
Do
ponto de vista estrutural, o rito da apresentação das oferendas é realizado com
duas orações principais, quais duas pilastras que sustentam e dão sentido ao
rito. As duas orações são idênticas, seja na estrutura literária como na
estrutura ritual. São dois "benditos" que agradecem os dons do
pão e do vinho, ao mesmo tempo que intercedem a graça de se tornarem alimento e
bebida da Salvação.
Do
ponto de vista ritual são benditos e, enquanto tal, trata-se de uma benção
ascendente, que vai da Igreja para Deus. Não uma benção de graças derramadas
sobre quem as recebe, mas uma "ação de graças" dirigidas a Deus pelos
dons recebidos da terra e frutos do trabalho humano.
Bendito
do pão e do vinho
“Bendito sejais, Senhor, Deus do
universo, pelo pão (vinho) que recebemos de vossa bondade, fruto da terra ( da
videira) e do trabalho humano, que agora vos apresentamos e para nós se vai
tornar pão da vida (vinho da salvação)”.
Os
dois benditos partem do principio teológico e professa a fé em Deus criador de
tudo: criador da terra que fornece o alimento humano. Neste sentido, Deus é o
primeiro oferente. Na terra que produz o alimento, Deus se apresenta como
oferente da vida para que o homem e mulher possam viver. Um bendito que também
se fundamenta no conceito que a terra é dom divino para que toda espécie de
vida possa viver. No conceito Teológico de Deus criador, toda a vida existente
na terra encontra-se presente nas oferendas da Igreja. A oração faz referência
a Deus oferente quando diz que tudo recebemos da bondade divina.
O
segundo elemento da oração é o trabalho humano. O pão e o vinho não nascem do
acaso, são frutos do trabalho realizado pelo homem e pela mulher. É o conceito
teológico da colaboração humana no cultivo e no cuidado da terra, proposta
feita no livro do Genesis. Outro elemento presente no “bendito” é o conceito da
dignidade do trabalho, meio pelo qual o homem torna-se humanamente digno de
apresentar suas oferendas diante de Deus pois realiza o mandato do Deus criador
para cuidar e cultivar a terra, para viver alimentando-se do trabalho das
próprias mãos (Gn 3,19; Sl 128,2). Assim, o que é apresentado ao Pai para ser
consagrado, nos símbolos do pão e do vinho, contém a dignidade do trabalho
humano enquanto obediência no cultivo da terra para que todos possam dela se
alimentar. Entende-se que o desemprego coloca o ser humano em condição indigna
e, de outro lado, a preguiça é um pecado pela negativa de participar do cultivo
da terra em solidariedade a todos.
O
resultado da apresentação dos dons — em nenhum momento fala de oferecimento ou
de ofertório — é a transformação do pão e do vinho em Corpo e Sangue de Jesus
Cristo. O termo "que vos
apresentamos" indica a atitude da Igreja de não oferecer ou ofertar
pão e vinho, mas de apenas apresentar. Colocam os seus dons diante do Pai para
que ele os consagre. A oferta da Igreja não é o pão de o vinho, mas aquilo no
qual o pão e o vinho serão transformados. A oferta da Igreja ao Pai é o Corpo e
o Sangue de Jesus; a vida de Jesus. Sobre isso trataremos mais detalhadamente
em outra ocasião.
Oração
na preparação do vinho
Uma
pequena oração suplicante, pela qual — de modo insistente — a Igreja intercede a
participação da humanidade no dom do vinho que está sendo apresentado ao
Pai. O desejo da Igreja, diz a oração, é a participação dos
celebrantes na divindade de Jesus. É uma intercessão pelo dom da santidade
divina na vida pessoal. Esta intercessão tem a resposta positiva no momento da
comunhão Eucarística, quando a vida divina é comungada pela vida humana.
É
uma prece bem simples, recitada em silêncio pelo padre (uma secreta), que se
inspira na Teologia do "divinum commercium",
Teologia dos Padres da Igreja que contempla a encarnação de Jesus, assumindo a
humanidade, para que pudéssemos receber e participar da divindade. O
“commercium” (a troca): nós oferecemos a humanidade para a encarnação e
recebemos de Deus a sua divindade.
Secreta na
preparação e apresentação das oferendas
A
secreta (oração que o presidente da celebração reza silenciosamente diante de
Deus) é rezada depois da preparação e apresentação dos dons.
