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Mostrando postagens de 2018

Pregações apocalípticas e medo

Já tive oportunidade de refletir neste espaço sobre a escolha evangelizadora que privilegia ameaças e medo nas pregações. Refiro-me a pregadores que, na falta de argumentos consistentes, preferem apelar para castigos e anúncios destruidores que acontecerão no final dos tempos. Tais pregadores seguem a lei do menor esforço: em vez de anunciar um Evangelho — uma boa notícia — e o compromisso que este traz consigo, anunciam o medo, o que pode transformar-se em “má notícia”. Configuram kerigma, alegre anúncio de uma boa nova, a ameaças de destruições apocalípticas, no sentido dado ao termo em nossos dias. Em vez de incentivarem a confiança, insistem no medo da destruição. Um desserviço ao Evangelho.             Estes pregadores seguem o caminho mais fácil porque é cômodo profetizar ameaças e destruição. Agem na base do “avisei; se não quiserem me ouvir, não venham reclamar depois”. Adotam a atitude de quem se coloca num patamar acima...

O valor da Palavra de Deus na Liturgia

O texto de Ne 8,2-10 é um texto base para a Pastoral Litúrgica, especialmente para quem atua no Ministério da Palavra. Um tema decorrente deste texto é a importância da Palavra de Deus na celebração e na assembléia litúrgica. Iluminando-se neste texto, vou considerar quarto temas relativos à importância da Palavra de Deus na celebração Eucarística e nas celebrações dos demais Sacramentos. É útil considerar igualmente como a assembléia respeita a Palavra de Deus: se tem os olhos voltados para os leitores ou, se é uma assembléia cabisbaixa, cada qual concentrado em seu folheto, ou em seu livrete ou, em tempos atuais, em seus celulares com aplicativos da “Missa do Dia” para ler a Palavra individualmente em vez de dedicar-se a ouvir comunitariamente a Palavra.   Dignidade do leitor              Não é qualquer um que pode subir a um lugar mais elevado — ambão — para proclamar a Palavra de Deus na assembléia. O texto de...

Qualidade artística na música litúrgica

A qualidade da música litúrgica tem sido e continua sendo motivo de estudos, principalmente no que respeita às composições e à execução. Quanto às composições, esta comporta a qualidade poética das letras e as qualidades harmônica e melódica. Outro elemento diz respeito à simplicidade da canção em vista de favorecer, não somente sua execução, mas também a participação ativa da assembléia que se identifica com melodias fáceis e poesias orantes. No que respeita à execução, esta comporta mais especificamente aos músicos que harmonizam a canção com seus instrumentos e com a voz, com o modo de cantar e de conduzir a assembléia para que esta participe da canção. Para tais finalidades a Liturgia se serve de orientações propostas pela Igreja. Mas, de nada adianta observar as orientações litúrgicas se a execução musical carecer da parte artística. Arte na composição e arte no modo de executar a música litúrgica na e com a assembléia. A execução do canto litúrgico não se torna mais bonito e...

A Pastoral Litúrgica na realidade social da Paróquia

Em tempos idos, antes do Concílio Vaticano II, para sermos mais pontuais, não havia Pastoral Litúrgica nos moldes como se entende hoje. Existia, contudo, todo um trabalho de promoção de festas religiosas, como aquelas de padroeiros e da piedade popular, regids pelo calendário litúrgico; muitas e variadas eram as manifestações celebrativas inspiradas na piedade popular: procissões, trezenas, novenas, tríduos... Tais eventos movimentavam a comunidade e, pela religião toda a vida social era tocada. Não se pode deixar de reconhecer que se tratava de uma Pastoral Litúrgica, diferente da de nossos dias, mas eficiente e envolvente, que atingia toda a comunidade. Com a perda da centralidade da paróquia, especialmente em cidades de médio e grande portes, estas festas desapareceram ou foram empurradas para os pátios das paróquias. Não apenas perderam espaço, muitas delas perderam principalmente o sentido religioso. Exemplo claro é a festa de São João Batista. De festa religiosa passa a se...

