27 de mai. de 2016

Hanc igitur

O termo latino “hanc igitur” encontra-se no início da Oração Eucarística I (Canon Romano) e, mais especificamente, no final da primeira parte desta Prece Eucarística, e é traduzido como “eis a oferenda”. O sacerdote intercede a Deus para que aceite o Sacrifício da Igreja e conceda por meio do sacrifício da Igreja a paz, o livramento da condenação eterna e a Salvação: “Recebei, ó Pai, com bondade, a oferenda dos vossos servos e de toda a vossa família (...) Dai-nos sempre a vossa paz, livrai-nos da condenação eterna e acolhei-nos entre os vossos eleitos.”

Em algumas solenidades aparece intercalado com o memorial que atualiza a celebração, como por exemplo, nos embolismos previstos para a Vigília Pascal até o 2º Domingo da Páscoa. O mesmo acontece para o Domingo de Pentecostes, na Missa do Batismo de um adulto, nas Missas de Ordenações, nas Missas de Matrimônios realizados dentro da Missa, nas Missas do rito da Consagração das Virgens e igualmente nas Missas para as Profissões religiosas e Dedicações de Igrejas.
Dado histórico: o Missal de Pio V (1563) previa a extensão das mãos sobre as oferendas (colocava-se as mãos sobre o cálice com a pala) como gesto de oferecimento do Sacrifício da Igreja e intercessão da bênção celeste ao ser acolhido pelo Pai. Trata-se, em outras palavras (ainda hoje) de um gesto ofertorial dentro da Oração Eucarística. Cumpre dizer que não é o único gesto ofertorial; existem outros gestos ofertoriais no interior da Oração Eucarística, dos quais o mais notório é o “Por Cristo, com Cristo e em Cristo.”

(compilado por SV)

25 de mai. de 2016

Antífonas na celebração Eucarística

A Liturgia da Igreja propõe, no Missal Romano, um formulário próprio para cada celebração Eucarística, que se compõe de duas antífonas — de entrada e de comunhão — e três coletas: a oração do dia, a oração sobre as oferendas e oração depois da comunhão. Oportunamente, trataremos de cada um destes elementos. No momento, nossa atenção vai para as antífonas.
            Mesmo que o Missal proponha apenas duas antífonas, a Missa comporta outras antífonas, como por exemplo, a antífona aclamatória do Evangelho que, com exceção do Tempo da Quaresma, é iniciada pelo “aleluia”. Nos demais tempos litúrgicos, a cantam-se “antífonas aleluiáticas”. Tem ainda a antífona do rito ofertorial, que não se encontra no Missal, mas em outro livro litúrgico, o Gradual. Outro uso da antífona é no salmo responsorial que, no Brasil, é traduzida como refrão, quando deveria ser entendida como antífona responsorial. A Missa, portanto, tem cinco antífonas: de entrada, do salmo responsorial, da aclamação ao Evangelho, das ofertas e da comunhão.

História
            As antífonas são usadas desde a antiguidade cristã. A maior parte do antifonário católico é composta por um versículo Bíblico, muitos deles escolhidos dos salmos, mas também com versículos de outros Livros da Sagrada Escritura. Na antífona de comunhão, por exemplo, um bom número encontra inspiração no Evangelho, fazendo assim o papel de ponte entre a Mesa da Palavra e a Mesa da Eucaristia. Aliás, seria interessante que as antífonas de comunhão sempre se inspirassem no Evangelho do dia para haver essa sintonização entre as duas Mesas, da Palavra e da Eucarística. Esta é, portanto, uma característica da antífona: ser proposta na forma de um versículo Bíblico, uma frase ou um pensamento extraído do Livro Santo.
            Em algumas Missas, a antífona é formada com uma frase que resume o sentido da celebração. Na antiguidade, as antífonas eram usadas nas Liturgias como um verso bíblico a ser repetido pela assembléia celebrante. O salmista, portanto, cantava a antífona, e esta era repetida pelos celebrantes. É o que nós fazemos em nossas celebrações Eucarísticas aqui no Brasil, no canto do Salmo responsorial. Mas, nada se prescreve em contrário, que a procissão de entrada seja cantada com um salmo e a assembléia participe com uma antífona responsorial, como aliás, é feito nas atuais Missas Pontificais do Vaticano. Hoje, no Brasil, muitos cantos de comunhão seguem o mesmo princípio antifonal, com uma frase do Evangelho dominical que dá sentido ao rito da comunhão.
            Em tempos idos, a antífona indicava também o “tom do salmo”, quer dizer, a frase melódica do salmo, com qual melodia este deveria ser cantado. Uma prática muito usada, ainda hoje, na Liturgia das Horas.

