Jo 14,2-3). Sobre este aspecto, o Missal propõe um “orate fratres” que resume a dimensão escatológica da Liturgia definindo-a como pausa restauradora: “orai, irmãos e irmãs, para que o sacrifício da Igreja, nesta pausa restauradora na CAMINHADA rumo ao céu, seja aceito por Deus Pai todo-poderoso.”  Somos celebrantes peregrinos que restauramos nossas forças celebrando a Liturgia.

Serginho Valle 
Outubro de 2025

 


11 de out. de 2025

Liturgia e Peregrinação: celebrar o caminho que nos leva ao encontro com Deus


A primeira vez que ouvi falar sobre Liturgia e peregrinação foi durante uma aula de Exegese, lá pelo segundo ou terceiro ano do curso de Teologia. Estávamos mergulhados no estudo dos Livros Sapienciais, mais precisamente no Livro dos Salmos.

O professor era o pastor luterano Milton Schwantes, um estudioso que tinha o dom de aproximar a Bíblia da vida. Ele nos ajudava a perceber o que o salmista estava vivendo e, assim, trazia a experiência do texto para dentro da nossa própria história. Na prática, era como se o leitor se tornasse um “novo salmista”, em comunhão com aquele que um dia rezou e cantou as mesmas dores e alegrias relatadas no salmo.

No Salmo 121, o salmista, tomado de alegria, reza:

“Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor! Meus pés agora se detêm diante das tuas portas, ó Jerusalém!”

O salmo revela a alegria do peregrino que caminha com fé. Não é o entusiasmo de um turista religioso, mas a emoção de quem parte movido pelo desejo de se encontrar e fazer experiência de contato com o sagrado: viver o encontro com Deus, na companhia de outros, homens e mulheres da mesma idade, que partilham a mesma esperança.

Esta é uma experiência profundamente litúrgica que o peregrino experimenta quando celebra a Eucaristia, por exemplo, juntamente com outros peregrinos e peregrinas. O turista, no mesmo santuário, se distrai e a Missa se torna longa. O peregrino e a peregrina sentem a comunhão espiritual e o calor humano de todos que vivem a mesma alegria de estar perto de Deus: é a alegria de estar na casa do Senhor (Sl 121) e não o prazer de estar em um monumento turístico.


A esperança que sustenta cada passo

O peregrino carrega muito mais do que uma mochila. Ele leva sua história inteira: dores, perguntas, lembranças e, sobretudo, uma grande esperança — esperança de cura, de mudança, de respostas que só Deus pode oferecer. É toda essa motivação interior que dá sentido à caminhada, que se chama peregrinação, e mantém os olhos fixos na meta.

Há peregrinos e peregrinas que caminham para suplicar; outros, para agradecer. Mas todos partilham a mesma fé e esperança no mesmo caminho e na mesma caminhada: a certeza de que cada passo tem valor diante de Deus.

A fé do peregrino e da peregrina é visível no “pagamento da promessa” e no momento da celebração litúrgica. Padres que trabalham em santuários partilham que a confissão de um peregrino é diferente da confissão de quem, apenas, visita o santuário e “aproveita” para confessar. A experiência litúrgica do peregrino, no caso da confissão, é fortalecida pelo propósito de mudança de vida. Não apenas “aproveitar” o momento da visita ao santuário para a desobrigação de confessar-se. Em certo sentido, a experiência da peregrinação ajuda a levar a Liturgia a sério no que se refere ao compromisso.

A peregrinação contém três elementos fundamentais:

  • o risco, porque o peregrino deixa a segurança do conhecido para enfrentar o incerto;
  • a fadiga, o esforço real de caminhar, sentir o peso da mochila, enfrentar o cansaço e, mesmo assim, saborear a paisagem e o silêncio;
  • a meta, que não é apenas um ponto no mapa, mas o sentido profundo de todo o percurso.

