A formação e a espiritualidade litúrgicas são os pilares da Pastoral Litúrgica Paroquial (PLP)

A paz do Senhor!

A finalidade deste espaço é oferecer material de formação litúrgica para quem atua em ministérios litúrgicos na comunidade paroquial. Seja muito bem-vindo e bem-vinda. Se quiser e puder deixar sua contribuição, agradeço muito. (Serginho Valle)
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25 de out. de 2025

Dimensão escatológica da Liturgia — rumo ao céu


Escatologia e Liturgia
A Liturgia possui uma dimensão escatológica que é a meta existencial da vida cristã: os discípulos e discípulas de Jesus Cristo são peregrinos e têm como meta de suas vidas participar plenamente da santidade divina ou, em outra terminologia, participar da glória divina, da vida eterna. Essa participação se realiza de forma litúrgica, com uma eterna Liturgia de louvor, ação de graças e adoração como atestado no Apocalipse de São João. 

Isso faz compreender que as Liturgias que celebramos são “provisórias”, porque nosso destino é o céu, onde a Liturgia é eterna e perene. Em todas as celebrações Eucarísticas, professamos a fé e a esperança invocando a vinda do Senhor: “maranathá” — “Vem, Senhor Jesus” (cf. Ap 22,20) — como se expressa claramente nas aclamações da Oração Eucarística, precedidas pelo “Eis o mistério da fé” que sempre se conclui intercedendo a 2ª vinda do Senhor.


Duas características na celebração peregrina
A palavra “peregrino” apresenta duas características. Primeiramente, descreve pessoas que se colocam a caminho com um objetivo definido, que guia e orienta sua ação presente. Na passagem bíblica dos Reis Magos (cf. Mt 2,1-12), eles apresentam o objetivo de sua viagem diante de Herodes: “vimos sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo” (Mt 2,2). O peregrino faz de sua peregrinação uma Liturgia, uma celebração com um objetivo claro, do ponto de vista religioso: fazer uma viagem (em modos de celebração) para encontrar-se com Deus em algum lugar determinado e adorá-lo.


Pode-se adorar em casa? Claro que sim, mas existe um objetivo celebrativo no coração do peregrino, que se dispõe ao esforço de uma viagem para encontrar-se com Deus em outro lugar. Trata-se de uma profecia da vida: peregrinamos — a vida é uma passagem (uma páscoa), uma peregrinação — que nos conduz a celebrar a Páscoa eterna com Deus. De Páscoa em Páscoa até a Páscoa definitiva. Assim compreendemos uma dimensão da espiritualidade litúrgica presente em nossas celebrações: sempre recordando que somos peregrinos.


A segunda característica, essa de ordem psicológica, é o desejo de chegar ao “templo” e experimentar a alegria de contemplá-lo. É o que retrata o salmista (Sl 121), um peregrino que expressa sua alegria e contentamento ao ver de longe o destino de sua peregrinação: “Que alegria quando me vieram dizer: ‘Vamos à casa do Senhor!’ Eis que nossos pés se detêm junto às tuas portas, Jerusalém!” (Sl 121,1-2). O estado psicológico do peregrino manifesta expectativa, alegria e contentamento quando se depara com o seu destino. Podemos aplicar o mesmo estado ao celebrante das Liturgias: celebrar com o coração desejoso e esperançoso de contemplar a “cidade santa” que é iluminada pela luz do Cordeiro (cf. Ap 21,23).


Tudo isso faz compreender que a celebração litúrgica é epifania da Igreja como povo em movimento, cuja verdadeira e duradoura pátria é o céu. As procissões realizadas durante as celebrações são ritos que recordam aos celebrantes, em sua linguagem ritual, breve e simbólica, a característica peregrina da Igreja. Isso é evidente na aclamação da Oração Eucarística V: “caminhamos na estrada de Jesus”. Os celebrantes são caminhantes na direção do encontro com o Pai, peregrinando para a Jerusalém Celeste, caminhando na “estrada de Jesus”.


Uma Teologia Pascal 
A Teologia do Ano Litúrgico é inteiramente pascal, no sentido de ser uma passagem, palavra indicativa de quem é peregrino e está de passagem. O Ano Litúrgico inicia celebrando a segunda vinda de Jesus Cristo nos dois primeiros Domingos do Advento e se conclui na Solenidade de Jesus Cristo Rei do Universo, termo de chegada e destino final da Igreja, nos últimos Domingos do Tempo Comum em celebrações de caráter escatológico. O destino final é sempre a vida eterna, na casa do Pai, onde Jesus preparou um lugar para nos receber (cf. Jo 14,2-3).


A dimensão escatológica, presente nos últimos Domingos do Tempo Comum e nos dois primeiros Domingos do Advento, também se encontra na Festa de Todos os Santos e Santas (1º de novembro) e na Missa da Comemoração dos Fiéis Defuntos (2 de novembro). Na Festa, o destino escatológico da vida divina presente na Igreja triunfante e, na comemoração, o destino da vida humana não é ser enterrada, mas peregrinar para participar da santidade divina, na vida eterna. É a oração na absolvição do ato penitencial da Missa: “e nos conduza à vida eterna”.


Cada celebração litúrgica — algo ainda mais evidente nas celebrações Eucarísticas — recorda ao celebrante que ele tem um destino existencial.


Também a celebração da Penitência, em sua dimensão teológica pascal, convida o celebrante a corrigir a rota e voltar a caminhar na “estrada de Jesus” rumo à vida eterna sempre que se desvia da estrada que conduz ao destino da peregrinação.