Função celebrativa
            Existe grande escassez de estudos (ao menos no Brasil) quanto à função celebrativa da antífona. A maior parte das comunidades sequer as conhece e muitos desconhecem sua função. Por isso, simplesmente a ignoram e não lhe fazem uso. Para entender sua função celebrativa, especialmente na Missa (foco desse texto), lembramos que todas as orações (exceto aquelas dos fiéis, embora nem sempre sejam exceção) proclamadas na celebração Eucarística (especialmente as coletas e os Prefácios) tem fundamentação ou inspiração na Bíblia. A partir deste princípio, entende-se que a antífona tenha a função de sintonizar os celebrantes com um pensamento bíblico desde o primeiro movimento celebrativo, que é a procissão inicial. Por isso, do ponto de vista da espiritualidade litúrgica, as antífonas deveriam ser móveis, com a possibilidade de serem escolhidas a partir da Liturgia da Palavra. O fato de estarem no Missal passa uma idéia de que obrigatoriamente devem ser usadas as prescritas no formulário de cada Missa. Quanto a isso, a Instrução do Missal Romano orienta a necessidade da aprovação da Conferência Episcopal (IGMR 392).
            Outra função das antífonas é seu aspecto exortativo. Neste sentido as antífonas funcionam como uma monição ou, se quiserem, um modo de chamar atenção, acendendo nos celebrantes uma luz Bíblica, para que possam entrar na celebração com pensamentos da Palavra de Deus. Não se trata de uma monição como as sugeridas em diferentes momentos celebrativos, mas uma espécie de memória bíblica cantada, que acompanha o rito processional do canto de entrada e, no caso da comunhão, do canto de comunhão. A CNBB e os músicos conhecedores de Liturgia fizeram um bom trabalho nesse sentido, propondo a antífona de entrada e de comunhão nos respectivos ritos. Em resumo, entende-se a monição como um modo de introduzir os celebrantes no contexto ritual a partir de uma iluminação bíblica, que é a da antífona.

IGMR 48 e IGMR 87
            Sobre as orientações das antífonas, vamos considerar dois números da Instrução Geral do Missal Romano (IGMR). A IGMR 48 refere-se ao contexto dos Ritos Iniciais, quanto ao canto inicial, mais especificamente: “O canto é executado alternadamente pelo grupo de cantores e pelo povo, ou pelo cantor e pelo povo, ou só pelo grupo de cantores. Pode-se usar a antífona com seu salmo, do Gradual romano ou do Gradual simples, ou então outro canto condizente com a ação sagrada e com a índole do dia ou do tempo, cujo texto tenha sido aprovado pela Conferência dos Bispos. Não havendo canto à entrada, a antífona proposta no Missal é recitada pelos fiéis, ou por alguns deles, ou pelo leitor; ou então, pelo próprio sacerdote, que também pode adaptá-la a modo de exortação inicial”.
            O texto explica que o rito processional que inicia a celebração poderá ser feito com uma canção ou com o uso da antífona com seu salmo. Quer dizer, existem antífonas e salmos próprios para os ritos da celebração, como é o caso da procissão inicial, que se encontra no Livro Litúrgico chamado “Gradual Romano” ou “Gradual Simples” (simplex). O que mais interessa é a segunda parte do texto, quando orienta que a antífona, além de servir como recitativo que acompanha a procissão inicial, pode ser usada como monição (exortação) inicial. O padre, portanto, pode se servir da antífona, como fonte de inspiração, para convidar os celebrantes a se sintonizarem com o Mistério que será celebrado na Eucaristia. O texto da IGMR 87 repete praticamente o que já está proposto na IGMR 48, mas desta vez orientando quanto ao rito de comunhão. O final da IGMR 87 diz: “Não havendo canto, a antífona proposta no Missal pode ser recitada pelos fiéis, por alguns dentre eles ou pelo leitor, ou então pelo próprio sacerdote, depois de ter comungado, antes de distribuir a Comunhão aos fiéis.”
            Chama atenção o fato que a orientação se refere à proclamação da antífona antes da comunhão dos fiéis. Claro que isso tem sua finalidade: contextualizar os celebrantes com o rito, no qual irão participar através de um pensamento Bíblico, proveniente preferencialmente da Liturgia da Palavra. De onde, novamente, a conveniência que a mesma mantivesse uma relação com a Mesa da Palavra.

