
O desafio é grande, de
modo especial quando se confunde celebração litúrgica com cantorias ou ritos
“extra celebrativas” suplicando milagres, com celebrações matrimoniais que são
verdadeiros teatros, com mutirões de confissões divulgadores de uma mensagem de
desobrigação moral e não compromisso moral; e algumas aberrações que vemos e
ouvimos. São desafios e, ao mesmo tempo, evidências que ainda existe um caminho
longo a ser feito para que a Liturgia seja fonte e escola da espiritualidade
cristã na vida de nossas comunidades.
Mas, como podemos tornar
nossas celebrações fonte e escola da espiritualidade cristã? Em algumas
comunidades existe todo um caminho a ser aberto e explorado; em outras
comunidades, haverá a necessidade de rever o modo de celebrar; pode ser que
algumas comunidades necessitem dedicar tempos para estudos, cursos,
laboratórios... Cada realidade com suas exigências. Vou sugerir três
passos.
1º Passo:
equipes de celebrações com espiritualidade
O 1º passo da Pastoral
Litúrgica Paroquial, coordenada pela Equipe Litúrgica, é formar equipes de
celebrações com pessoas que já tenham experiência no caminho da
espiritualidade. Estou dizendo que as equipes de celebrações não deveriam ser
formadas por pessoas que aparecem de vez em quando ou que sejam “laçadas”
minutos antes de a celebração começar.
Que sentido tem, por
exemplo, escolher alguém para proclamar uma leitura se ele vem à Missa por
hábito religioso? Outro exemplo. Que espiritualidade poderá passar uma banda de
músicos profissionais que nunca vão à igreja para nada, mas são contratados
para “abrilhantar a celebração”? Ninguém poderá dar daquilo que não está no
coração. Se um leitor não tem a Palavra de Deus no seu coração, se não a vive,
se não a medita antes de ler, dificilmente ele a comunicará bem. Poderá ler
bem, mas não passará de uma peça de oratória. O mesmo serve para os músicos, se
ali vão só para tocar: podem cantar e tocar muito bem, mas não passará de uma
apresentação.
O 1º passo consiste em
formar equipes de celebrações com pessoas cultivadoras da espiritualidade
cristã; que aprenderam a beber sua espiritualidade na fonte da Liturgia e nela
se formaram. Difícil encontrar? Então tenho uma segunda pergunta: como sua
comunidade está celebrando?
2º passo:
refletir e preparar a celebração
O 2º passo tem a ver
com as celebrações que sejam fonte e escola da espiritualidade cristã na vida
dos celebrantes. Para isso, a preparação das celebrações com pessoas — que
formam as equipes de celebrações — que caminham nos caminhos da espiritualidade
cristã. Preparar uma celebração não é distribuir funções, é ser capaz de
oferecer “copos” para que os celebrantes bebam da fonte espiritual da Liturgia
antes de a celebração começar.
Dentro desse cenário
não existe espaço para a improvisação, para exercício de ministérios tapa
buracos que cumprem formalidades celebrativas e em nada ajudam os celebrantes
no crescimento espiritual cristão. Vamos nos questionar: como um padre poderá
ajudar no crescimento espiritual do seu povo se, minutos antes de iniciar a
Missa, na procissão de entrada, pergunta: “qual será o Evangelho de hoje?” Como
uma equipe de celebração poderá ajudar no crescimento espiritual do povo, se a
mesma é formada minutos antes da Missa?
São sintomas graves e
extremos da improvisação, indicativos de pouco cuidado para com a celebração
litúrgica da comunidade e de total desinteresse para que as mesmas sejam fonte
e escola da espiritualidade cristã na comunidade.
3º passo:
criar um itinerário espiritual
Fazer com que as
celebrações sejam fonte do crescimento da espiritualidade do povo. Aliás,
trata-se da fonte mais autêntica, uma vez que se fundamenta no próprio Mistério
Pascal de Cristo. Este é um grande desafio para uma Pastoral Litúrgica
Paroquial eficiente e produtiva. Por isso, a importância de criar um itinerário
espiritual, fazendo com que as celebrações dominicais, de modo especial, sejam
como que passos que, pouco a pouco, ajudem os celebrantes a caminhar no projeto
do Reino. De modo mistagógico, este é um meio de ajudar os celebrantes a entrar
no mistério celebrado, a beber este mistério e a transforma-lo em vida, no seu
modo de ser e de agir na sociedade. É uma espiritualidade que evangeliza pelo
processo mistagógico, formadora do discipulado.
Esta é a noção de
espiritualidade que está subjacente na vida cristã que brota da Liturgia. A
espiritualidade litúrgica não fala da grandeza Eucarística em tons
sentimentalistas, por exemplo, mas incentiva à grandeza Eucarística pela
prática da vida cristã. A beleza da Eucaristia produz frutos, como lemos na
parábola da videira (Jo 15,1-8).
A celebração litúrgica é
o local, por excelência, no qual o Espírito Santo age na vida concreta de cada
celebrante. Cada celebração, de modo especial na dinâmica pedagógica do Ano
Litúrgico das Missas Dominicais, o celebrante aprende a agir como Deus, aprende
a viver com o mesmo Espírito inspirador da vida de Jesus Cristo (Lc 4,14-21).
Neste sentido, a despedida da Missa não deveria ser, “ide em paz’, mas “Vão e
façam o que o Espírito inspirou na vida de cada um”.
Conclusão
O desafio da Pastoral Litúrgica
Paroquial, na proposta de fomentar a espiritualidade litúrgica, não deveria
recair em como fazer celebrações atrativas, embora isso tenha seu mérito, mas
em como celebrar a vida cristã favorecendo o ingresso e o crescimento dos
celebrantes na espiritualidade do Evangelho.
Serginho Valle
Junho de 2021
0 comentários:
Postar um comentário
Participe. Deixe seu comentário aqui.