Refletir e celebrar a morte do cristão é entrar na
dinâmica da esperança da Ressurreição do Senhor, que garante ao cristão a
ressurreição no último dia (Jo 6,36-40; 14,1-6). Estamos diante de um aspecto
da espiritualidade que se fundamenta na fé e na esperança da vida eterna. Mesmo
que o cristão fique triste, chore e sinta saudades de alguém que morreu, ele
não perde a esperança, jamais. A saudade faz parte da vida cristã; a tristeza
da mesma forma, mas nem a morte é capaz de abalar a fé e a esperança cristã. É
uma experiência que, vivenciada na fé, fortalece a confiança e a esperança em
Deus. A celebração litúrgica das exéquias, dentre as suas finalidades, deverá
favorecer espiritualmente o fortalecimento da fé e da esperança.
Como
acontece com toda espiritualidade cristã, à luz da Liturgia, também as exéquias
encontram seu fundamento e sua inspiração no Mistério Pascal de Cristo e, de
modo especial, na Ressurreição do Senhor. Assim como Deus ressuscitou Jesus
Cristo, o primeiro a entrar na casa do Pai, assim também quem morre em Cristo
vive pessoalmente sua Páscoa (passagem) no dia de sua morte.
Respeito para com o falecido
Outra dimensão, que encontra sua
fonte na teologia e na riqueza espiritual da Liturgia, é o respeito pelos
falecidos. O respeito deve-se a alguém querido, ou que fez parte da nossa vida,
a quem se presta a última homenagem. A Liturgia celebra este momento com a
saudade triste, com as preces e com a solidariedade aos familiares. Por isso, a
Liturgia dos funerais é sempre celebrada no mais profundo clima de respeito.O respeito cristão está relacionado também a aquela pessoa que, no seu corpo falecido, foi templo do Espírito Santo, como menciona o Ordo Exsequiarum, n. 3. Mesmo sabendo que o corpo volta ao pó, há nele uma sacralidade, de acordo com a Sagrada Escritura (1Cor 6,19-20; Gl 6,17) e, por este motivo, o Rito das Exéquias orienta abençoar, aspergir e incensar o corpo do falecido. Estamos diante de uma manifestação da espiritualidade do corpo, revelador da sacralidade do corpo.
Celebrar
a morte cristã, do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, é ajudar as
pessoas a entrarem na dinâmica da esperança cristã em vista da vida eterna. Neste
sentido, a celebração das exéquias faz memória do destino final, não com as ameaças
do medo, mas com a força da esperança. Uma celebração, portanto, sempre
emocionante porque de despedida derradeira, com a finalidade clara de favorecer
o crescimento na confiança e na esperança, de que desta vida passageira somos
destinados a viver eternamente com Deus, na esperança e na paz eterna.
Serginho Valle
Agosto
de 2021