Conclusão
            As antífonas representam uma fonte totalmente aberta a serem exploradas ritualmente nas celebrações Eucarísticas, em vista de um contexto espiritual, no qual a celebração vem contextualizada.

Serginho Valle

20 de mai. de 2016

Calendário litúrgico

Calendário, palavra de origem grega – “kalein” – que significa publicar, tornar pública alguma data a ser comemorada ou celebrada. Esta publicação acontecia, na antiguidade, no primeiro dia de cada mês, quando se publicavam a festas a serem comemoradas no decorrer daquele mês. Os latinos chamavam este primeiro mês de “calendae”. Quando as “calendae” tornaram-se escritas, tal registro tomou o nome de “calendarium”, o mesmo nome adotado pelos cristãos para registrar as suas festas e celebrações, no decorrer do ano.
As “calendae” (calendas), portanto eram os primeiros dias de cada mês, para os romanos. Era considerado igualmente, o “dia da convocação”, “dia dos pagamentos”. A palavra “calo”, em latim, é traduzida para o português como “chamar”, “convocar”, “convidar”. Por isso, o calendário era considerado também o “livro das convocações para o acerto de contas”. Dia que se pagavam as dívidas contraídas no decorrer do mês.
            O Calendário Litúrgico, por sua vez, é a agenda anual das diversas convocações da assembléia cristã. Cada celebração é uma convocação da Igreja, um convite da Igreja para um momento celebrativo, na e da comunidade eclesial.
            Em sua estrutura, o Calendário Litúrgico é formado pelo Tempo Natalino, Tempo Pascal e Tempo Comum. Tem ainda o Santoral, que indica as celebrações — o “Dies Natalis” — dos santos e santas. “Dies natalis” (dia do nascimento), porque no Calendário Litúrgico celebramos a morte dos santos e santas como nascimento definitivo para Deus. O Calendário Litúrgico contém também as celebrações do Mistério de Cristo, como por exemplo, a Transfiguração, e aquelas celebrações marianas, dedicadas a Nossa Senhora.
            Existem também os Calendários Litúrgicos Particulares, próprios de uma Igreja local (Diocese) que contempla as comemorações da Dedicação da Catedral, por exemplo, e os santos patronos diocesanos. O Calendário Litúrgico Particular pode ser também próprio de uma Congregação religiosa ou de uma Ordem religiosa, registrando as celebrações dos santos e santas de uma Congregação ou de uma Ordem religiosa.
            Na Igreja latina (que segue o rito latino), o calendário litúrgico está organizado num compêndio (um verdadeiro livro) denominado “Diretório da Liturgia”, que antigamente se denominava “Directorium divini offici” (Diretório dos ofícios divinos). Tal compêndio indica as celebrações a serem realizadas em cada dia e as informações próprias para cada celebração, que vai desde a cor dos paramentos a serem usadas, as possibilidades celebrativas, quando existem memórias facultativas ou particulares, por exemplo, se a celebração comporta a recitação do glória e do credo... o “Diretório Litúrgico, é publicado anualmente com uma nova edição, disponível antes do início do Tempo do Advento, início do Ano Litúrgico cristão.