Na Liturgia das celebrações da Iniciação Cristã é dado o primeiro passo da peregrinação em direção à casa do Pai. Em todas as celebrações litúrgicas se remete ao mesmo destino, como as celebrações dos Sacramentos do estado de vida (Ordem e Matrimônio) e nas celebrações medicinais (Penitência e Unção dos Enfermos). Todas lembram que somos peregrinos e caminhamos para a Jerusalém celeste.


Nossas celebrações são antegozo da eternidade 
Para concluir, consideremos o Catecismo da Igreja Católica, n. 1090:


“Na Liturgia terrestre, antegozando, participamos (já) da liturgia celeste, que se celebra na cidade santa de Jerusalém, para a qual, na qualidade de peregrinos, caminhamos. Lá, Cristo está sentado à direita de Deus, ministro do santuário e do tabernáculo verdadeiro; com toda a milícia do exército celestial, cantamos um hino de glória ao Senhor e, venerando a memória dos santos, esperamos fazer parte da sociedade deles; suspiramos pelo Salvador, Nosso Senhor Jesus Cristo, até que ele, nossa vida, se manifeste e nós apareçamos com ele na glória.”


A dimensão escatológica da Liturgia diz continuamente aos celebrantes que a celebração jamais é uma atividade passiva, mas que sempre impulsiona a vida na direção do encontro com o Pai, onde Jesus preparou um lugar para nós (cf. Jo 14,2-3). Sobre este aspecto, o Missal propõe um “orate fratres” que resume a dimensão escatológica da Liturgia definindo-a como pausa restauradora: “orai, irmãos e irmãs, para que o sacrifício da Igreja, nesta pausa restauradora na CAMINHADA rumo ao céu, seja aceito por Deus Pai todo-poderoso.”  Somos celebrantes peregrinos que restauramos nossas forças celebrando a Liturgia.

Serginho Valle 
Outubro de 2025

 


11 de out. de 2025

Liturgia e Peregrinação: celebrar o caminho que nos leva ao encontro com Deus


A primeira vez que ouvi falar sobre Liturgia e peregrinação foi durante uma aula de Exegese, lá pelo segundo ou terceiro ano do curso de Teologia. Estávamos mergulhados no estudo dos Livros Sapienciais, mais precisamente no Livro dos Salmos.

O professor era o pastor luterano Milton Schwantes, um estudioso que tinha o dom de aproximar a Bíblia da vida. Ele nos ajudava a perceber o que o salmista estava vivendo e, assim, trazia a experiência do texto para dentro da nossa própria história. Na prática, era como se o leitor se tornasse um “novo salmista”, em comunhão com aquele que um dia rezou e cantou as mesmas dores e alegrias relatadas no salmo.

No Salmo 121, o salmista, tomado de alegria, reza:

“Que alegria quando me disseram: vamos à casa do Senhor! Meus pés agora se detêm diante das tuas portas, ó Jerusalém!”

O salmo revela a alegria do peregrino que caminha com fé. Não é o entusiasmo de um turista religioso, mas a emoção de quem parte movido pelo desejo de se encontrar e fazer experiência de contato com o sagrado: viver o encontro com Deus, na companhia de outros, homens e mulheres da mesma idade, que partilham a mesma esperança.

Esta é uma experiência profundamente litúrgica que o peregrino experimenta quando celebra a Eucaristia, por exemplo, juntamente com outros peregrinos e peregrinas. O turista, no mesmo santuário, se distrai e a Missa se torna longa. O peregrino e a peregrina sentem a comunhão espiritual e o calor humano de todos que vivem a mesma alegria de estar perto de Deus: é a alegria de estar na casa do Senhor (Sl 121) e não o prazer de estar em um monumento turístico.


A esperança que sustenta cada passo

O peregrino carrega muito mais do que uma mochila. Ele leva sua história inteira: dores, perguntas, lembranças e, sobretudo, uma grande esperança — esperança de cura, de mudança, de respostas que só Deus pode oferecer. É toda essa motivação interior que dá sentido à caminhada, que se chama peregrinação, e mantém os olhos fixos na meta.

Há peregrinos e peregrinas que caminham para suplicar; outros, para agradecer. Mas todos partilham a mesma fé e esperança no mesmo caminho e na mesma caminhada: a certeza de que cada passo tem valor diante de Deus.

A fé do peregrino e da peregrina é visível no “pagamento da promessa” e no momento da celebração litúrgica. Padres que trabalham em santuários partilham que a confissão de um peregrino é diferente da confissão de quem, apenas, visita o santuário e “aproveita” para confessar. A experiência litúrgica do peregrino, no caso da confissão, é fortalecida pelo propósito de mudança de vida. Não apenas “aproveitar” o momento da visita ao santuário para a desobrigação de confessar-se. Em certo sentido, a experiência da peregrinação ajuda a levar a Liturgia a sério no que se refere ao compromisso.

A peregrinação contém três elementos fundamentais:

  • o risco, porque o peregrino deixa a segurança do conhecido para enfrentar o incerto;
  • a fadiga, o esforço real de caminhar, sentir o peso da mochila, enfrentar o cansaço e, mesmo assim, saborear a paisagem e o silêncio;
  • a meta, que não é apenas um ponto no mapa, mas o sentido profundo de todo o percurso.

E é bonito perceber: mesmo quando a chegada acontece, a busca não termina, porque Deus sempre chama a ir mais além. Quando o cansaço é recompensado pela alegria da chegada — como canta o salmista do Salmo 121 — o peregrino se sente revigorado e, em seu coração, já nasce o desejo de refazer o caminho. Somos, afinal, homo viator, seres em constante travessia. Peregrinar é fazer conscientemente a experiência que somos viajantes espirituais — sempre em movimento, sempre com o coração voltado para o céu.

