Beleza
“Não
deveria haver na celebração uma música que não fosse uma verdadeira obra de
arte” (Pio X).
Universalidade
Ajudar os celebrantes de todas as culturas a se identificar na celebração
através da música.
Dizer que a música é parte
integrante da celebração litúrgica é considerar que a música faz parte da
celebração juntamente com a palavra, com os gestos, com os sinais e símbolos. É
dizer que a música não é um “opcional” da celebração e nem uma decoração. É
dizer que a Liturgia celebra com palavras, gestos, música, espaços... Perceba
que o termo usado é “juntamente com”, o que significa que, não é nem mais e nem
menos importante; reforça dizer que a música faz parte e compõe a celebração. A
música não é o elemento principal, embora seja, depois da palavra, o modo mais
utilizado na comunicação litúrgica e aquela que tem a capacidade de dar um
colorido especial e festivo à celebração.
Considerando a Liturgia, do ponto de
vista celebrativo e não ritual, não se pode pensar a celebração litúrgica sem a
música, principalmente quando se considera que a música é rito, no que se denomina
de música ritual. Tudo isso, faz-nos compreender duas coisas importantes:
qualquer música não serve e, é imprópria a ideia de fazer uma folha de cantos
que sirva para todas as Missas da comunidade. Por que? Primeiramente, porque
cada celebração tem uma característica próprio, enfoque ou contexto diferentes,
como dizemos em nossas propostas celebrativas do SAL – Serviço de Animação
Litúrgica (www.liturgia.pro.br ). Mas
tem um detalhe a mais, que precisamos atender.
Uma vez que existem leituras
diferentes nas celebrações, uma vez que não se faz a mesma homilia e nem as mesmas
motivações nas Missas, uma vez que existem propostas simbólicas diferentes para
cada Missa... entende-se que a música não pode ser um elemento estranho na
celebração; a música é parte integrante daquela celebração como um todo e, como
um todo colabora para a que a celebração seja uma unidade: palavras, símbolos,
sinais, música e gestos celebrando o mesmo Mistério Pascal de Cristo, sempre
iluminado por diferentes contextos.
Outro dato que gostaria de chamar
atenção, como parte integrante da Liturgia, é o fato que algumas músicas têm finalidade
didática; ajudam os celebrantes a compreender o que estão celebrando. Exemplo:
o canto de entrada “é o exórdio, a abertura solene da celebração; é a
preparação dos fiéis” para a missa (...) “Este canto introduz os fiéis
no mistério de comunhão com Cristo, desperta-os e os prepara para ouvir a
Palavra de Deus e participar dignamente da Eucaristia” (CNBB,
estudo 12, p. 12-13).
Ainda na dimensão didática da
música, podemos considerar a escolha da canção que irá acompanhar o rito da
partilha, na Comunhão Eucarística dos celebrantes. É uma canção escolhida à luz
da Palavra, especialmente com o Evangelho. Se o Evangelho, por exemplo, fala de
caridade, a canção escolhida cantará a caridade na vida cristã; se o Evangelho
fala de justiça, a canção da comunhão cantará a justiça do Reino. Entende-se
que a canção escolhida tem o papel didático de unir o Evangelho à comunhão,
comprometendo o celebrante a viver aquilo que ouviu e a vida divina que comunga
na Eucaristia.
Aqueles três critérios, mais um, citados no início desse artigo —
santidade, beleza, identidade cultural — tornam-se compreensíveis nos pontos
referidos. Sendo a Liturgia a “ação sagrada (santa) por excelência na
Igreja” (SC 7), entende-se que a música deve refletir poeticamente a
santidade da Liturgia. Sendo a comunicação litúrgica composta basicamente pela
linguagem artística, a música cantada na celebração deve resplandecer pela
beleza da arte musical. Uma vez que a celebração acontece num contexto cultural
próprio, a identidade musical deve ser refletida no modo de cantar e executar a
música.
Serginho Valle
Setembro de 2021