(SV)

18 de mai. de 2016

Graça e a paz

A celebração da Eucaristia tem um modo próprio de saudar as pessoas. Em vez de dizer bom dia, boa tarde, boa noite, usa saudações bíblicas. Se um dia você tiver oportunidade de ter em mãos um Missal, observe que todas as saudações do início da Missa são feitas com palavras da Sagrada Escritura. Hoje, com o aprofundamento da teologia litúrgica, a saudação inicial inspira-se na Liturgia da Palavra, especialmente nas leituras do Novo Testamento.
            A maior parte das saudações vem das cartas de São Paulo, com as mesmas palavras que ele usava para saudar seus destinatários. As saudações expressam paz, amor, graça, bondade. Desde o início da Missa, portanto, a Igreja faz votos que a presença dos dons divinos, que a graça divina, se façam presentes na assembléia e no coração de cada celebrante. Por isso, saudações como bom dia, boa tarde, sejam bem-vindos... são formas educadas da saudação social, mas pouco litúrgicas, as quais se caracterizam em saudar e acolher os celebrantes com votos vindos da Palavra de Deus. Claro que isso pode ser feito, no momento do acolhimento dos celebrantes, por exemplo ou, no momento da ambientação ou do comentário inicial.
            Realizar a saudação com votos formulados pela Palavra de Deus é muito mais que desejar um bom dia, ou uma boa tarde, ou uma boa noite. Basta estar um pouco atento às palavras da saudação inicial para compreender que estamos desejando paz, graça, presença de Deus na assembléia celebrante e na vida de quem está participando da celebração Eucarística. Uma coisa a mais, que precisa ser considerada. A saudação inicial expressa também a saudação de toda a Igreja. É a Igreja, Povo de Deus e Corpo de Cristo, que acolhe e deseja a todos os presentes na assembléia litúrgica a graça, a paz e a presença de Deus em suas vidas.
            Tem ainda um aspecto que é interessante a ser considerado. A saudação inicial tem a finalidade de acolher todos os celebrantes. Duas coisas podem ser ressaltadas desse aspecto. Primeiro, que a acolhida não é feita somente em base a uma saudação formal, que usamos no nosso dia-dia. A acolhida é feita com a própria Palavra de Deus, como procuramos expressar acima. Em termos litúrgicos, trata-se de um rito de acolhimento. O padre que preside acolhe quem se faz presente na celebração Eucarística com a própria Palavra Sagrada da Bíblia.
            Do ponto de vista comunicativo, sendo uma saudação de acolhimento, esta deveria expressar espontaneidade e não ser uma leitura formal de uma frase escrita no Missal ou, pior ainda, no folheto litúrgico.
Serginho Valle


13 de mai. de 2016

De pé

Ficar ou estar de pé é a posição natural do homem (“homo erectus”, diz o latim). No meio da criação, a posição do estar de pé é sinal de nobreza, de distinção entre todas as criaturas. Antigos textos dizem que o olhar humano, por estar de pé, domina a terra e se eleva para os céus. A parábola do fariseu e publicano descreve a atitude orante de quem se coloca diante de Deus para rezar: de pé, mas sem erguer os olhos para o alto (Lc 18,10-13). Ou seja, mesmo de pé, o homem e a mulher sabem que não estão a altura de Deus, embora reconheça que, graças a encarnação, podem olhar  e contemplar os olhos divinos olhando nos olhos de Jesus Cristo. O estar de pé, na celebração litúrgica é um gesto (ou uma atitude) que simboliza a posição de quem está vivo e ressuscitado, participante da ressurreição de Jesus, pelo Batismo (Rm 6,3-5).
            O gesto litúrgico do “estar de pé” é também um momento para evocar o desejo humano de elevar as mãos, durante a oração, e mostrar o coração a Deus. Quando rezamos na celebração litúrgica, abrimos os braços para que Deus veja nosso coração. Assim faz o padre que preside as celebrações litúrgicas sempre que se coloca diante de Deus para interceder pelo povo. Assim, espontaneamente, o povo introduziu o gesto de abrir os braços em vários momentos celebrativos, como no Pai nosso, por exemplo.
O estar de pé é a principal atitude celebrativa, que não se limita ao momento celebrativo, mas está presente no celebrante que se dispõe ao envio. É um gesto de prontidão para participar das procissões (entrada, ofertas e comunhão, na Eucaristia, mas também nas procissões celebrativas realizadas nos ritos batismais, por exemplo). É, como dizia, um gesto de quem de coloca respeitosamente diante de Deus, disponível para participar da missão decorrente de cada celebração litúrgica. Expressa, pois, a prontidão dos celebrantes para ir ao encontro de Deus, em atitude de humildade, e com a disposição de quem se propõe a acolher o envio evangelizador, que acontece no final de todas as celebrações.

