Em
todos estes anos de caminhada dedicada à Liturgia sempre me deparei com um
questionamento difícil de ser respondido: como celebrar com os jovens. Muitas
foram as propostas que ouvi, desde aquela que (ingenuamente) considera que a
introdução de músicas com ritmos de sucesso seria capaz de atrair os jovens,
como aquela de tornar a celebração uma aula de aeróbica levantando mãos e
dançando o tempo todo, com pausa para tomar água durante Liturgia da Palavra.
Ouvi também coisas mais sensatas, como por exemplo, tornar as celebrações mais
orantes e, por isso, mas calmas e silenciosas; barulho e música com ritmos de
sucesso os jovens podem encontrar em outros lugares. Pessoalmente, defendo um
conceito: a Liturgia precisa oferecer um espaço alternativo, de qualidade, aos
jovens e isso se consegue celebrando com eles a vida que vivem no tempo da
juventude, iluminando-a com o Evangelho e propondo-lhes uma espiritualidade
feita de alegria.
Chama
atenção, hoje, o sofrimento psicológico de adolescentes e jovens; encontro
muitos deles em meu consultório. Problemas que geram infelicidade e perda da
vontade de viver. Em termos da Logoterapia: perda de sentido da vida.
Adolescentes e jovens que perderam o horizonte da vida e não conhecem nenhuma
direção. Muitas pesquisas apontam que grande parte deles passa o tempo
perambulando, jogando vídeo game ou grudados em seus celulares. Estes jovens são vítimas de uma sociedade,
na qual a abundância de ofertas e as facilidades lhe tira algo muito peculiar
da juventude: o desafio de conquistar valores mais elevados.
Hoje,
ouvimos e vemos propostas pedagógicas totalmente fora de contexto, em termos de
preparar adolescentes e jovens para o futuro. Há alguns anos atrás, por
exemplo, as escolas deveriam distribuir camisinhas e ensinar a fazer sexo
seguro. O resultado é a banalização do sexo, a perversão sexual, e o vício da
sexualidade em inúmeros jovens e adultos. São exemplos de uma educação que
prioriza costumes sem alguma preocupação moral consistente. Uma educação que
facilita conquistar bens de consumo e tem como objetivo obter ganhos, renda
suficiente para comprar tudo o que for necessário para viver confortavelmente e
prazerosamente. Fala sim de valores, mas de valores típicos de uma sociedade espetacular e vinculada à aparência.
As vozes ouvidas são as do supérfluo e as do efêmero. Um movimento
sócio-educativo motivador de idolatrias e da ausência de Deus.
Diante
desse quadro, torna-se mais que urgente propor uma conversão de valores, tanto
em nível individual, como dentro das famílias, não fundamentada em sentimentos
religiosos de auto-ajuda, como tanto se vê hoje em dia, mas que promova um
verdadeiro compromisso de vida, em vista de uma sociedade moldada nos valores
do Reino de Deus. Esta proposta não pode se limitar às celebrações,
evidentemente; a catequese precisa ser altamente objetiva neste sentido. Mas,
as celebrações precisam fazer a sua parte e isto acontece quando a vida é
celebrada com os valores do Reino de Deus. Quando o Evangelho é proposto como
estilo de vida e como caminho para um tempo novo. Quando o processo
comunicativo celebrado liturgicamente falando a linguagem dos jovens. Eis o
maior de todos os desafios: saber comunicar-se liturgicamente denunciando as
idolatrias e propondo o caminho do Evangelho.
As
Equipes de Liturgia e a criatividade das Equipes de Celebrações têm muito a
pensar, refletir sobre este assunto. É preciso criar momentos de estudos, fomentar
debates, favorecer laboratórios, workshops para que isso aconteça ou comece a
acontecer. Não se pode esperar que isso vá acontecer com supostas equipes de
celebrações montadas por telefone na véspera da celebração para marcar leitores
e cantores. O trabalho precisa ser mais eficiente e, para ser eficiente, é
preciso levar a sério as preparações celebrativas. É um trabalho a longo prazo,
um trabalho que, em muitas comunidades precisará começar do zero, um trabalho
que precisa ser feito de modo paciente, admitindo erros, sem nunca se deixar vencer
pelo cansaço. Coragem!
(Serginho Valle)
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