
A
fonte do perdão encontra-se na misericórdia divina, celebrada no Sacramento da
Penitência, que é especialmente motivante para reconfigurar os relacionamentos
a partir do perdão. Por isso, a finalidade da Pastoral da Penitência não
consiste em “fazer campanhas para aumentar o número das confissões”, mas para
implantar e cultivar a mentalidade do perdão e da misericórdia celebrado no
Sacramento da Penitência. Este tema encontra uma luz na parábola do “Servo
cruel”. Conta o perdão de um rei bondoso e um servo que não foi capaz de
perdoar a pequena dívida que um amigo tinha com ele (Mt 18,21-35). Deus sempre
perdoa, canta o salmista, no Sl 102. O perdão é divino, é uma manifestação do
amor divino para com quem o ofendeu. A proposta de uma Pastoral da Penitência
tem como objetivo favorecer a cultura do perdão; o cultivo do perdão e da
reconciliação dentro da comunidade.
A
cultura do perdão, no sentido de “cultivar o perdão na comunidade”, inspira-se
totalmente na misericórdia divina que, no dizer do Sl 102, não guarda rancor
daquilo que lhe devemos com nossos pecados e nossas faltas. A Pastoral da
Penitência favorece a compreensão da confissão não como um tribunal de acusação
acompanhado do perdão, mas como escola da humildade onde se aprende a ser
fraterno perdoando quem nos ofendeu. É um modo de entender, a partir da
parábola do “Servo cruel” (Mt 18,21-35), que nossas ofensas sempre nos colocam
em dívida para com o amor divino. É que diz o texto latino do Pai nosso: “et dimitte
nobis debita mostra!” — “perdoai as nossas dívidas.” Sempre, em todos os
momentos da vida, somos devedores da misericórdia divina. Assim também, quando
ofendemos alguém, somos devedores do amor fraterno a quem ofendemos.
Em
tal contexto, do ponto de vista do penitente, este é alguém que se aproxima do
confessionário não para se acusar, mas para interceder o perdão de sua dívida e
tornar-se cada vez mais perdoador, perdoando as dívidas que as outros têm para
conosco. No dizer do Pai nosso, em latim: “sicut et nos dimittimus debitoribus
nostris” — “assim como perdoamos aos nossos devedores.” Devedores do amor para
conosco.
A
Pastoral da Penitência na comunidade tem a finalidade, não apenas propor e
preparar celebrações penitenciais, mas de criar essas celebrações para
favorecer a compreensão do Sacramento da Penitência como celebração de encontro
com o amor divino como diz a carta aos hebreus: “De fato, não temos um sumo sacerdote incapaz de se
compadecer de nossas fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo, à nossa
semelhança, sem todavia pecar” (Hb 4,16).
Uma Pastoral da Penitência eficiente em uma
comunidade faz compreender que, se o pecado é uma manifestação natural da fragilidade
humana, o perdão é atividade divina que nos fortalece quando somos perdoados
por Deus e quando perdoamos quem nos ofendeu. Por isso, celebrar o perdão, no e
pelo Sacramento da Penitência, é fortalecer o amor para perdoar quem nos
ofendeu. Quem não faz a experiência de ser perdoado por Deus terá dificuldade
para perdoar quem o ofendeu.
Tais conceitos nem sempre são lembrados em
nossas comunidades, especialmente onde a celebração da Penitência
transformou-se em “mutirão de confissões”. Uma proposta favorecedora da praticidade,
mas nada pastoral. O mutirão pode realizar conversões, mas se situa como
desobrigação de uma prática religiosa, ao passo que a Pastoral da Penitência
tem em vista a formação de uma cultura existencial cristã caracterizada pelo
perdão e pela misericórdia.
Serginho
Valle
Junho
de 2020
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