Serginho Valle

11 de mai. de 2016

Presidir a Missa com a assembléia

São mais de 50 anos que o padre preside a celebração da Missa voltado para o povo. Assim, demonstram várias fontes históricas, era no início da Igreja, depois mudou. Por um bom período, a Missa era celebrada pelo padre, no altar, não de frente para a assembleia, mas de frente para o altar. Na celebração da Missa, antes da reforma litúrgica, em alguns ritos, o padre voltava-se para a assembléia a saudava, convidava à oração e fazia a homilia.
            Para quem está chegando agora e para a geração dos que completam até 40 anos de idade, ver o padre voltado para a assembléia é a coisa mais natural do mundo. No início, quando a Liturgia retomou o modo original de celebrar a Eucaristia, com o presidente de frente para a assembléia, muita gente deixou de ir à Missa. E ainda hoje, tem gente que não aceita este modo de celebrar a Eucaristia. Querem que o padre não olhe para o povo, mas com o povo esteja voltado para o altar.
            A celebração da Missa com o padre de frente para a assembléia retoma o modo original de celebrar, nos primeiros tempos da Igreja e se fundamenta em razões teológicas. Do ponto de vista pastoral, demonstra que está diante da assembléia para exercer um ministério: prestar o serviço de presidir a assembléia celebrativa com a comunidade. A Constituição litúrgica Sacrosanctum Concilium fundamenta teologicamente tal serviço dizendo que Cristo está presente no padre que preside a assembléia (SC 7). Isso significa que o padre é sacramento, é sinal de Cristo presidindo a Eucaristia, pois age “in persona Christi”. No rito de Pio V, todos, inclusive o padre, se voltam para o altar. No rito de Paulo VI, que usamos atualmente, todos, inclusive o padre, se reúne ao redor do altar. Muda a direção, mas não muda a essência teológica da celebração.
            No atual rito de Paulo VI, o espaço ocupado pelo padre na Missa é de estar diante da assembléia, e também como parte da assembléia, reunida em torno do altar, que é Jesus Cristo. Existem momentos que o padre está no meio do povo e momentos, como na Eucaristia, que ele é chamado a servir seu povo, estando na frente da assembléia litúrgica. Este é um motivo forte para entender que o padre não é o “dono da Missa”, mas aquele que preside a Missa. A Missa é sempre da Igreja, reunida em assembléia celebrativa e assembléia eucarística, isto é, uma assembléia de ação de graças. Na celebração Eucarística o padre é um servidor e um sinal da presença do Cristo que, como em Emaús, partilha o pão e o vinho na parada que fazemos em nossa caminhada. Como em Emaús, o padre representa Jesus partilhando o pão e o vinho eucaristizados, sentados na mesma mesa; um voltado para o outro.
            Os padres precisam ter consciência do seu ministério na Missa. Ter consciência que estão diante da assembléia não como animadores de auditório, nem artistas que se apresentam a uma platéia e muito menos para cumprir uma obrigação profissional, como se fossem profissionais da religião. O padre precisa ser bom na arte de comunicar para favorecer uma participação ativa e consciente, rezando, ouvindo a Palavra e animando o caminho no discipulado. Quando o padre entende que estar na frente da assembléia é convite para transformar o presbitério em palco, então a Missa é colocada em segundo plano, o padre deixa de exercer seu ministério de serviço presidencial. Do ponto de vista da Teologia Litúrgica, o padre não foi ordenado para ser apresentador da Missa, mas seu presidente, aquele que a preside com o povo e para o povo, que é a Igreja reunida em assembléia celebrativa.
Serginho Valle