A memória litúrgica de Maria Mater Ecclesiae

Na segunda-feira depois de Pentecostes, em 2018, a Igreja celebrou, pela primeira vez na história, a memória litúrgica “Maria Mater Ecclesiae”, Maria, Mãe da Igreja. Memória obrigatória instituída por Papa Francisco. Uma celebração litúrgica que se apoia na tradição da Igreja, com raízes na Teologia dos Santos Padres e que, mesmo sem constar no Calendário das celebrações da Igreja, estava presente na Tradição litúrgica.             Maria é Mãe da Igreja por aquilo que significa na vida da fé. Muitos padres da Igreja, como Santo Agostinho, Santo Ambrósio, São Leão Magno relacionam a pessoa da Virgem Maria ao Mistério da Redenção, cuja Cruz é o momento alto. O lugar onde a Virgem Mãe, pela fé, permaneceu de pé ao lado de seu Filho. No dia 18 de novembro de 1964, Paulo VI anunciou que, na conclusão da terceira sessão do Concílio Vaticano II, proclamaria Maria Santíssima com o título de “Nossa Senhora Mãe da Igreja”. Papa Francisco...

Liturgia paroquial, fonte da fé

No contexto da Pastoral Litúrgica, a Liturgia Paroquial é uma das principais fontes da fé. Vale lembrar que para muitos católicos, a Liturgia é a única fonte nutricional da fé. Uma das funções pastorais, dentre as mais importantes de uma paróquia, é transmitir a fé às novas gerações e alimentar a fé de todos que convivem no território paroquial. Isso acontece com vários meios, como a catequese, cursos, encontros de formação, pastorais, etc... Dentre estas, considero a Liturgia como uma das mais importantes fontes nutricionais da fé. Como a Pastoral Litúrgica Paroquial lida, ou tem consciência, desta importante função é uma das finalidades da minha reflexão. Liturgia paroquial sem departamentos             Sendo a transmissão da fé uma atividade primordial da Igreja, pode-se entender que a paróquia vive em crise quando perde sua função geradora e nutricional da fé. Uma paróquia que se perde na burocracia de documentos ou na pr...

Gratuidade na Pastoral Litúrgica dos Matrimônios

A gratuidade do serviço, na comunidade cristã, é uma marca registrada da paróquia que vive num espaço social, em uma cidade, num bairro. Os serviços comunitários de uma paróquia, ou de uma comunidade, uma capela, por exemplo, nunca terão uma forma de assistência profissional. Não que estes não sejam dignos; claro que são, mas o diferencial do serviço comunitário cristão está na gratuidade. O serviço de numa comunidade eclesial tem a assinatura da caridade cristã, que é sempre gratuita. A imposição de pagamento pela caridade é uma traição do Evangelho.             Assim, quem se dedica a atividades de assistência social, na comunidade cristã, presta um serviço gratuito e na gratuidade, sem exigir pagamento e sem marketing do bem realizado. O silêncio, a não propaganda, faz parte do serviço gratuito: “quando deres esmola, não toques a trombeta (...) que a tua mão esquerda não saiba o que fez a direita” (Mt 6,1-3).   ...

Paramentos e arte litúrgica

Quem acompanha a caminhada de seminaristas sabe que a conclusão do curso de Teologia, em muitos casos, é marcada pela procura e compra dos paramentos. Já presenciei ansiedade exagerada em seminaristas às vésperas de ordenação, preocupados com a compra de seus paramentos. Agitação compreensível, até certo ponto, marcada pela alegria que a proximidade da ordenação provoca em quem vê no sacerdócio a realização de sua vida. Depois de tantos anos trabalhando em seminário maior, é possível prever o estilo do paramento de cada um. O modo de entender a Igreja, a visão teológica e o conceito de Liturgia são refletidos no modo como o padre (e o futuro sacerdote) paramenta-se para presidir as celebrações litúrgicas. Pelo modo de paramentar-se, inclusive, é possível compreender o estilo comunicativo da presidência celebrativa. Não existe nada de novo nisso; a Psicologia social, o estudo antropológico e cultural do vestuário dedica páginas e páginas explicando que a personalidade de cada povo, e...

