3 de jul. de 2015

Sempre celebramos a vida



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A Liturgia nunca celebra a morte, mas sempre a vida, para que a vida seja eterna, seja plena, seja divinizada em cada vida humana.



            O centro das celebrações litúrgicas é a Ressurreição de Jesus; a vida nova que vem da Ressurreição de Jesus. Por isso, em todas as celebrações sempre celebramos a vida. Mesmo as celebrações exequiais e as Missas para falecidos são celebrações da vida e para a vida. Este é um tema essencial para se compreender a espiritualidade litúrgica, cada vez mais necessária em nossos dias. Ameaças de morte, de diferentes tipos de mortes, rondam nossas vidas devido à crise financeira e à violência. Ameaças com cheiro de morte devido a crises sociais, como o desemprego, que se assemelha a um monstro mortal atemorizando tantas famílias.
            Uma notícia chocante foi lida e ouvida nos meios de comunicação, no ano de 2003: “o suicídio ligado ao desemprego preocupa a França”. O conteúdo descrevia a instabilidade emocional de desempregados, que encontravam no suicídio a solução para seu desespero. A faixa etária mais vulnerável estava entre 24 e 44 anos. Sobre este assunto, um estudo de Christian Larose, então Presidente do Departamento do Conselho Econômico Social da França, revelava que o desemprego, além de abalar a pessoa, é também fonte de desestruturação familiar e um dos principais responsáveis pela maior incidência nas drogas, no álcool e no aumento da agressividade contra a sociedade. Uma relação, na prática, de negação à vida, com a celebração macabra da morte que mata aos poucos, através do alcoolismo e da droga. Uma celebração que ritualiza o desespero por ter matado dentro de si a esperança.
            Não sejamos alarmistas e nem mesmo apocalípticos, mas previdentes, porque existe sim o risco de que o ocorrido na França, em 2003, aconteça entre nós, na atual crise financeira, social e moral pela qual passamos, no Brasil. Quem atua em serviços pastorais e serviços comunitários, tendo contato direto com desempregados, conhece inúmeros casos de pessoas que se perdem no álcool, na droga e provocam desajustes familiares por causa do desemprego. Não deixa de ser uma lenta tentativa de suicídio. Este é um fato que não pode passar desapercebido em nossas celebrações, não somente como alerta, mas como profecia em favor da vida. Nossas celebrações nunca podem ter cheiro de desespero e nem de morte; sempre de esperança e de vida.
            Celebrar a vida, em nossas celebrações litúrgicas, significa denunciar profeticamente a estrutura social egoísta, individualista e pouco solidária, na qual vivemos atualmente. A “espiritualidade social” promove a competição e elimina a possibilidade da partilha fraterna e solidária. Hoje, isto é tão forte que assume ares de guerra: um vence e outro morre de um jeito ou de outro. Ou se mata, ou se morre aos poucos na fuga para o vício, ou no sentimento de inutilidade que atinge tantas pessoas, considerando-se um fracassado para a família e para a comunidade. A espiritualidade litúrgica, presente em nossas celebrações, denuncia este tipo de atitude propondo a fraternidade e a solidariedade, que são caminhos partilhados em favor da vida. Diante de anti-valores provocados pela idolatria, como o egoísmo, individualismo, morte, atentado à vida, violência... a Liturgia celebra a partilha, a vida em comunidade, o valor da vida em todas as idades, o amor e a paz.
A Liturgia, em suas celebrações, nega categoricamente os valores da competitividade que mata ou condena à não viver. Para ser cristão e viver o batismo não bastam conhecer frases bíblicas e rezar, é preciso viver a fraternidade e a solidariedade efetivas, de tal modo que todas as atividades sociais e comunitárias sejam favoráveis à vida de todos, ricos e pobres, crianças, jovens e idosos. E entre estas atividades, encontra-se a força espiritual da defesa da vida, porque Jesus Cristo morreu e ressuscitou para que todos tenham vida plena e digna (Jo 10,10). A comunidade cristã celebra a vida, para que todos tenham vida; tenham condições de viver dignamente, “sem necessitados entre eles” (At 4,34); sem condenados à morte pelo ritmo competitivo que fomenta o egoísmo. A celebração litúrgica autêntica jamais anestesia seus celebrantes dos problemas sociais, ao contrário, incentiva a enfrentá-los espiritualmente fortalecidos com a vida divina, sempre presente na Palavra e no Sacramento celebrados na Liturgia.
(Serginho Valle)

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