
A
incensação sempre existiu nos mais diferentes cultos e
cerimônias religiosos. Os historiadores da Liturgia anotam que a incensação
passou a fazer parte da Liturgia cristã por volta do século IV, quando já não
havia mais um grande risco de confusão com o paganismo. É um típico
exemplo de aculturação ritual com um sentido novo, inspirando-se particularmente
na Bíblia. Por isso, do ponto de vista litúrgico, seria equivocado considerar
que o rito da incensação tenha origem no paganismo. Sim, é verdade que a incensação
era usada em ritos pagãos, mas o fundamento para o uso da incensação na
nossa Liturgia, encontra-se na Bíblia.
Muitas
são as passagens Bíblicas que se referem ao uso do incenso, especialmente
no Antigo Testamento. É em tais passagens Bíblicas que encontramos o sentido da
incensação nos ritos litúrgicos cristãos. É, portanto, nos mesmos textos que
encontramos o significado do louvor, da ação de graças, da oração silenciosa e
perfumada que sobe para o alto, até junto de Deus. Em Ex 30,7-9 está uma
prescrição de queimar incenso continuamente diante do Senhor. Vários textos do
Antigo Testamento fazem referência a esta prescrição. Mas, o sentido litúrgico
do rito da incensação na preparação e apresentação das oferendas, está no Novo
Testamento, no livro do Apocalipse. Ali, o incenso é apresentado como oferenda
agradável diante de Deus porque oferecida pela santidade dos corações que
adoram o Senhor (Ap 5,8), com uma referência clara ao Sl 141,2: “que minha oração suba à tua presença como
incenso, a elevação das minhas mãos como sacrifício da tarde”.
Merece
destaque especial a referência mais clara quanto ao sentido do uso do incenso
na apresentação das oferendas, presente em Ap 8,3-4. Diz o texto: “E veio um outro anjo que se colocou perto
do altar, com um turíbulo de ouro. Ele recebeu uma grande quantidade de
incenso, para oferecê-lo com as orações de todos os santos, no altar de ouro
que está diante do trono. E da mão do anjo subia até Deus a fumaça do incenso
com as orações dos santos.” Um texto que mostra como a Igreja deseja que as
oferendas apresentadas no altar sejam acolhidas por Deus: com a oração de todos
os santos, aqueles que já vivem na glória e, nós, que oferecemos o sacrifício
da Eucaristia. De onde a conclusão do rito com o convite reforçativo do “orate
fratres” (orai, irmãos).
Do
ponto de vista da comunicação litúrgica, como dito acima, a incensação comunica
uma mensagem de solenidade à celebração. É um daqueles ritos que vem
de uma tradição antiquíssima da Igreja, mas que não perde sua
atualidade. Como a comunicação litúrgica lida com a arte de celebrar, a incensação
é um rito que expressa a arte de uma celebração solene para comunicar aos
celebrantes o respeito solene diante das oferendas apresentadas ao Pai sobre o
altar.
Sempre
do ponto de vista da comunicação litúrgica, o rito da incensação é cênico, isto
significa que é realizado num contexto de
comunicação gestual simbólica. De onde a necessidade de que
seja feito cm arte e com classe.
O
rito da incensação
O
rito da incensação consta da preparação do turibulo, colocando incenso sobre a
brasa acesa. Depois de abençoado, o turiferário entrega o turíbulo ao
presidente da celebração para que este incense primeiramente as oferendas,
depois o altar, circulando ao redor do mesmo, concluindo com a incensação do
padre e da assembléia celebrante. Tanto o padre como a assembléia
celebrante tornam-se oferentes, isto é, participantes e comungantes na oração
dos santos, como diz o texto do Apocalipse citado acima. São perfumados pela
oração da santidade da Igreja que já vive na glória celeste e pela santidade da
Igreja reunida na oferenda do seu sacrifício de pão, vinho e água.
Serginho Valle
2017
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