Palavra de Deus: língua mãe do cristão

Uma das mais importantes consequências do Vaticano II foi devolver, por assim dizer, a Bíblia ao Povo de Deus. Quem viveu e participou dos anos pós-conciliares lembra dos encontros Bíblicos, das tardes ou fins de semana dedicados a cursos de Bíblia em nossas comunidades, dos círculos Bíblicos realizados nos bairros da paróquia. Junto a isso, surgiram as campanhas para comprar Bíblia. Na minha paróquia — São Luiz Gonzaga (Brusque – SC) — foi realizada a campanha: “Uma Bíblia em cada casa”. No contexto litúrgico, nem é preciso dizer que a Liturgia da Palavra, depois da reforma litúrgica do Vaticano II (1964), foi uma das principais responsáveis para a divulgação do conhecimento Bíblico em nossas comunidades. Um fato que exigiu mais dedicação ao estudo da Sagrada Escritura, principalmente da parte dos padres, para que suas homilias tivessem conteúdo e fossem capazes de alimentar a vida espiritual do povo com a Palavra de Deus. Não que antes isso não acontecesse, mas como a Palavra era ...

Lava-pés

Um pouco encurvado, um avental amarrado na cintura, mãos que derramam água para limpar os pés dos outros. Não existe sentimento que fique insensível durante a proclamação do lava-pés, na Missa da Quinta-feira Santa, recordando o gesto de Jesus ao lavar os pés de seus discípulos. O lava-pés era uma cortesia típica das famílias hebraicas, transformado por Jesus em gesto de amor e humildade absolutos. Para melhor compreender o significado, Papa Francisco modificou recentemente o Missal Romano, definindo que, de agora em diante, pode-se escolher todos os membros do povo de Deus para participar do rito do lava-pés; a proposta tem a ver com a inclusão mulheres que, devido a um antigo e descontextualizado conceito, só permitia a participação masculina neste rito. Um costume que, na prática, ao menos aqui no Brasil, era desconsiderado, e com razão. A finalidade, explica a Congregação do Culto Divino, é evitar que o lava-pés se transforme em teatro, mas evidencie a medida desmedida do amor...

Imaculada Conceição

Solenidade litúrgica que celebra Maria, Mãe de Jesus, concebida em pecado, no dia 8 de dezembro. Em vista do Mistério Pascal de Jesus Cristo, por graça especial de Deus, Maria participa do privilégio único de ter sido concebida sem pecado original. Disto a denominação de Imaculada (sem mácula, sem mancha) Conceição (concepção).               Era necessário, sem dúvida, que o Filho de Deus merecesse uma mãe imaculada, quer dizer, sem nenhum pecado desde sua concepção. Por isso, Maria recebeu a plenitude da graça (Lc 1,28), para que pudesse ser a Mãe de Deus. No contexto do projeto divino, é para nós e para nossa Salvação, que Maria nasceu Imaculada desde a sua concepção, segundo o dogma definido por Pio IX, em 1854.             Maria foi especialmente escolhida por Deus para exercer a vocação maternal e a vocação da maternidade, para que o Filho de Deus nascesse plename...

Pastoral litúrgica — Domingos livres para celebrar a fé

A importância pastoral do Ano Litúrgico vale especialmente para o Domingo. Quem atua na Pastoral Litúrgica sabe que o Domingo é um dia sacramental; dia do sacramento da Ressurreição de Jesus atualizado (memorial) na Eucaristia. É também um dia, no qual a vida paroquial se apresenta em toda sua vitalidade. É nos Domingos que a comunidade celebra a Eucaristia, celebra sua vida, celebra seus batizados, os casamentos, em sua grande maioria, são celebrados na véspera do Domingo. No Domingo celebra-se a Crisma, a acolhida de catecúmenos e das crianças, na Primeira Comunhão. Também a catequese e muitos encontros acontecem no Domingo. Jovens e adolescentes se reúnem na comunidade para refletir ou para partilhar a vida cantando ou divertindo-se no espaço da paróquia. Parafraseando o ditado popular: diga-me como vives o Domingo e te direi como é tua comunidade.             Gostaria de chamar sua atenção para a dimensão litúrgica da celebra...