6 de mai. de 2016

IGMR 37 - Ritos independentes e acompanhamento de ritos

Por fim, dentre as outras fórmulas:
a) algumas constituem um rito ou ato independente, como o hino do Glória, o salmo responsorial, o Aleluia e o versículo antes do Evangelho, o Sanctus, a aclamação da anamnese e o canto depois da Comunhão;
b) algumas, porém, acompanham um rito, tais como o canto da entrada, das oferendas, da fração (Agnus Dei) e da Comunhão.
(IGMR 37)

            Na celebração da Missa, a Instrução Geral do Missal Romano, destaca duas espécies de ritos: aqueles denominados de independentes e aqueles que acompanham algum rito, como descrito no n. 37.
Independentes, como se deduz pela palavra, são os ritos próprios que não dependem de outros ritos, e são celebrados dentro de outros ritos. A IGMR 37 define que tais ritos são: hino do glória, salmo responsorial, aclamação ao Evangelho (composto pelo aleluia ou refrão e uma antífona), o Sanctus, a aclamação da anamnese (“Eis o Mistério da fé!”) e o canto depois da comunhão.
Isto significa que o canto do glória, por exemplo, é um rito definido pela Igreja composto por uma canção com uma poesia proposta pela Igreja, pela qual a Igreja glorifica o Pai. O mesmo vale para os demais ritos, inclusive o Sanctus: uma poesia proposta pela Igreja, mas com palavras da Sagrada Escritura que pode ser cantado ou recitado. Como norma, não se substitui tais ritos por outros, como canções de louvações no momento do rito da glorificação, e canções nem sempre litúrgicas no hino do Sanctus. É a Igreja que canta naquele momento. As propostas de cantos de glorificação diferentes daquela presente no Missal, como usamos no Brasil, precisam de aprovação eclesiástica. Por isso, substituir o glória por uma canção qualquer não é litúrgico. O mesmo se diga quanto aos outros ritos independentes, especialmente o Sanctus.
Existe muita polêmica quanto a isso, alegando impedimento à criatividade. Considero o contrário: que isto desafia a criatividade a criar melodias que sejam diferentes, participativas e orantes para uma poesia que não varia, como tem acontecido ao longo dos séculos. Falo de melodia porque todos os ritos independentes caracterizam-se como laudativos, proclamativos ou aclamativos e, por isso cantados com uma poesia definida pela Igreja.
Uma palavra quanto ao “canto depois da comunhão”. A prática indica que seja um canto de ação de graças, com características orantes. Hoje, no Brasil, a maior parte das comunidades está optando por um refrão orante procurando facilitar aos celebrantes ingressar no clima de oração, muito mais facilmente que uma canção mensagem.

