Outro dia, numa conversa com leigos, um deles
comentou um fato que eu não sei definir se inquietante ou preocupante. Talvez o
segundo adjetivo qualifique melhor aquela história ou, quem sabe, unindo os
dois tenhamos um resultado mais realista do fato. Eram leigos de diversas
comunidades e cada um deles dizia ter conhecimento de fatos semelhantes, o que
faz aumentar a inquietação.
Aconteceu com uma banda musical que
exercia o ministério da música numa comunidade. Tocavam mal e alto. Um dia, o
padre os chamou e, com muita caridade, fez ver que o trabalho deles era importante,
mas do jeito que estava sendo feito, sem se prepararem devidamente, nunca
ensaiando as canções e escolhendo músicas em cima da hora dificultava o caminho
que a Pastoral Litúrgica da comunidade estava fazendo. Eles protestaram e
queriam bater boca com o padre. Educado e acostumado a conversar, o padre os
ouviu e pediu que repensassem seu modo de agir, porque a Liturgia merece o
melhor.
Como a tática do bate boca não
funcionou, porque o padre lhes mostrou, com dados inquestionáveis, que eles não
estavam bem neste serviço litúrgico, eles apelaram e desafiaram o padre: “ou a
gente toca do jeito que a gente quer ou ninguém mais toca nesta Missa”. O padre
ponderou que não é assim que funciona a coisa e fez ver que eles não eram os
donos da missa. A proposta era outra: exercer o ministério da música como a Pastoral
Litúrgica da comunidade estabelecera para todos os ministérios. Depois daquela
conversa, o pessoal da banda disse que não queria mais saber da Igreja e da
comunidade e foram embora, alguns, inclusive, foram para uma Igreja evangélica,
concluiu o leigo.
Outro participante do grupo disse
que algo semelhante havia acontecido com uma catequista da comunidade, outro
emendou e falou que um ministro da distribuição da comunhão também deixou a
Igreja por um desentendimento, outro falou de um Leitor que não escolhia
trabalho e porque alguém lhe disse que precisava participar mais da preparação
das Missas, não gostou e sumiu. Com casos assim, a conversa se estendeu por um
bom tempo. No final, um deles questionava sobre o que essa gente tinha na
cabeça para agir assim. Uma senhora, muito simples, ponderou: “eu acho que tem
coisas demais na cabeça e pouco Jesus no coração”. Acertou! De fato, quem
abandona o projeto de Jesus e abandona a Igreja porque não pode fazer do jeito
que quer, demonstra ter pouco Evangelho no coração. As pastorais e, em especial
a Pastoral Litúrgica exige respeito às normas da Igreja e harmonia para que o
trabalho alcance seus objetivos. Celebração litúrgica não é palco.
Lembrei-me dessas conversas,
preparando-me para refletir sobre Ministérios Litúrgicos. Muitos trabalham na
Igreja, dedicam-se à comunidade, mas ainda não transformaram a vida em
Evangelho; ainda não se alimentaram o bastante de Jesus Cristo a ponto de
buscar o que é bom para todos. É uma análise dura, mas não deixa de ser
realista. É o exemplo daqueles discípulos de Jesus que conheciam sua doutrina,
mas se negavam a alimentar-se da vida do Cristo e foram embora (Jo 6,66).
(Francisco Régis)
Tudo isso tem a ver com educação litúrgica. Quando se sabe o que significa Liturgia e o que é celebração, tudo fica mais fácil.
ResponderExcluirComo a senhora disse: "coisas demais na cabeça e pouco Jesus no coração".
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