Este fato é conhecido de muitos peregrinos e peregrinas que fazem longas peregrinações, como o “Caminho da fé”, aqui no Brasil, ou o “Caminho de Santiago”, da França à Compostela, na Espanha. Depois de contar a experiência é comum ouvir deles: “se eu puder repetir, vou fazer novamente”. Um desses peregrinos, que conheci, me perguntava: por que a Missa na minha comunidade não é igual ao do santuário? Novamente, a Liturgia tem sentido quando nela se celebra intensamente a caminhada da vida nas estradas da história.

O turista apenas visita o santuário, o peregrino faz experiência de se encontrar com Deus no santuário. O turismo religioso não consegue oferecer a experiência do peregrino porque é marcado pela comodidade. A peregrinação não tem nada de cômodo, mas o esforço de caminhar e vencer o cansaço. O turismo religioso e o peregrino chegam ao mesmo destino, mas de modos diferentes, por isso a experiência de um é profunda e do outro é apenas fotográfica. O peregrino fala de uma experiência, o turista fala de uma lembrança.


O silêncio que acolhe e transforma

Quando o peregrino chega ao destino, experimenta uma sensação única: a de estar em um lugar sagrado. Não é apenas a beleza arquitetônica que impressiona, como acontece com o turista, mas a presença de Deus que percebe e sente. Santuários, igrejas, capelas de beira de estrada… o que os torna especiais é a experiência viva do sagrado. É a experiência que marca a vida e não apenas um registro fotográfico.

E então, vem o silêncio — um silêncio diferente, cheio de significado. É o silêncio que acolhe e cura, que ajuda a fazer as pazes com o passado, a encontrar equilíbrio no presente e a sonhar um futuro mais leve. Nesse silêncio, o peregrino descobre que a viagem não foi apenas geográfica, mas também interior. Eis outra grande diferença entre o peregrino e o turista religioso. O peregrino descansa seu cansaço na paz do seu coração. Essa experiência — a peregrinação interior — está presente em inúmeros relatos de homens e mulheres que se puseram a caminho para fazer a experiência de peregrinos e peregrinas.

A peregrinação torna-se, no fundo, um convite à conversão: sair de si mesmo, abrir-se a Deus, caminhar fraternalmente com quem caminha lado a lado. Isso se torna mais forte no momento da celebração; é a experiência de celebrar com quem faz o mesmo caminho da vida comigo sentindo-se peregrino com o outro e como o outro.

Concluindo

Escrevi este artigo porque, recentemente, um amigo meu voltou a comentar, pela enésima vez, sua experiência de peregrino no “caminho da fé”, que sai de Minas Gerais e termina no Santuário de Nossa Aparecida. Contou do caminho e falou da celebração. Nunca mais esqueceu aquela Missa e a sua confissão. Partilhei com ele minhas peregrinações, especialmente uma que me marcou: a peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Lourdes, na França. Ainda hoje, sinto o silêncio da gruta de Nossa Senhora e o terço que rezei sentado perto do rio que corta o espaço da construção do santuário.

Outro motivo é que ontem, 10 de outubro de 2025, vi várias reportagens e relatos em redes sociais de peregrinações de romeiros dirigindo-se para o Santuário de Aparecida. Por isso, este texto talvez seja um incentivo para você fazer a mesma experiência realizar uma peregrinação.

Serginho Valle
12 de outubro 2025
Data de peregrinação ao Santuário de Aparecida

 

4 de out. de 2025

Dia e local do batizado


Toda celebração litúrgica tem relação direta com o Mistério Pascal de Jesus Cristo. A palavra “Mistério”, no contexto litúrgico, não tem o significado de “misterioso”, incompreensível, algo abstrato... mas refere-se a um acontecimento salvífico (uma intervenção, ou uma ação divina) que aconteceu na história. O nascimento de Jesus é um Mistério; é um acontecimento divino, manifestado na Encarnação e no seu nascimento da Virgem Maria, por exemplo. E, a palavra “pascal” é compreendida a partir da palavra hebraica “pessah”, que significa passagem. Assim, Mistério Pascal é um acontecimento histórico — que aconteceu na história humana — da passagem divina em algum momento da história humana.

 

A data (dia) do batizado

A Igreja considera que o ingresso no Mistério Pascal de Jesus Cristo realize-se solenemente em uma data especial: o Domingo.

 

A escolha do Domingo como dia do batizado tem relação com o Mistério Pascal de Jesus Cristo, fazendo com que o Batismo seja celebrado em sintonia com o grande mistério da Ressurreição de Jesus Cristo. Por isso, a Igreja orienta que, sempre que possível, os Batismos sejam realizados nos Domingos ou durante a Vigília Pascal, quando se celebra a Páscoa (passagem) de Cristo através da morte com a vitória final na sua Ressurreição.

 

Esse detalhe, que parece apenas uma escolha de data, na verdade está imbuído de um profundo significado teológico: o Batismo como mergulho no Mistério Pascal de Jesus Cristo. Quem é batizado, no dia que se celebra a Páscoa de Jesus Cristo, faz sua passagem pela Ressurreição de Jesus. Isto é, simbolicamente, representado pelo mergulho na água. É o rito e a celebração do renascimento para uma vida nova em Cristo.

 

Talvez você esteja se perguntando: Mas por que tanta preocupação com a data do Batismo? A resposta é simples e, ao mesmo tempo, profunda: a Liturgia é feita de sinais. O dia do Batismo é um sinal temporal, ligado à Ressurreição de Jesus Cristo, na qual o batizado (a pessoa batizada) é mergulhado no Mistério Pascal de Jesus.

 

O local do batizado

Outro elemento que, pela força do hábito, perdeu a força do significado, é a escolha do local: a igreja paroquial. No dia do batizado, toda a família, juntamente com a comunidade, se dirige à igreja paroquial para acompanhar a celebração do Batismo de mais um membro da comunidade.