Fórmulas que acompanham ritos
            A segunda parte da IGMR 37 fala de fórmulas que acompanham ritos. Poderíamos dizer “canções que acompanham ritos”, pois, a exemplo da primeira parte da IGMR 37, ainda estamos no contexto musical da celebração Eucarística.
            Por acompanharem ritos deduz-se que tais canções estejam diretamente relacionadas ao rito. Isto pode ter caráter pedagógico (para compreender o rito), orante (para rezar no momento do rito) ou de comprometimento (assumir com um compromisso o que se está celebrando).
            Na escolha das canções, portanto, é preciso considerar como a Equipe de Celebração deseja que o celebrante participe do rito. Assim, por exemplo, a canção que acompanha o rito das oferendas pode ser pedagógica, ajudando os celebrantes a compreender uma dimensão ofertorial da vida cristã, presente no rito; pode ser orante, cantando uma oração de oferecimento ou pode ser de compromisso, comprometendo-se a compartilhar a vida, presente nas oferendas.
            Pode-se escolher a canção de entrada com a finalidade de ilustrar o contexto celebrativo da celebração (pedagogia), rezar a procissão até o altar, cantando um salmo ou um refrão orante, ou comprometer-se com a celebração que está sendo iniciada. O mesmo se diga para o canto de comunhão: ajudar a compreender o que se comunga (pedagogia), rezar a comunhão Eucarística (orante) e se comprometer com o que se comungou. Sugeri três dimensões, mas pode haver outras.
            A exceção é feita para o “Agnus Dei” (Cordeiro de Deus), que acompanha o rito da “fractio Panis” (fração do Pão). A letra do “Cordeiro de Deus” é inalterável por ser Bíblica. Segue pois o mesmo critério da oração do Pai nosso, que é inalterável. É uma canção que está unida ao rito da fração do pão ou, dito de outro modo, a fração do pão acontece acompanhada pelo canto do “Cordeiro de Deus”. Não é um canto isolado, como se vê em algumas celebrações, cantada depois do abraço da paz sem a fração do pão, pois o padre partiu o pão durante o abraço da paz.
            Para concluir: por que o canto do abraço da paz não está contemplado em nenhum dos dois aspectos presentes na IGMR 37? Porque não existe canto para o abraço da paz. Trata-se de um rito, no qual os celebrantes dedicam atenção unicamente com aquele que celebra. Por isso, algumas canções, especialmente estas que falam de amizade e coisas do gênero cantadas no momento do abraço da paz estão completamente fora do contexto celebrativo litúrgico. Sobre o abraço da paz e o salmo responsorial, tratarei em outra oportunidade.
Serginho Valle



4 de mai. de 2016

Benzer-se para começar a Missa

“Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. É assim que iniciamos a Missa, depois da procissão de entrada, acompanhada por uma canção. Iniciamos a Missa benzendo-nos, invocando a proteção da Santíssima Trindade sobre cada um, singularmente, e sobre toda a assembléia celebrante.
            A história da Missa conta que nos primeiros tempos, quando a formação ritual da Missa dava os primeiros passos, não se iniciava a Missa com o Sinal da Cruz. No tempo do Concílio Vaticano II (1963), alguns liturgistas que trabalhavam na reforma do Missal chegaram a considerar desnecessário o Sinal da Cruz para iniciar a Missa, uma vez que o início da Missa acontecia na procissão de entrada. Foi Paulo VI que insistiu e pediu que o Sinal da Cruz fosse conservado como rito que segue à procissão de entrada.
            Nós fazemos três vezes o Sinal da Cruz durante a Missa: depois da procissão de entrada, no momento da proclamação do Evangelho e na despedida, na bênção final. O padre faz ainda o Sinal da Cruz sobre o pão e o vinho no momento da Oração Eucarística e, quando proclama a Oração Eucarística I, faz o Sinal da Cruz sobre si mesmo, implorando a bênção divina.
            Na Liturgia Eucarística ortodoxa, é costume fazer o Sinal da Cruz cada vez que se nomeia o nome de Jesus Cristo. Por isso, na “Divina Liturgia” (nome com o qual os ortodoxos designam a Eucaristia), é normal traçar o Sinal da Cruz várias vezes durante a celebração. Na antiga Liturgia Eucarística do nosso Rito Latino também existiam vários momentos nos quais se traçava o Sinal da Cruz. Alguns conservam ainda hoje o hábito de benzer-se no momento da elevação do Pão e do Vinho consagrados, por exemplo. Outros, depois de comungarem iniciam e concluem sua ação de graças pessoal com um Sinal da Cruz. Como vê, tanto no rito litúrgico como na prática pessoal há o costume de benzer-se em vários momentos da Missa.
            O sentido do Sinal da Cruz, no início da Missa, está na invocação, por palavras e pelo gesto, que a assembléia está reunida em nome da Trindade Santíssima. Com esse gesto, cada celebrante invoca a proteção trinitária sobre todo o seu corpo, recordando e renovando a consagração batismal, uma vez que cada celebrante é marcado com o Sinal de Cristo, que é a sua Cruz redentora. Dado o belo significado do gesto, nunca é demais lembrar a necessidade de valorizar esse rito tão simples no início da Missa procurando fazê-lo de modo consciente e bem feito.

Serginho Valle


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