Uma
das finalidades desta secreta, além de colocar o sacerdote em clima de oração
pessoal, é preparar o coração do padre para o grande momento de ação de graças
(Oração Eucarística), que é sacrifical e, por ser sacrifical, é
ofertorial. Não tanto por aquilo que diz a oração, mas para que o padre
entre no silencio sagrado, condição necessária para apresentar a grande ação de
graças da Igreja, na Oração Eucarística.
Diz a oração
secreta:
“De coração contrito e humilde,
sejamos, Senhor, acolhidos por vós; e seja o nosso sacrifício de tal modo
oferecido que vos agrade, Senhor, nosso Deus.”
O
primeiro elemento da oração consiste em apresentar-se diante se Deus com o
coração humilde. Isto faz parte da escola de oração de toda a Bíblia, como encontrado
e muitos salmos e orações rituais de apresentação das oferendas a Deus. A
humildade, portanto, como condição para se apresentar diante de Deus com as
oferendas.
O
segundo elemento presente na oração é a dimensão do exercício sacerdotal. A
Bíblia e a Teologia do sacerdócio o definem como oferente, aquele que oferece
um sacrifício diante de Deus. Isto está presente na Carta aos Hebreus, quando
diz que Jesus, o Sumo Sacerdote do Novo Testamento, entrou uma vez para sempre
no santuário para oferecer o seu sacrifício ao Pai (Hb 9,11-12). A oração
secreta como que conduz o padre para dentro do santuário divino onde ele
intercede a Deus em nome de todo o povo, para que as oferendas da Igreja,
reunida naquela assembléia litúrgica, sejam acolhidas pelo Pai.
Por
fim, um terceiro elemento, expresso no desejo que o sacrifício (o pão e o
vinho), preparados e colocados pela Igreja diante de Deus seja agradável. A
condição para ser agradável consiste na qualidade do pão e do vinho. Não na
qualidade física, evidentemente, mas na qualidade que o torna santificado pelo
modo como a comunidade vive o Evangelho e caminha nas estradas do discipulado.
Lavabo
O lavabo é um rito simples, pelo qual
o padre lava suas mãos rezando a seguinte oração: “lavai-me, Senhor, de minhas faltas e purificai-me de meus pecados”.
Como comentei em outra oportunidade, o lavabo
transformou-se de gesto prático para rito purificador, conforme expresso na
oração. Houve uma espiritualização do rito. Gesto prático porque, na
antiguidade, até meados do século X, segundo alguns autores, as oferendas eram
apresentadas ao padre e este as tocava com as mãos. Como a maior parte das
oferendas eram em forma de alimento para serem distribuídos aos pobres, o padre
sujava as mãos ao tocar nas oferendas e, por isso, antes de apresentar as
oferendas precisava lavar as mãos. Entende-se que a colocação deste rito
acontecia antes da preparação e apresentação das oferendas. Primeiro recebia-se
as oferendas, depois eram apresentados os dons do pão e do vinho.
No atual contexto celebrativo, a oração define a
necessidade de “coração e de mãos limpas”, sinais da integridade sacerdotal
para apresentar as oferendas a Deus em nome da Igreja.
Orate fratres
“Orai, irmãos e irmãs,
para que nosso sacrifício seja
aceito
por Deus Pai todo-poderoso”.
Concluída a preparação e apresentação das oferendas, o
padre convida os celebrantes a rezarem com ele para que o sacrifício que foi
preparado e apresentado ao Pai seja aceito. É um rito que pede o reforço orante
da assembléia para que Deus aceite o que foi preparado a apresentado diante
dele, mas é também um modo de participar na apresentação das oferendas diante
de Deus.
A fórmula que reproduzimos acima é a mais simples e a
mais comum. O Missal apresenta outras três fórmulas mais elaboradas. Isto deve
servir de incentivo para que o padre faça o mesmo convite servindo-se do
contexto celebrativo ou inspirando-se na Palavra proclamada na celebração. É bom
lembrar que se trata de um convite, de onde a necessidade de ser objetivamente
breve.
Coletas
ofertoriais
A conclusão dos ritos ofertoriais acontece com uma oração
coleta, que suplica o acolhimento das oferendas da Igreja a Deus Pai. São orações
com conteúdos fundamentados na Sagrada Escritura, ou na Teologia Eucarística e
ou ainda na Teologia dos diferentes tempos litúrgicos da Igreja.
Serginho Valle
2017
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