 

Isso é significativo. Se antes, eu falava de um sinal temporal (dia), agora estou falando de um sinal espacial; é o local visível onde todos nós, sem distinção, nascemos da mesma fonte batismal. Essa fonte batismal encontra-se na igreja paroquial e, por esse motivo, também, a fonte batismal deve ser visível na igreja paroquial.

 

Por isso, a Igreja pede que o Batismo aconteça, sempre que possível, na igreja da comunidade, na fonte batismal, e de preferência em celebrações comunitárias. Não se trata apenas de uma questão de organização prática. É uma escolha pastoral que evita exclusões sociais e reforça o sentido de que todos, ricos e pobres, nascem da mesma fonte. Esta torna-se um sinal de fraternidade na mãe Igreja.

 

Essa orientação pastoral é muito importante para evitar que o Batismo se transforme em um evento privado, realizado em chácaras, salões ou locais reservados apenas para familiares que, entre possíveis motivos, consegue pagar um local especial e, desse modo, se distancia da comunidade, apresentando-se como alguém especial na comunidade. O Batismo é uma celebração da Igreja, e cada criança batizada, rica ou pobre, representa a alegria de toda a comunidade. Da mesma forma, quem é batizado também é acolhido por toda a comunidade, acolhida por ricos e pobres.

 

Concluindo

Se você quiser entender melhor o sentido de cada um desses aspectos — o dia, o local e a forma comunitária da celebração —, preparei uma série de vídeos especiais sobre o Batismo. São conteúdos que explicam em linguagem pastoral, de forma simples e acessível, o porquê de cada gesto do Batismo católico. Eu gravei vários vídeos sobre o Batismo explicando os ritos e seus significados. Para acessar a playlist sobre o Batismo basta clicar neste link: https://www.youtube.com/playlist?list=PL0h4xujwJqhmKKT4lcxrOwRtx2rfN5iro 

 

É sempre importante considerar que o Batismo é uma experiência de fé que envolve a comunidade inteira e celebra a vida nova em Cristo! O Batismo não é um ato isolado, é o início de uma caminhada na fé, que continua com a participação na vida da Igreja, que se prolonga com o acompanhamento espiritual e na educação cristã das crianças através da catequese e da participação nos demais Sacramentos.

Serginho Valle

Agosto 2025

 

Playlist BATISMO –

https://www.youtube.com/playlist?list=PL0h4xujwJqhmKKT4lcxrOwRtx2rfN5iro 

19 de set. de 2025

Quando o povo reza com o corpo: piedade popular em diálogo com a liturgia


A fé que nasce do coração do povo

A piedade popular é uma riqueza. Papa Francisco diz que é “o modo como a fé se expressa espontaneamente no coração do povo” [EG, 122]. Ela aparece nos gestos simples: a promessa, a vela acesa, a flor diante do altar, a romaria ao santuário... São formas afetivas de se aproximar de Jesus, de Nossa Senhora, dos santos, santas e dos anjos.

O Concílio Vaticano II lembra que a Igreja acolhe essas expressões, mas também as ilumina, para que não caiam em superstição [SC 13]. Ou seja: a Igreja não rejeita, mas acompanha e valoriza.

O corpo que reza 
Na piedade popular não se reza só com palavras. O corpo inteiro participa:  

  • o peregrino caminha quilômetros;
  • alguém sobe de joelhos até o altar;
  • outros levantam os braços
  • muitos desejam tocar imagens sagradas
  • há aqueles que se paramentam para cantar e rezar

É a fé vivida pelos cinco sentidos. O cheiro da vela, o som do cântico, a cor das flores, o toque nas paredes do santuário. Como dizia Santo Agostinho: “quando o corpo serve à alma que ama a Deus, ali já existe um culto verdadeiro” [Cidade de Deus, X,6].

A força da promessa 
Promessas fazem parte da experiência psicológica da fé. É como se fosse um “contrato espiritual”: a pessoa pede uma graça e oferece algo em troca — um gesto, um sacrifício, uma caminhada. Essa entrega pacifica o coração. O corpo se cansa e a alma encontra paz. Não se faz barganha com Deus, se agradece com um esforço a mais.

Na prática, é o povo transformando o cotidiano em oração. É a vida real, com suas dores e esperanças, se tornando espaço de encontro com Deus.

Liturgia e piedade popular: não são inimigas
A Liturgia da Igreja é diferente. Ela é calma, silenciosa, centrada no Mistério Pascal. Nela, o essencial é o gesto de Cristo que se faz presente nos sacramentos. A Liturgia pede sobriedade e simbolismo, não sacrifícios pesados.

Mas isso não significa oposição. Pelo contrário: a piedade popular pode levar à Liturgia, e a Liturgia pode purificar e orientar a piedade popular. João Paulo II dizia: “a piedade popular, se for bem orientada, é um autêntico exercício da fé” [RM 52].

Um exemplo simples: a romaria que termina com a celebração da Penitência e da Eucaristia. O caminho popular conduz ao altar, e a celebração sacramental dá sentido mais profundo ao gesto.

O desafio pastoral
A missão da Igreja não é apagar a piedade popular, mas iluminá-la. O Documento de Aparecida recorda que ela é um “lugar teológico” [DA 263], onde o povo experimenta Deus na sua forma simples e concreta de viver.

Flores vivas, velas verdadeiras, imagens que podem ser tocadas: tudo isso fala de autenticidade manifestada pelos sentidos. É o rezar com os cinco sentidos. O povo tem dificuldade em rezar com coisas artificiais. Ele precisa ver, sentir, tocar. É a fé encarnada.

Conclusão
Liturgia e piedade popular são duas linguagens diferentes da mesma fé. Uma mais sóbria, outra mais afetiva e sensorial. Juntas e orientadas para a Liturgia sempre produz enriquecimento espiritual.