E é bonito perceber: mesmo quando a chegada acontece, a busca não termina, porque Deus sempre chama a ir mais além. Quando o cansaço é recompensado pela alegria da chegada — como canta o salmista do Salmo 121 — o peregrino se sente revigorado e, em seu coração, já nasce o desejo de refazer o caminho. Somos, afinal, homo viator, seres em constante travessia. Peregrinar é fazer conscientemente a experiência que somos viajantes espirituais — sempre em movimento, sempre com o coração voltado para o céu.

Este fato é conhecido de muitos peregrinos e peregrinas que fazem longas peregrinações, como o “Caminho da fé”, aqui no Brasil, ou o “Caminho de Santiago”, da França à Compostela, na Espanha. Depois de contar a experiência é comum ouvir deles: “se eu puder repetir, vou fazer novamente”. Um desses peregrinos, que conheci, me perguntava: por que a Missa na minha comunidade não é igual ao do santuário? Novamente, a Liturgia tem sentido quando nela se celebra intensamente a caminhada da vida nas estradas da história.

O turista apenas visita o santuário, o peregrino faz experiência de se encontrar com Deus no santuário. O turismo religioso não consegue oferecer a experiência do peregrino porque é marcado pela comodidade. A peregrinação não tem nada de cômodo, mas o esforço de caminhar e vencer o cansaço. O turismo religioso e o peregrino chegam ao mesmo destino, mas de modos diferentes, por isso a experiência de um é profunda e do outro é apenas fotográfica. O peregrino fala de uma experiência, o turista fala de uma lembrança.


O silêncio que acolhe e transforma

Quando o peregrino chega ao destino, experimenta uma sensação única: a de estar em um lugar sagrado. Não é apenas a beleza arquitetônica que impressiona, como acontece com o turista, mas a presença de Deus que percebe e sente. Santuários, igrejas, capelas de beira de estrada… o que os torna especiais é a experiência viva do sagrado. É a experiência que marca a vida e não apenas um registro fotográfico.

E então, vem o silêncio — um silêncio diferente, cheio de significado. É o silêncio que acolhe e cura, que ajuda a fazer as pazes com o passado, a encontrar equilíbrio no presente e a sonhar um futuro mais leve. Nesse silêncio, o peregrino descobre que a viagem não foi apenas geográfica, mas também interior. Eis outra grande diferença entre o peregrino e o turista religioso. O peregrino descansa seu cansaço na paz do seu coração. Essa experiência — a peregrinação interior — está presente em inúmeros relatos de homens e mulheres que se puseram a caminho para fazer a experiência de peregrinos e peregrinas.

A peregrinação torna-se, no fundo, um convite à conversão: sair de si mesmo, abrir-se a Deus, caminhar fraternalmente com quem caminha lado a lado. Isso se torna mais forte no momento da celebração; é a experiência de celebrar com quem faz o mesmo caminho da vida comigo sentindo-se peregrino com o outro e como o outro.

Concluindo

Escrevi este artigo porque, recentemente, um amigo meu voltou a comentar, pela enésima vez, sua experiência de peregrino no “caminho da fé”, que sai de Minas Gerais e termina no Santuário de Nossa Aparecida. Contou do caminho e falou da celebração. Nunca mais esqueceu aquela Missa e a sua confissão. Partilhei com ele minhas peregrinações, especialmente uma que me marcou: a peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França. Ainda hoje, sinto o silêncio da gruta de Nossa Senhora e o terço que rezei sentado perto do rio que corta o espaço da construção do santuário.

Outro motivo é que ontem, 10 de outubro de 2025, vi várias reportagens e relatos em redes sociais de peregrinações de romeiros dirigindo-se para o Santuário de Aparecida. Por isso, este texto talvez seja um incentivo para você fazer a mesma experiência realizar uma peregrinação.

Serginho Valle
12 de outubro 2025
Data de peregrinação ao Santuário de Aparecida