A piedade popular abre caminhos, aquece os corações, mobiliza os sentidos. A Liturgia mergulha no Mistério e fortalece a comunhão com Cristo. Uma conduz à outra e ambas favorecem o crescimento espiritual de viver próximo de Deus e com Deus.

No fim, tudo se resume a isto: o povo que reza com o corpo e com o coração está buscando a Deus. E a Igreja, como mãe, acolhe, orienta e conduz cada gesto, cada promessa, cada celebração, para o encontro pleno com Jesus.

Serginho Valle 
Setembro de 2025

 

5 de jul. de 2025

Ministério do leitorato e espiritualidade


Ministério do leitorato e espiritualidade

O Ministério do Leitorato, a pessoa que se dedica a proclamar a Palavra na Liturgia em celebrações litúrgicas é alguém que está em contato mais íntimo com a Palavra de Deus. Assim, ao menos, deveria ser. 

Existem modos e modos de se estar em contato com a Palavra de Deus e com finalidades diferentes: estudo, conhecimento, curiosidade, oração… Entre esses modos e finalidades está o contato com a Palavra para fortalecer o crescimento espiritual. 

Isto serve para todos os cristãos e cristãs, mas tem um diferencial, tem uma espécie de necessidade, para quem atua no ministério do leitorato.

Em comunidades que não têm uma Pastoral Litúrgica organizada, e isso se reflete na ausência do Ministério do Leitorato, a maior parte dos leitores e leitoras só entra em contato com a Palavra que irá proclamar minutos antes da Missa. 

Ou nem isso, pela impossibilidade do tempo, pois são escolhidos poucos minutos antes da Missa começar. Já vi padre convidando algum voluntário para “fazer a leitura”. São atitudes de comunidades, como dizia, sem a PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial) (leia mais em https://liturgiasal.blogspot.com/2025/02/planejamento-da-pastoral-liturgica.html ) que tratam a Liturgia da Palavra de modo despreparado e desrespeitoso. 

Quando se valoriza a Palavra com aquilo que é, Palavra de Deus, quando se tem consciência de que se trata de “Palavra de Deus”, o tratamento é diferenciado especialmente para quem se dispõe a proclamar a “Palavra de Deus” na comunidade durante uma celebração litúrgica.

Como já tenho abordado esse tema do respeito à “Palavra de Deus” em outros artigos, gostaria de chamar sua atenção para a oportunidade que o Ministério do Leitorato oferece a quem é escolhido (eleito) para ser leitor e leitora da Palavra na Liturgia. 

Penso da oportunidade de se alimentar espiritualmente da “Palavra de Deus” e, em vez de apenas “fazer a leitura” na Missa, como dizia aquele padre convidando um voluntário. 

Estou falando da oportunidade de tornar o contato através do conhecimento da leitura que proclamará na Missa ou em outra celebração, tomar contato dedicando um tempo de meditação, de oração daquele perícope antes da proclamação. 

Não resta dúvida que se trata de uma fonte riquíssima de crescimento espiritual. Este é o melhor modo de se preparar para proclamar a “Palavra de Deus” na assembleia litúrgica da comunidade. 

É importantíssimo proclamar bem a Palavra (leitura), mas não é o suficiente para quem exerce ou para quem foi instituído no Ministério do Leitorado.

A Palavra alimenta a vida espiritual

O que estou propondo tem a ver com a alimentação da vida espiritual. Nesse sentido, o leitor e a leitora são privilegiados em considerar a Palavra como alimento da vida espiritual pessoal. Aproveitar essa oportunidade de “preparar as leituras” alimentando a sua vida espiritual com a Palavra que proclamará na assembleia.  

A espiritualidade no Ministério do Leitorato consiste em acolher na vida pessoal a Palavra que irá proclamar para pensar como Deus pensa e, para isso é necessário ruminar sua Palavra no coração e na mente. 

Quer dizer: ler, acolher, ruminar e partilhar a Palavra na assembleia pela proclamação. O movimento espiritual consiste em colocar a “Palavra de Deus” no coração antes de proclamá-la na assembleia a ponto de ser luz existencial na vida do cristão e cristã.  

Uma vez que a Palavra está no coração do leitor e da leitora, ele poderá se tornar semeador dessa Palavra. — Como um semeador por semear a semente se ele não tem as sementes consigo? 

Como um leitor ou leitora poderá semear a Palavra se não coloca sementes da Palavra no seu coração? É esse um viés importante a ser considerado na espiritualidade de quem se dedica ao Ministério do Leitorato.

São João da Cruz, que figura como referência entre os maiores místicos cristãos, tem um ensinamento que diz: "O Pai pronunciou uma Palavra, que é o seu Filho e sempre a repete num eterno silêncio; por isso é no silêncio e em silêncio que ela deve ser ouvida dentro da alma". 

É assim que o santo místico se expressa na sua obra “Palavra de luz e amor”. Serve como orientação para o crescimento da vida espiritual de quem exercer o Leitorato na comunidade paroquial: preparar-se para proclamar a Palavra lendo-a, meditando-a e rezando-a no silêncio do seu quarto (Mt 6,6).

A vida espiritual acontece em quem faz experiência pessoal com Deus e esta experiência realiza-se pelo acolhimento da Palavra, particularmente do Evangelho. 

É o relato da experiência do autor da Carta aos Hebreus: “pois a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais afiada que qualquer espada de dois gumes; ela penetra até o ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e julga os pensamentos e as intenções do coração.” (Hb 4,12)

Penetra, corta, atinge a profundidade da vida pessoal. É a experiência da meditação da Palavra que o leitor e a leitura, pacientemente, vão realizando em suas vidas. 

Disso a importância de leitores e leitoras que exerçam o Ministério do Leitorato como quem tem experiência da Palavra pela meditação e pelo cultivo da Palavra na vida pessoal.  

 A vida espiritual do leitor e da leitora 

A experiência da Palavra pela meditação, pela oração, pelo estudo, pela ruminação da parte de quem exerce o ministério do leitorato vai se deparar com um fato que precisa ser considerado, em relação à espiritualidade: a alteridade

Nós, homens e mulheres, precisamos da Palavra para criar comunhão de alteridade, de contato com o outro. Em relação a Deus, é o contrário. Deus precisa silêncio para falar e ser ouvido no silêncio secretíssimo da consciência. 

A Gaudium et Spes diz: “a consciência é o centro mais secreto e o santuário do homem, no qual se encontra a sós com Deus, cuja voz se faz ouvir na intimidade do seu ser(GS 16)

O tempo de preparação de uma leitura que será proclamada na assembleia litúrgica da comunidade deve (deveria) ser momento de encontro profundamente pessoal com Deus no “sacrário da consciência”. Momento que alimenta a vida espiritual do leitor e da leitora.

Entendemos isso a partir da experiência de Elias, que precisa silenciar para sentir a brisa suave da Palavra tocando seu rosto, abrindo seus olhos para ver a estrada que deveria seguir antes de continuar seu ministério profético de anunciar a Palavra. 

Esta é uma experiência da transcendência da Palavra de Deus (1Rs 19,11-13). A Palavra sempre produz frutos quando semeada e acolhida silenciosamente, como diz a profecia de Isaías (Is 55,10-11)

É também Palavra para ser ouvida silenciosamente, acolhendo a ação espiritual do Espírito Santo em forma carismática para o bem de toda a comunidade. 

Nesse sentido, a preparação das leituras da parte do leitor e da leitora deveria ser um tempo privilegiado a ponto de ser uma experiência de Deus, que considera a necessidade do silêncio e do silenciamento total para ouvir a voz divina. 

Nada disso é possível em comunidades sem estrutura e sem organização de PLP (Pastoral Litúrgica Paroquial), pois funcionam no improviso.

Deus é silencioso  

Em uma aula de Teologia Dogmática, na minha juventude, meu professor, Pe. José Knob, scj, propôs uma reflexão sobre a passagem de Isaías que define Deus como "abscondidus" - "Deus abscondindus es" — “vere tu es Deus absconditus Deus Israel, salvator” — O texto da Bíblia Ave Maria traduz: “Verdadeiramente Deus se esconde em tua casa, o Deus de Israel, um Deus que salva!” (Is 45,15).

Gosto da tradução “Um Deus se esconde em tua casa” porque com ela posso dizer ao leitor e à leitora que prepara a leitura em sua casa que Deus está ali escondido, revelando-se e entrando em conversa com o leitor e a leitora na meditação e na oração silenciosa preparando-se para proclamar a leitura na assembleia litúrgica.

A imagem mais dramática e, por isso, a mais eloquente do silêncio de Deus, é a de Jesus pendente na Cruz, totalmente silencioso e silenciado. Na Cruz, Jesus é o Deus calado, o Deus totalmente silencioso. 

Diante do silêncio de Deus, na Cruz, os místicos interrogam: este silêncio divino revela a ausência ou a essência de Deus? Revela a essência divina, especialmente na experiência humana do sofrimento. 

É a experiência humana do salmista sofredor que entra em contato com Deus no silêncio. Ele diz: "por isso meu coração está em paz " (Sl 46,1-3). É o coração pacificado de quem aprendeu a meditar e ruminar no silêncio a Palavra de Deus. 

Este é um coração preparado para proclamar e partilhar a Palavra de Deus com seus irmãos e irmãs na assembleia litúrgica.

O balbucio divino 

Nas minhas fichas de leitura, encontrei uma que anotava sobre o silêncio que transcrevo para partilhar contigo a experiência de Deus balbuciando no silêncio. 

A ficha é um texto de F. Julien. No original em italiano: "Ogni cosa si trasforma in silenzio" — “cada coisa se transforma silenciosamente” —. Traduzo livremente: "Na natureza não se ouvem os rios escavar seus leitos ou o vento modelar os cimos das montanhas, mas foram eles que desenharam, pouco a pouco, os relevos que temos diante dos olhos e formaram as paisagens. (...). Da mesma forma não percebemos que nossos filhos crescem; ou nós mesmos que envelhecemos (...). Aquilo que, num tempo pensávamos impossível, ou que nem mesmo imaginávamos, é o resultado desse acontecimento silencioso que, a bem da verdade, não podemos nos opor: apenas admirar."  

O texto é poético, é uma inspiração profunda do autor para compreender como o silêncio modela a vida sem que percebamos. Se esta modelação for realizada com a Palavra de Deus, agindo silenciosamente no coração de quem recebeu a graça do Ministério do Leitorato então entendemos que ser leitor e ser leitora num ato litúrgico é muito mais que “fazer uma leitura”, é ter a oportunidade de ser  envolvido pelo silêncio da Palavra e crescer na sua vida espiritual.  

Assim trabalha, silenciosamente, a Palavra de Deus num coração silencioso e silenciado. “Palavra de Deus”, que a maior parte de nosso povo só ouve na Liturgia, mas que os leitores e leitoras têm a oportunidade, por dever de ofício, digamos assim, de acolhê-la, ruminá-la, rezar e vivenciar em sua vida pessoal pelo crescimento da espiritualidade.

Serginho Valle 
Julho 2025

 



22 de jun. de 2025

Celebrar a Liturgia do Batismo


O contato com a Liturgia, em contexto formativo, na maior parte, é dedicado à Liturgia Eucarística. Poucos se dedicam a aprofundar a celebração litúrgicas dos demais Sacramentos e Sacramentais. Foi pensando nisso que o canal LECTIO LITURGICA, no Youtube, passou a dedicar vídeos à Liturgia de Sacramentos e Sacramentais.

Não se trata de um ou dois vídeos, são playlists com vários vídeos considerando a Teologia, a Espiritualidade, a simbologia e os ritos nas celebrações dos Sacramentos e Sacramentais. A proposta é alargar o campo da formação litúrgica de algo que é natural, mas nem sempre valorizado porque o olhar está voltado quase que unicamente para a celebração Eucarística. Trata-se de um aceno para valorizar o universo litúrgico celebrado nos Sacramentos e nos Sacramentais.

 

Os vídeos da LECTIO LITURGICA têm a finalidade de ajudar a compreender que a PLP — Pastoral Litúrgica Paroquial — não restringe suas atividades na preparação de Missas, mas abrange tudo que se refere à Liturgia da Paróquia e, evidentemente, é onde nos deparamos com as celebrações litúrgicas dos Sacramentos e Sacramentais.

 

Neste primeiro momento vou me dedicar à Liturgia do Batismo.

 

Ritual do Batismo de Crianças

Vamos iniciar o contato com a Liturgia do Batismo pelo Ritual. Quando se fala de Ritual (com R maiúsculo), entende-se o Livro Litúrgico que contém os ritos que compõem uma celebração sacramental. A exceção é o Livro Litúrgico da Missa, que Missal, e o Livro Litúrgico das Ordenações, o Pontifical.

 

Durante séculos, a Igreja celebrou o Batismo com Ritual do Batismo para Adultos, independe se o batizado era de adulto ou de crianças. Durante séculos, as crianças eram batizadas com o mesmo Ritual destinado ao Batismo de adultos. Não se fazia distinção entre Batismo de adultos e Batismo de crianças. O Ritual era o mesmo. Foi somente a partir do Concílio Vaticano II (1963) que a Igreja deu um passo importante, criando um Ritual específico para o Batismo das crianças e um Ritual próprio para o Batismo de Adultos.

 

Nas orientações celebrativas, do Ritual de Trento — assim passou a ser chamado o Ritual antes do Vaticano II — não havia espaço para a participação dos pais e padrinhos, por exemplo. Primeiro, porque o Ritual era totalmente redigido em Latim, língua que somente o padre conhecia. Causa, pela qual, ele celebrava o Batismo sozinho e todos participavam escutando um língua estranha, incompreensível; a celebração era monopolizada pelo padre.

 

A partir de 1969, com a promulgação do novo Ritual do Batismo das Crianças, a celebração litúrgica do Batismo de crianças ganhou um rosto mais humano, acolhedor e profundamente pastoral. Cada gesto, cada palavra, cada símbolo passou a considerar a presença da família, dos pais, em primeiro lugar, mas também dos avós, dos tios e dos amigos que participam da celebração do Batismo. A celebração deixou de ser apenas a audiência de uma língua estranha para tornar-se uma verdadeira celebração, celebrada pela comunidade reunida, com a participação dos pais, familiares e amigos.


Concluindo...

Tem um detalhe que precisa ser acrescentado. Com a publicação do Ritual do Batismo de Crianças, os batizados não se transformam em celebração exclusiva que reúne apenas familiares e amigos. É uma celebração de toda a Igreja e, por isso toda a comunidade é convidada a participar. Para isso acontecer, a PLP – Pastoral Litúrgica Paroquial – precisa contar com Equipes de Celebrações para Batizados realizados na paróquia.

Sobre estes temas, do Ritual do Batismo para Crianças e as Equipes de Celebrações do Batismo, na paróquia, recomendo assistir dois vídeos do canal LECTIO LITURGICA. Basta clicar nos links abaixo.

Dois rituais para o Batismo — https://youtu.be/vsdpgI_bAik 
Equipe de celebração do Batismo — https://youtu.be/LAV3nyIl9FQ

 

Serginho Valle 


Junho 2025

15 de mar. de 2025

Quaresma e Campanha da Fraternidade


A Quaresma é um período importante para os cristãos, um tempo de reflexão, conversão e renovação espiritual. Uma das propostas da Igreja, nesse contexto, é a Campanha da Fraternidade, que busca ressaltar a responsabilidade social do cristão. Tal proposta, contudo, nem sempre é bem acolhida pela dificuldade de relacionar a religião com questões sociais.

Para muitos, a religião é algo a ser vivido dentro da Igreja, sem impacto direto nas questões sociais e cotidianas. É uma visão em desacordo com a Doutrina Social da Igreja que, como ensinava Papa Bento XVI em sua mensagem de Quaresma de 2006, a Quaresma é um tempo para alinhar o nosso olhar com o olhar de Jesus Cristo; olhar para o mundo com compaixão e promover um desenvolvimento integral da pessoa e da sociedade com os valores do Evangelho. A proposta da Igreja, com a Campanha da Fraternidade, consiste em ajudar católicos e católicas e, em caso de Campanhas de Fraternidade ecumênica, ajudar os cristãos e cristãs a ter o mesmo olhar compassivo de Jesus diante do povo que é agredido por alguma questão social.

As celebrações litúrgicas, especialmente a Eucaristia e o Sacramento da Penitência, nos ajudam a adotar esse olhar de Jesus sobre as necessidades sociais, como suplica a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias IV, na versão da 2ª edição do Missal Romano: "Dai-nos olhos para ver as necessidades de nossos irmãos e irmãs." Esses olhos não são os olhos de interesse ou de indiferença; refere-se ao olhar como Jesus olhava para a multidão – com misericórdia, e não com julgamentos.

A tradução proposta pela 3ª edição do Missal Romano, intercede para que os olhos sejam abertos a fim de “perceber as necessidades dos irmãos e irmãs (...)” e conclui a súplica intercedendo a graça de a Igreja ser “testemunha viva da verdade e da liberdade, da justiça e da paz” que, entende-se, em vista de uma sociedade solidariamente fraterna. Neste sentido, a Liturgia, em sua dimensão evangelizadora, propõe aos celebrantes ler os sinais dos tempos com os mesmos critérios e valores do Evangelho para a convivência social, como diz a Oração Eucarística para Diversas Circunstâncias III, onde se suplica: “Fazei que todos os fiéis da Igreja, discernindo os sinais dos tempos à luz da fé, empenhem-se coerentemente no serviço do Evangelho.”

Com tais pressupostos, compreende-se que a Campanha da Fraternidade não é uma campanha política ou ideológica. Ela tem inspiração religiosa, cristã, que se inspira diretamente no olhar de Jesus. É um convite para que cada cristão seja mais sensível e compassivo às necessidades de seus irmãos e irmãs, especialmente aqueles que enfrentam consequências das injustiças sociais. Por isso, a Campanha da Fraternidade é uma oportunidade para viver a fé de maneira mais concreta, acolhendo os desafios sociais e promovendo o amor que Jesus nos ensinou.

A Igreja dentro da sociedade

A Igreja, ao se inserir na sociedade, corre o risco de ser influenciada por ideologias políticas, que, muitas vezes, se apresentam de forma sutil, capazes tentar e desviar a finalidade do projeto evangelizador da Igreja. As ideologias, quando entram em uma comunidade eclesial, agridem e dividem e, como todas as ideologias, sem condições de oferecer soluções e, na maior parte das vezes, usando a miséria e a desigualdade social para manipular. A Campanha da Fraternidade, no contexto da dimensão evangelizadora da Liturgia, tem a função de ajudar os celebrantes a perceber o pecado de ideologias que manipulam e impedem e, às vezes, até matam a dignidade da vida humana em muitos setores da sociedade.

 

A Igreja, como instituição, jamais pode se envolver com partidos políticos, uma vez que se guia pela Doutrina Social da Igreja, que tem como base o Evangelho e busca defender a dignidade humana em todas as esferas da vida social. A Campanha da Fraternidade, que ocorre durante a Quaresma, pretende ser uma oportunidade de iluminar a realidade social à luz do Evangelho, sem se deixar instrumentalizar politicamente. A Igreja não é uma bolha que vive na sociedade como se não pertencesse à sociedade, ao contrário, vive na sociedade como fermento (Mt 13,33), como sal da terra e como luz do mundo (Mt 5,13).

 

A espiritualidade da Quaresma

A Quaresma é um tempo de conversão que não se limita à transformação pessoal, mas propõe também a conversão eclesial e social. A Igreja renova sua consciência da necessidade de conversão. Também a sociedade é necessitada de conversão para que a semente do Evangelho seja semeada em terra boa e não em terrenos impropriados (Mt 13,38ss). Neste sentido, a Campanha da Fraternidade, não julga a sociedade, mas convida a Igreja, convida os celebrantes, a ser cultivador do terreno social onde lançar a semente boa do Evangelho para que produza frutos. Esta é uma dimensão importante da espiritualidade da Quaresma em vista da conversão pessoal, eclesial e social.

 

A Igreja, ao se engajar com as questões sociais, adota o olhar de Jesus sobre a realidade do mundo, especialmente sobre os mais pobres e marginalizados sociais. A espiritualidade da Quaresma, representada pelo deserto e pelo silêncio, convida os cristãos a refletirem sobre a vida e a realidade social, buscando, com os olhos de Cristo, uma verdadeira mudança que também afete a sociedade, como pede Papa Francisco tratando da Nova Evangelização. Por isso, a Quaresma não é um tempo somente para pequenas penitências pessoais, é um momento favorável de renovação social, no qual os cristãos se empenham em ações de caridade e solidariedade. Este é um dos propósitos da Campanha da Fraternidade.

 

Práticas quaresmais e conversão social

A Quaresma também é um tempo de práticas espirituais que visam a conversão não só pessoal, mas também social, como proposto acima. As práticas de oração, penitência e caridade não devem ser limitadas a gestos e atitudes unicamente de esforço pessoal, como acontece com a privação de algum hábito (deixar de beber álcool, não assistir filmes, não comer doce...) mas devem ser dirigidas para a transformação da sociedade. Fazer um esforço para o bem comum proposto pela Campanha da Fraternidade. Neste ano de 2025, por exemplo, o esforço do cuidado da “casa comum” através da ecologia integral.

 

A espiritualidade quaresmal da Liturgia não pode ser isolada do contexto social, mas propõe a luz do Evangelho sobre as injustiças e as desigualdades sociais, como no caso da depredação ecológica, tema da Campanha da Fraternidade de 2025. O compromisso com a caridade social deve ser concreto, com ações que promovam a justiça e a dignidade humana, e não se reduzir a ideologias ou políticas partidárias.

 

Conclusão:

Com a finalidade de aprofundar este tema, gravei uma catequese litúrgica publicada no meu canal de Youtube — Lectio Liturgica —, que você acesse pelo endereço https://youtu.be/jl8B3BUvkAM  

 

É uma catequese litúrgica, na qual desenvolvo o tema de modo mais aprofundado com a metodologia catequética para refletir e compreender como a Igreja entende a necessidade e os motivos para realizar a Campanha da Fraternidade no tempo da Quaresma.

 

A verdadeira conversão que a Quaresma pede é aquela que transforma a vida pessoal, a vida eclesial e a comunidade social em um compromisso com a justiça, a solidariedade e a dignidade humana à luz do Evangelho.

Serginho Valle 
Março de 2025